Page 404 - Revista da Armada
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Antologia do Mar



                                    e dos Marinheiros






                                                                 o bravo CapitAo Braga, seguramente o maior cronista do
                                                                                                             Brasil
                                                                 Grave em seu gorro de  campanha,  suas sobrancelhas e
                                                                                               seu bigode circunflexos
                                                                 Terno em seus olhos de pescador de fundo
                                                                 Feroz em seu Focinho de lôbo solitário
                                                                 Delicado em suas mãos e no seu modo de falar ao telefone
                                                                 E  brindaremos A sua figura  única,  Il sua poesia única, à
                                                                                      sua reyolta e 110 seu ca vslheirismo


                                                                                                              como
                                                                           eguramenle o  maior cronista do Brasil» -
                                                                      S
                                                                           em seus versos disse Viniciu5 de Morais, na mensa-
                                                                 ~~        gem  que  escreveu  para  Rubem  Braga,  para esse
                                                                 "         verdadeiro príncipe de um género que alguns di·
                                                                 zem menor da literatura: «género complexo, mas perecível por
                                                                 viver e originar-se no registo do 'fait-divers' quotidiano,., nas pa-
                                                                 lavras de Maria Lúcia Lepccki: "a precisar de interesse humano
                                                                 para permitir que a crónica se transfigure, de coisa consumível,
                                                                 datada, circunscrita, em  matéria literária com  maior ou menor
                                                                 permanência,..  É por esse interesse humano, servido por uma
                                                                 linguagem original, simples e bela, que as cr6nicas de Rubem
                                                                 Braga se erguem para além do rodapé da data que o autor nelas
                                                                 coloca:  ficarão como modelo de género, pequenos padrõcs da
                                                                 língua portuguesa do Brasil.
                                                                    Rubem Braga nasceu em l2deJaneirode 1913, em Cachoei-
                                                                 ro de lIapemirim. Espírito Santo. Menino da beira-rio e da bei-
                                                                 ra-mar, estudou no colégio salesiano de Niter6i, saltou para Mi-
                                                                 nas, depois São Paulo, Pernambuco, Porto Alegre, indo e vol-
                                                                 tando, até fazer base no  Rio, onde numa pensão do Catete foi
                                                                 companheiro de Graciliano Ramos. Formado em Direito, cor-
                                                                 respondente de guerra cm Itália junto do corpo expedicionário
                                                                 brasileiro, embaixador em MarrocosquandoJãnio foi presiden.
                                                                 te, viajante incorrigível, a vida mais vivida de Rubem Braga foi
                                                                 o jornalismo. Como escreveu 0110 laTa de Resende, .. seu itine-
                                                                 rário profissional é uma parte da história da imprensa brasileira
                                                                 nos últimos 50 anos.  E não s6 como cronista, mas também na
                                                                 tarimba, pau para toda a obra,.. E é também Resende que revela
                                                                 como Rubem Braga gosta do mar: .. Da varanda, levantando-se
                                                                 d~ rede que o embala, Rubem pode ver omar. Ele não saberia
                                                                 viver sem omar.,.
                                                                    Esse olhar do cronista sobre o elemento que é vizinho de sua
                                                                 cidade, aflora nalgumas das suas páginas, com a leveza desse rit-
                                                                 mo novo, e a marca de um estilo carregado de poesia, que o tom
                                                                 às vezes irónico não dispensa, presente ao longo de uma intermi·
                                                                 nável colaboração em jornais e revistas, demorada nas páginas
                                                                 de seus livros.  Aos 22 anos publicou Rubem Braga o primeiro
                                                                 volume de crónicas (  .. O Conde e o Passarinho», 1936). Vieram
                                                                 depois «Morrer do Isolamento» (1944), «Com a F.E.B. na itá-
                                                                 lia»  (1945),  «Um  Pé  de  Milho»  (1948),  .. O  Homem  Rouco,.
                                                                 (1949), "Cinquenta Crónicas Escolhidas,. (1951), "Três Primiti-
                                                                 vos,.  (1954),  .. A  Borboleta  Amarela»  (1955),  .. A  Cidade e  a
             (OrlWUTIl do ~rvjÇD dI! Documtnlllrclo do • Diario dt NOficUu»)   Roça» (1957)e«Ai deTi, Copacabana»(1962).
                                                                    Crónicas de  Rubem  Braga.  Desse  «cozinheiro do trivial,.,
                                                                 como a si próprio o cronista se classificou certa vez, nuns versos
                                                     Digam, oh
                                                        digam    escritos em carta a Moacir de Castro.  Desse grande capitão de
                                                                 um género que o seu talentodc prosador ajudou a fazer perdurá-
             A meu amigo  Rubem Braga que é pena  estar chovendo   vel  e apetecido.  Crónicas de  Rubem  Braga.  As palavras com-
                                                          aqui   pondo a música de um quotidiano cuja geografia não precisamos
             Neste dia tAocheio de memóri/lS. Mas                de conhecer para entendermos sua simplicidade: como se esti-
             Que beberemos à  sua saúde, e  é/e há de  estar entre nás   véssemos ali, sorrincio do acontecido.

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