Page 429 - Revista da Armada
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A fragata .Comandante RoIHrfO Illeru,. que em 198J esteve inttgrada ria

                urante  a  permanência  da  fragata  .. Comandante   nheiro inseparável o mar, onde passámos a efectuar Ioda
          D     Roberto  Ivensllo  na  Força  Naval  Permanente  do   a espécie de manobras conjuntas para adestramento das
                Atlântico  (STANAVFORLANT), da NATO, no
                                                              respectivas  guarnições.  A  máquina  estava  emperrada,
          ano de  1985,  tive o cuidado de anotar no  meu diário os   precisava de desellferrujar e para isso nada melhor que na-
          acontecimentos mais importantes em que  nos vimos en-  vegar. E, navegando, fizemos durante a nossa permanên-
          volvidos, as emoções sentidas, as terras que visitámos, as   cia  na  STANAVFORLANT 2256  horas,  o  que  corres-
          dificuldades que encontrámos e tudo o mais que conside-  ponde a três meses equatrodias no mar.
          rei digno disso.  Ao  fim  e ao cabo era o afã e o labor de   A vida a bordo passou a ser uma azáfama constante
          um navio de guerra no seu máximo grau de operacionali-  com o pessoal a três quartos. Os maquinistas com as má-
          dade.                                               quinas a arfar, umas vezes depressa outras devagar, mas
             Assim, após termos participado num curso preparató-  sem nunca  parar; os  radaristas.  no CIC, a olhar  perma-
          rio  (Joint  Maritime  Course),  na  Escócia,  largámos  da   nentemente para o ecrã do radar. e a razer os respectivos
          Base Naval de Lisboa com o navio atestado até aos gomes   registos; os torpedeiros, noite e dia, a escutar no sonar;
          (pois que a vida na estranja é fogo!) com destino ao porto   os artilheiros nas peças, sempre prontas a disparar; os si-
          inglês de Portsmoulh, no dia 25 de Março. Chegámos ali   naleiros e telegrafislas, os primeiros a registar e  picotar
          três dias depois e ali permanecemos dezoito dias, toman-  e os últimos a receber/enviar mensagens de e para o ar;
          do contacto com unidades navais de outros países que vi-  os cozinheiros a fazer comida ..  um  nunca  mais acabar.
          nham, como  nós,  integrar-se  na  STANAVFORLANT,      Participámos em exercícios prolongados tais como: o
          ou que já faziam parte dela.                        «Bright Horizon», no mar do Norte; o «Locked Gate», no
             A rendição docomandoda Força estava marcada para   Mediterrâneo e  cosia  atlãntica,  ao  sul de  Portugal. e o
          o dia 2 de Abril, o que deu tempo a constituir-se uma for-  «Readex 2785», no mar das Caraíbas.
          ça para prestar as devidas honras, com desfile. Para isso,   Além  destas  manobras,  e  sempre  que se  deslocava
          havia  treinos diários  com  um  oficial inglês  a  dirigi-los.   duns pontos para outros, a Força mantinha o pessoal sem-
          Oito Marinhas, oito  fardas diferentes, ordens em inglês   pre ocupado com exercícios de  Ioda a ordem , nomeada-
          que nem todos compreendiam, uma pequena  Babel que   mente: sinalização  por Morse luminoso, acústico e ban-
          a pouco e pouco foi deixando de o ser mercê do desemba-  deiras, radiotelefonia, guerra electrónica, lutas anti-sub-
          raço e do poder de adaptação de todos os marujos a quais-  marina, aérea e de superfície, reabastecimento, reboque,
          quer situações. E, chegado que foi esse dia, foi com orgu-  salvamento no mar. incêndio, etc.
          lho e alguma emoção que vimos o capitão-tenente Ferrei-  Nas viagens entre portos havia a possibilidade de tro-
          ra Pires, oficial do estado-maior embarcado no navio-che-  car membros das guarnições dos  navios da  Força.  Era o
          fe, a comandar essa força de marinheiros de cinco paises.   chamado .. Cross Pool ... Tivemos a bordo da .. Comandan·
             O navio-chefe era agora o inglês .. Brillianl,», suceden-  te  Roberto  Ivens»  elementos  americanos,  belgas.  ale-
          do ao alemâo «Hamburg» que regressou a casa.        mães e holandeses. que apreciavam demais a nossa gas-
             Entretanto,  os  nossos  marujos  iam  calcorreando  as   tronomia, enquanto que os nossos marinheiros voltavam,
          ruas da cidade a fazer compras nos shops,  participavam   dos navios para onde iam, desiludidos com os seus hábitos
          em excursões, visitavam cidades, monumentos, museus,   alimentares.
          castelos e catedrais, frequentavam pubs, bares e discote-  Tocámos nos portos de Lorient. na  França, Esberg e
          cas ... sempre lentando ver o mais que podiam, gastando   Fredickshaven,  na  Dinamarca, Kristevansan, na  Norue-
          o menos possível , comprando o necessário e o supérnuo,   ga, Cádis, em Espanha, Halifax, no Canadá, S. Juan de
          esticando até ao último penny as magras libras recebidas.   Puerto Rico,  Roosevelt  Roads,  numa ilha das Caraíbas,
             Passados que foram quinze dias, já parte do pessoal   Fort  Lauderdale e Mayport , nos  EUA, além dos  portos
          dava mostras de saturação e ansiava mudar de ares, ape-  portugueses de  Leixões e Ponta  Delgada e do  já cilado
          sar dos conhecimentos adquiridos em terra e nos navios   Portsmoulh. Da base americana de Mayport, na Florida,
          da Força, onde imperava uma camaradagem queao longo   largámos  no  dia  I  de  Agosto  em  viagem  directa  para
          dos próximos meses se cimentaria progressivamente.   Lisboa,  onde  chegámos  passados  doze  dias  dando  por
             Deixámos Portsmouth a  15 de  Abril, na  companhia   terminada a missão.
          dos  navios  HMS «Snlliant» (Reino  Unidos),  USS  «Ri-  O nosso navio, sob o comando do capitão-de-fragata
          chard E.  Bird» (americano), HNLS «John Van  Brackel»   Reis Rodrigues e com uma guarnição de cerca de 220 ho-
          (holandês),  FGS  «Rheinland  Pfalz»  (alemâo  federal),   mens entre oficiais, sargentos e praças, deixou nos portos
          HMCS  «Skenna»  (canadiano),  HNOMS  «Stavager»     por onde passou e nos nossos cumaradas de armas de ou-
          (norueguês),  juntando-se  mais  tarde,  no  mar,  o  BNS   tros países um rasto de simpatia, camaradagem e amizade
          .. WieJlingenllo (belga).                           assinaláveis.
             A partir deste dia e durante cerca de quatro meses a                                  Vítor Horta,
          nossa vida iria ser em tudo semelhante, tendo por compa-                                    1.--SQfg. SE

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