Page 130 - Revista da Armada
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inglês perfeito da Natasha obteve um
                                                                                inglês perfeito do Nikolai.
                                                                                   Espantada,  falou-lhe  depois  em
                                                                                francês.  E o Nikolai respondeu com
                                                                                a mesma perfeição.  Espanhol e ita-
                                                                                liano foram outras linguagens experi-
                                                                                mentadas por Natasha.  E mais não
                                                                                tentou  por  não  saber,  certamente,
                                                                                pois  que,  o  Nikolai  arranjaria  uma
                                                                                resposta acertada. Palmas para o Ni-
                                                                                kolai,  pedia a Natasha. E os  aplau-
                                                                                sos não se regateavam. E quando a
                                                                                música avançou,  com  um  belo con-
                                                                                junlo acompanhante, aí se manifes-
                                                                                tou a perícia, o ritmo, a competência
                                                                                do Nikolai.
                                                                                   A  Natasha estava a passar para
                                                                                segundo plano. Um grupo de holan-
                                                                                deses  levantava-se  a  aplaudir.  Os
                                                                                portugueses  seguiam-lhe  o  exem-
                                                                                plo.
                                                                                   Natasha  aproxima-se de  Nikolai
                                                                                e abraça-o.  Felicita-o e dialoga com
                                                                                ele.  «Mas  quem  é  você»,  interroga
                                                                                ela.
                                                                                   «Sou um marinheiro português»,
                                                                                respondeu Nikolai.
                                                                                   Perplexa,  mas  exuberante,  Na-
                                                                                tasha deixou cair estas palavras: «Ti-
                                                                                nha  de  ser  um  marinheiro  portu-
                                                                                guês.»
                                                                                   Depois, ela própria, perante a as-
                                                                                sistência,  conhecedora  da  nossa
                                                                                epopeia  marítima,  dissertava  desta
                                                                                maneira:  «Desde sempre admirei o
                                                                                povo português pela arrojada aven-
            Portugueses que em '982 visitaram Jerusalém, onde se enconllra o marinheiro referido no texto   tura dos seus marinheiros.»
            (o  l . o dadirelta).
                                                                                   Foi  convicta que ela fez tal  afir-
            mas o exigiam, ei-Io cantando a ple-  Uma  mescla de tipicismo e  mo-  mação.
            nos  pulmões:  «Evenu  shalon  ale-  dernidade davam um ar grandioso e   E  depois,  agarrando  num  disco
            hen.»                             digno à  que é considerada a melhor   LP com as suas canções, fazia uma
               A alegria era contagiante. E. nos   casa do género em Jerusalém.   dedicatória ao homem que ela julga-
            momentos de profunda reflexão inte-  Actuava nesse dia a sumidade da   ria americano, inglês, francês, sei lá
            rior,  e muitos eles foram, na Gruta da   terra, a Amália Rodrigues lá do sítio,   oquê, mas nunca português.
            Natividade,  no  Santo  Sepulcro,  no   de seu  nome Yaffa Yarkoni,  só  ela,   A  dedicatória  era  simples:  «To,
           Jardim  das  Oliveiras,  no  Cenáculo,   um  verdadeiro  espectáculo.  Na  as-  Orlando (Nikolai) from Yaffa (Natas-
            na Via Dolorosa, no Monte da Beati-  sistência,  muitos estrangeiros. Nes-  hal·»
            tude, no Tabor, na Igreja do Primado,   se  dia,  porém,  predominavam  os
            na  Basílica  da  Nazaré,  lá  estava.   portugueses.                              "
            mais recolhido que ninguém, absorto   Aplausos e mais aplausos, belís-
            no mistério, o ilustre marinheiro.   sima  actuação.  Eis  senão  quando,   Nesta  altura  da  Páscoa  o  meu   ,
               E um dia houve em que o Valler,   Yaffa,  ela  própria  radiante  consigo   pensamento voa sempre até Jerusa-
           guia  magistral,  um  safardita  judeu   mesmo, pede a colaboração dos pre-  lém, centro e palco de toda a história
            ido do Uruguai para Israel, terra dos   sentes. Aponta o dedo e chama, sor-  da Redenção Cristã.
            seus  antepassados,  a quem cogno-  ridente,  um  do  grupo  que  mais  a   E jamais  esquecerei que Já,  em
            minámos  de  "Peixudo»,  quando   aplaudia                          Jerusalém, motivadas por um espíri-
           com este nome ele quis referir-se ao   Em cadeira no palco, pandeireta   to fortuito, eu ouvi palavras do maior
            peixe  de  S.  Pedro  que  abunda  no   na mão, e vai de cena musical entre   apreço pelo marinheiro português.
            lago Tiberíades (mar da Gatiteia), um   Yaffa que agora fazia de Natasha e
           dia houve, dizia, em que ele, num se-  Nikolai, o arrojado colaborador e ar-          De/mar Barreiros,
            rão, nos presenteou, com uma ida ao   tista  improvisado.  «Vamos lá,  Niko-  capefáo graduado em cap. -trago
            melhor caveau da cidade santa, em   lai, quando eu cantar e fizer sinal, tu
           pausa turística da peregrinação.   acompanhas com  a pandeireta.»  O   ••••••••••••••••••••

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