Page 401 - Revista da Armada

11), Nota de Abertura
Os militares ... e os outros
stávamos nas primeiras horas do
dia 18 de Dezembro de 1961. A in-
E vasão da Índia Portuguesa tinha
começado. Quarenta e cinco mil homens
mais vinte e cinco mil de reserva, do lado
da União Indiana, contra três mil e qui-
nhentos mais novecentos indo-portugue-
ses, do lado português. Infantaria, tan-
ques, aviões, tropas aerotransportadas,
artilharia, unidades anfíbias, um cruzador
e mais cinco navios de guerra das Forças
Armadas da União Indiana, contra armas
ligeiras, um aviso de 1.- classe e duas lan-
chas-patrulhas, do lado português.
As ordens dadas ao governador-geral
e comandante-chefe pelo presidente do
Conselho de Ministros, eram claras:
É horrível pensar que isso pode SigDi!i-
car o sacrifício total, mas recomendo e es-
pero esse sacrifício como única forma de
nos mantermos à altura das nossas tradi·
ções e prestarmos o maior serviço aofutu·
ro da Nação. Não prevejo possibilidade de
tréguas nem prisioneiros portugueses,
como não haverá rendidos, pois sinto que
apenas pode ha ver soldados e marinhei-
ros vitoriosos ou mortos.
Era este o cenário na Índia Portuguesa
naquela fatídica madrugada de Inverno,
enquanto no Continente se começavam a
preparar as festas do Natal, comentando·
-se a medo o que lá se estava a passar ...
Nós, os militares, compreendíamos
pedeitamente a terrível situação em que
se encontrava o comandante-chefe das
nossas Forças Armadas da Índia Portu·
guesa. Uma coisa é ver e resolver os acon-
tecimentos a milhares de milhas de dis-
tância e outra, muito diferente, é vivê·los
no próprio local! E, ao contrário do que
dizem alguns, os militares, em especial
os que têm funções de chefia, também
têm cabeça para pensar e resolver de
Cbeglldllll~. fim 22-5-1962, dll gullmiçAo do .. Afonso dfl
Albuquflrqufl_ .pós seis meses de ClItivtliro na lndill. Erll.m
agullrdados no ClIis p6l0 respectivo cpmandantfl, cap.-m.-g.
Cunha Naglo. Da esquerda para a direita; J."-gr. A Pinto,
J .... mar. A Paixlo, csboM Lança, J .... gr. L Annénio, J .... mar. A
7, J. "-mar A Francil!JCO, 7, 1 .... mar. CM Peniche, V·-mar. A 7 e
J .... mar. Q Franciscp.
acordo com as circunstâncias, sobretudo
quando das suas ordens depende a vida
de muita gente. Acresce que há casos,
como este, em que os acontecimentos de-
correm com tal rapidez que não dão tem·
po para hesitações. Há que decidir logo,
bemoumal ...
Mas o objectivo desta "Nota)1 não é o
de julgar as pessoas e muito menos criti-
car as decisões tomadas. Pretendemos
apenas chamar a atenção dos ((outros))
para as difíceis e complexas situações em
que, muitas vezes, os militares se vêem
envolvidos, com a obrigação de as resol·
ver com honra, sem deixar de ter em conta
todos os factores circunstanciais.
Tratei de um caso real, mas posso
assegurar que, com maior ou menor grau
de responsabilidade, outros sucedem
com frequência aos militares no exercício
da sua profissão.
É isto, e outras coisas mais, que fazem
da carreira das armas um caso à parte,
exigindo dos que a seguem qualidades
que na maior parte das outras profissões
não são essenciais.
~. ~v~
c/alm.
N. do A. - Esta .. Nota_ foi escrita a pensar nos marinhei-
ros que há 25 anos morreram na fudia cpmbatendo por uma
causa qua de antemlo sabiam irrflmediavfllmente perdidll.
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