Page 339 - Revista da Armada
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o ex-voto marítimo da a utorie de J. B. Debret era . A peça qufJ faltou lt.
ciam a vela que depois resgatavam mediante a entre- mesmo nome, que conduz desse lado à Santa Casa da
ga do dinheiro angariado no peditório. Este costume Misericórdia ao pé do morro de São Sebastião, onde
há muito que desapareceu. (Z) o telhado da igreja se avista daqui. Foi por baixo da
No contacto de meses que tivemos com Lopes palmeira que foi colocada a forca, hoje transferida
Cardoso, algumas vezes lhe ouvimos dizer que gosta- para a prahinha, local de embarque situado numa das
ria de apresentar desenho ou gravura respeitante a extremidades do Arsenal de Marinha. Descobre-se à
esta tradição, lamentando não o poder fazer porque, direita o forte de Villegagnon, onde estão enterrados
apesar de aturada pesquisa, não tinha encontrado os restos do irmão Sully, cuja morte ocorreu antes da
qualquer iconografia sobre o assunto. evacuação dos franceses do Rio de Janeiro.
Aconteceu porém que, quando recentemente par- Eu vi estes marinheiros, desembarcar na prahi-
ticipámos na V Reunião da História da Náutica e da nha, atravessar tOda a cidade para se din'girem de péS
Hidrografia que se realizou no Rio de Janeiro, assisti- nus à igreja de Santa Luzia e, aí; depositarem a vela
mos a uma comunicação na qual foi projectado, exac- que eles tinham salvo do naufrágio.
tamente, um «slide» de uma gravura em que a referi- A vela, posta aos pés do altar da Nossa Senhora
da forma de gratulação estava magnificamente re- dos Navegantes, foi antecipadamente benzida e, de-
presentada. pois da celebração de algumas orações e duma oferta
Essa gravura que agora reproduzimos graças à pecuniária deixada à suprema protectora, foi levada
gentileza do Serviço de Documentação Geral da Mari- com a mesma solenidade.
nha, Rio de Janeiro, é da autoria de J .B. Oebret (1768· A tripulação desta pequena embarcação de cabo-
-1848), artista que foi integrado na Missão Francesa tagem compunha-se do capitão, do imediato e do
que, a convite de O.João VI visitou o Brasil e ali ficou mestre, todos eles homens brancos, e de dois mari-
durante vários anos. Encontra-se publicada na nheiros negros. O par de botas pendurado na frente
«Voyage Pittoresque et Historique ao Brésil du Sé- distingue ostensivamente o calçado do capitão; os
jour d'un Artiste Français au Bresil depois 1816 jus- botins pertencem aos outros personagens brancos.
qu'en 1831 inclusivement. Époques de I'Avénement
et de I'Abdicatioh de S.M.O. Pedro I", Fondateur de Agora, que a morte nos levou um grande amigo.
I'Empire Brésilien» (3). A gravura é acompanhada do e quando o pais ficou mais pobre por ter perdido um
seguinte texto, que traduzimos : extraordinário e probo investigador, o gesto' que aqui
fica, ao juntar ao trabalho de Lopes Cardoso ((a peça
Ex-voto de marinheiros salvos de um naufrágio.
que faltoulf, é uma simples mas sincera homenagem
Esta cena vê-se repetir frequentemente por mari-
nheiros naufragados. Passa-se aqui, à porta da igreja dum seu grande admirador.
de Santa Luzia, na qual se encontra a capela de Nossa
Senhora dos Navegantes. Esta pequena igreja está
situada à borda domar, diante da barra da baía daRia
de Janeiro. Vê-se, ao fundo, a continuação da praia do
(') Luis da Silva Ribeiro, "Etnografia Juridica da Ilha Terceiralt,
" Revista Lusitana" . 1932, transcrito em "Ex·voto. Painéis Votivos
do Rio, do Mar e do Além-Mau. Museu oe Marinha, Lisboa, 1983.
A. Estácio dos Reis,
ptJg. 20.
cap.-rn.·g.
(') Paris, Firmin Didot Fréres, lrirnprimeurs de l'Institut da
France, Libraires. rueJacobn.~24 lt , MDCCCXXXIV, 3. torno. gra'
Q
vura na folha 6, te:rtopágs. 125·6. ••••••••••••••••••••••••••••••
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