Page 336 - Revista da Armada
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cá, Ulisses, lâo louvado, glória ilustre dos e do outro, a famosa Caribdis traga com qlle 1I!1111 illsfarlle destroçam uma nau, a
Aqllells: delém a /lia 11O!1 para escu/ar a !Im fIIído /errível a ág/la salgada. Qllando despeito dos deuses soberanos. Vá, sub-
nossa voz. Ainda ninguém rumol/ por ela li vomila, lodo o mar se agita, borbu- me/amo-nos à escl/ra noite e preparemos a
aqui m/llw negra lIau sem ter ouvido a voz Ihl/. ("(!/lU! II â~1II1 (lI' lili/li clIlch'im .\"ohre ceia, ficando perlO da rápida 11011; de ma-
de sI/aves sons q!le sai dos nossos lábios; lume forte; a espuma brota alé ao cimo dos dfllgada, embarcaremos e impeliremos a
fie(l-se encantado e nU/is sábio, pois nós escolhos e torna a cair sobre ambos. De- nave para o largo ....
sabemos tudo o qlle na vasta Tr6ade sofre- pois, qllando ela el/gole de IIOVO a ágl/a Assim falou EI/rícolo; os mellS OIl1ros
ram Argivas e Troial/os pela vonlade dos salgada, vemos esta revolver-se toda nas companheiros aprovavam-no. E a partir
de!lses, e sabemos também /!Ido o que suas profundezas; o rochedo qlle a rodeia daí ell cOI1l!eâa os IIIlIles que I/m deus me-
acollfece sobre a terra nlllridora.lI> Elas ruge lerrivelmenre; e por baixo s!lrge 11m ditava. Por isso, elevando a voz, dirigi-
canlaram assim. elevando a SI/a bela voz. fllndo de areia enegrecida. Os meus COl1l- -1/11'.' i'.I"/(I.t pllllll"/"II.\" IIllldll.~: '" Euricolo. (J
E el/ aspirava a escwá-Ias, e ardeI/avo aos panheiros, cheios de pavor, tomavam-se grande a violincia que exerceis .fobre mim,
mells companheiros qlle me soltassem, pálidos. sozinho cO/llra todos. Mas fazei-me em
atravb de /1m movimento das sobrance- N6s olhávamos Caríbdis, 110 IIOSSO re- conjwilo 11m jl/ramemo inviolável: se en-
lhas; porém, inclinados sobre os remos, ceio da morte; nesse momenro Cila arreba- contrarmos I/ma manada de bois 01/ um
ele.f remavam; ao passo que, erg!lendo-se tou seis dos meus homens do imerior da reballho de ovelhas, que nil/guém, por fll-
logo, Perímedes e EI/ríloco me prendiam nau, os melhores pela força dos seus bra- /lesla 10l/cura, mOle um boi ou carneiro;
com nós mais lIumerosos, e os apertavam ços. Quando volvi os olhos para a minha contememo-IIOS em comer as provisões
com IIwis força. Depois, quando deixa- nau ligeira e os meus compatlheiros já não com q!le I/OS abaSleceu a imortal Circe. »
ram para trás as sereias e já não ouvíamos vi senão os seus pés e SilOS mãos levados Eu dizia, e logo os meus homens jura-
I/em a sua voz nem o seu canto, os meus pelo ar: eles grifavam chamando-me pelo ram abster-se, como eu ordenava, do gado
fiéis compallheiros tiraram a cera com que liame 110 angústia dos seus corações, e era divino. Depois, lendo eles prometido e
havia rapado os seus ollvidos e libertaram- li tillill/II I'ez. QIIIIl/llo (lo reb{)rdo dI' 11111 proferido o jllramento de pOllla a ponta,
./11(" 11m 10(11.\'. rochedo um pescador lallça na poma da fundeámos a nave bem co"struida 110 por-
Ao afastarmo-lias da ilha, vi imetliata- sua 10llga cana a isca enganadora aos pei- ro de margens escarpadas, perto de uma
mell/e o vapor de grandes vagas e ollvi o xes pequeI/os e atira ao mar o como de !Im água doce; os meus companheiros desem-
seu estrondo. Os mells homells amedron- boi dos campos, vemo-lo deixar cair sobre barcaram, e prepararam a ceia sabiamen-
taram-se; os remos voaram das SilOS mãos o dlão a sua presa palpitallle; assim palpi- le. Depois de se mitigar o desejo de beber
e estalaram ao caírem todos àflor da água. tavam eles, içados COnlra as pedras, e Cila, e de comer, eles recordaram e choraram os
AI/ave parOI/ ali mesmo, pois as SilOS à porta do seu anlro, devorava-os gritames seus companheiros devorados por Cila,
mâos já não manejavam os remos esguios. e estendendo os braços para mim, 110 sua que os havia arrebatado do fundo da nau.
E eu, indo de lima pomo à Olllra da nau, medonha aflição. É sem dúvida o espectá-
el/corajava os meus companheiros por culo mais angusliante que os meus olhos
meio de doces palavras, colocando-me viram durame a minha tormemosa pesqui- E enqllanto eles choravam, chegou o doce
perto de cada um. «Amigos, não é escassa sa dos caminhos dp mar. sono.
1/ 11O.'·.~1I ('XJlI'ribldl/ di' flrlJ\·II(,k,·. E.~III Emão, quando escapámos aos esco-
desgraça qlle nos ameaça não é certameme lhos, à terrível Caríbdis, a Cila, lião demo-
maior do q!le no momento em qlle o cie/o- rámos rlchegar à admirável ilha do deus.
pe, com Ioda a violência da SilO força, I/OS Ali se el/conrravam os belos bois de larga
conservava fechados no imerjor da sua ca- frome, as numerosas e gordas ovelhas de
vemo. Mas até de lá nos escapámos, gra- Hélio Hiperfon. E eu estava ainda no mar
ças à minha valemia, aos meus cOllselhos alto, a bordo da minha negra nau, e já ou-
e ao meu espírilo, e vós haveis de vos lem- via mugir os bois recolhidos 110 cercado e
brar, julgo ell. Agora, coragem, obedecei balir as ovelhas. Em meu espírito ressurgi-
totlos ao qlle vou dizer: vós, permancelldo ram as palavras do adivinho cego, Tirésias
sentatlos jUllto dos toletes, balei com vos- de Tebas, e as de Circe de Eeia, que lamo
sos remos 1/0 mar, introduzindo-os pro- me haviam recomendado qlle evitasse a
fllndamente; vejamos se porvelltura Zeus ilha de Hélio, o encanrador dos mortais.
nos cOI/cede que escapemos a este perigo Assim, disse aos meus companheiros, de
e qlle I/Osesquivemos à morte. Para ti, pi- coração em ânsias: «Esclltai as minhas pa-
loto, eis as minhas ordens: mete-as bem na lavras, amigos, apesar dos vossos sofri-
cabe~'a, visto qlle seguras o leme da cônca- menlos, a fim de que vos revele as profe-
va nave. Dirige-a por fora daquele vapor cias de Tirésias e de Cime de Eeia, que
e daqllela ondulação; ladeia bem o outro aconselhavam insistememenle a evitar a
escolho, remendo que, sem te dares cOllta, ilha de Hélio, o encanrador dos mortais,
ela saia da' sua linha, .fe lance para lá. e tu /lo!.\· {'Ies 1)((,(li:illlll-lIIe '111(' .,'(' lIblllaill aí
nos precipites 110 desgraça. li> sobre 116s uma pavorosa desgraça. Impeli
Eu dizia, e sem detença eles obedece- emão a negra IIOU para longe da ilha ....
ram às minhas ontens. Eu já não falava de Assim falava eu, e o coração deles con-
Cila, o inevitável flagelo, porqllanlo talvez frangeu-se. Imediatamente ,Eur(/oco me
os meus homens, cedendo ao medo, pa- deli esta terrível resposta: «Es cruel, Ulis-
rassem de remar para se encolherem no ses, a fila força não te abandonou, e os te!IS
fundo da embarcação. E eis que me esq!le- membros de modo algum estão cansados;
cio da penosa recomendação de Circe; ela na verdade, lodo o teu arcaboiço é de fer-
proibira-me de pegar em qualquer das mi- ro. Não permites a teus companheiros, os
nlza.f armas; mas ell, lendo el/vergado a qllais caem de fadiga e de SO//O, que po-
minha gloriosa armadura e empullhado nham pé em terra, lIesta ilha rodeada pelas
dois 100IgOS dardos, fui pos/ar-me sobre o vagas, onde poderíamos cozinhar uma
i·1I.\·'.-I" ri,. pma: doi jUlg.III·O ('11.\"('1"1:01". 111111 ceia suculema; ardeI/as-nos que vamos an-
ela aparecesse, essa Cila do rochedo, arre- tes através da 1I0ite que sobrevém depres-
messaI/do-se para perda dos meus. Mas sa, errando longe da ilha por sobre o mar (.Odisseia,., edição de Publicoç6es
Europa-Américo,
I/ão a aviSfava em parle algllma, e os meus brumoso; é das /loites que nascem os ven- colecção Uvrosdl' Bolso n. Q 260)
olhos cal/saram-se de explorar em lodos os tos violemos, destmidores de nalls; e como
semitlos II rocha enevoema. escapar a uma bfllsca morle, se de súbilO
Naw'glÍJlamos a direito 110 eSlreito, la- se levanlar lima lempeslade, do Noto 011
mentando-nos. De um lado acha-se Cila; do Zéfiro, de sopro furioso, esses vemos ***********
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