Page 162 - Revista da Armada
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inexoravelmente para nós, desafiando-nos para novo im-
pacte, para um frente a frente onde tínhamos conciência
de sermos sem dúvida a parte mais fraca. E de novo nos
sentíamos como que a mergulhar, e a ser atirados para trás.
Ao cabo de uma hora as marcações para terra indica-
vam-nos não termos avançado praticamente nada. Então
pensei que o anticiclone dos Açores era muito bem capaz
de estar a virar ciclone, e pedi ao imediato que desse uma
olhadela, em baixo, ao barógrafo. A resposta não demo-
rou: «Caiu na vertical, comandante!»
Resolvi voltar para trás, para a sombra da ilha, onde
o pequeno ancoradouro de S. Lourenço nos daria acolhe-
dor abrigo. Naquelas circunstâncias, só havia que esco-
lher enlre a dificuldade de manobrar, por forma a nâo dei-
xar o navio atravessar-se, dar o flanco às muralhas líqui-
das, ou aguentar o que viesse, com aquele descer brusco
da pressão. A manobra resultou. A uns quinze nós, com
rotações apenas para dez, rumámos ao conforto da pe-
quena enseada, onde decidimos passar a noite.
Pouco depois de fundear, o imediato abeirou-se de
mim , com ar ligeiramen te comprometido. Havia bastante
diferença de antiguidades (ele fora meu aluno na Escola
Naval) mas unia-nos uma amizade que nâo explicava o
embaraço. Edesembuchou:
- Oh comandante, é que eu disse-lhe, há bocado, que
o barógrafo caíra na vertical. mas o que ele tinha, afinal.
era fal ta de corda ..
Claro que brindámos, nessa noite , á falia de corda do
barógrafo. Sousa Machado,
cup.·m.·g.
o MISTÉRlO DO NAVIO DE MOGNO
Quem descobriu a Austrália
Sobre este assunto, que temos vindo a tratar em nú- 1988 será o alio do bicentenário da fixação europeia na
meros anteriores, recebemos uma carta do primeiro-se- AuSlrália. Para o comemorar eSlão planeados vários pro-
cretário da Embaixada da Austrália em Lisboa, David gramas, entre os quais a VÚiUl de grandes veleiros - '" Tall
Dukes, que pelo manifesto interesse do seu conteúdo gos- Ships-Auslralia 1988».
tosamente transcrevemos:
14 de Março de /985. O Governo convil/oll mllitos países, incluilldo ParIU·
g(ll, a mandar os seus navios de vela à Austrália com o ob·
Caros Senhores,
jeclivo de comemorar e homellagear os exploradores de
Em primeiro lugar gostaria de lhes expressar o meu
várias nacionalidades ql~e se aventuraram nos desconheci·
agrado pelos artigos publicados sobre o envolvimento dos
dos mares australianos. Grã-Brelllnha, Estados Unidos da
porlUgueses na de.fcoberta da Austrália. Trata·se de um as-
sulIIO de grande interesse para os dois países. Embora haja América, Polónia, República Federal da Alemanha, Es·
panha, Japão e Nova Zelândia responderam já afirmativa·
ainda muita controvérsia sobre quem foi o primeiro euro-
mente, mas a lista dos parlicipanres deverá aumentar nos
peu que de.~cobriu as costas E e W da Austrália, exislem,
nô elllanto, poucas dúvidas de que foram os porlUgueses próximos meses, podendo incluir, entreolltros, Colômbia,
Equador, México, Noruega, Venezuela, Brasil e Uniâo
os primeiros a explorar as suas águas, contribuindo gran-
demente para o conhecimento europeu acerca da Aus· Soviética.
trália. Os veleiros visÍlarão um certo nlÍmero de portosauSlra·
JUlltO o II. " I do bolelim« Terra Allstralis to Australia», {ianos ames de tomarem parte na regata de Hobart a Syd·
Janeiro de 1985, ammciando uma importante conferência ney, em 26 de Janeiro, data do bicentenário da chegada da
internacional, na Austrália, em 1988, na qual serão apre- primeira frota vinda de IlIglaterra. Durante as comemora-
ciados variados assuntos, entre os quais o seu descobri- ções será chamada a atenção para o contributo dado à Aus·
melllO e ocupação pelos europeus, ambos importantes trália pelas comunidades imigrantes, incluindo a crescente
para Portugal. O boletim contém um artigo, sobre os ma- comunidade portuguesa, e a conferência recordará que no
pas de Dieppe e o papel de Portugal no descobrimel/to da século XX, como 110 XVI, as histórias da Austrália e de
Austrália, que julgo de muito interesse para vós. Portugal estão ligadas para sempre.
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