Page 126 - Revista da Armada
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HISTÓRIAS DE MARINHEIROS/94



           Horários são para se cumprir ...





                 le era um jovem tenente,  em
                 início de carreira. Após os em·
           Ebarques, com tirocínios feitos,
           fora parar ao Corpo de Marinheiros,
           no Alfeite -  a sua primeira situação
           em terra.
              Filho  de  um  capitão-de-mar-e-
           -guerra,  para  além  do  sentimento
                                                                                                        c.O.~ •• ~
           inalo de  disciplina,  que o  animava,                                                      ..... ,., .. w,"-oc
           sentia a  obrigação de preservar  in-
           tacto o prestígio que envolvia o nome
           da paternidade.
              O  serviço  não  implicava  graves
           responsabilidades. Aos deveres roti-
           neiros, que lhe competiam dentro do       ( I
           esquema  orgânico  da  unidade,
           acrescia apenas a obrigação das di-
           visões de oficial de serviço de tantos
                                                                                                 /
           em  tantos  dias.  Aqui,  é  que  a  sua
           atenção e cuidado se aplicavam com                                                   I
           zelo redobrado.  O segundo coman-                                                   , \
                                                                                               , ' ,
           dante,  com  o  posto  de  capitão-de-                                         \ ~
           -fragata,  mostrava-se  miudamente
           exigente, exercendo apertada fiscali-
           zação sobre os oficiais de dia.
              Todo o pessoal de  serviço tinha
           que exibir uma apresentaçâo  impe-
           cável.  Nada  de  rugas  no  uniforme,
           cabelo  crescido,  barba descuidada.
           A parada da unidade tinha que mos-
           trar-se escrupulosamente limpa. Um
           papel  abandonado  no  chão,  uma
           ponta de  cigarro lançada fora por fu-
           mador desatento, tanto bastava para
           increpar rijamente quem, estando de
           serviço,  primeiro  cruzasse  com  ele
           no caminho. Mas onde a sua preocu-
           pação se revelava mais viva era no
           cumprimento  dos  horários.  Os  to-
           ques de clarim tinham  que  soar  ao
           segundo  exacto.  O  movimento  de   sabia donde,  repreendesse,  de  ca-  de  novo, com  todo o  peso, sobre o
           viaturas  da  unidade  tinha  de  obe-  beça perdida, o responsável pela di-  oficial de divisão.
           decer às horas prescritas.  Era mes-  visão.                            Com a ideia de reforçar, mais ain-
           mo um tanto doentia a vigilância que   Apesar  das  fortes  recomenda-  da, instruções verbais repetidamen-
           exercia sobre este último aspecto.   ções, a inllexibilidade do horário das   te expressas, o segundo comandan-
              Por vezes, os oficiais de serviço   viaturas  claudicava  ainda  uma  vez   te chegou a redigir, pelo seu próprio
           transigiam, num minuto ou dois, à es-  por outra. Um dia, era a camioneta-  punho, um aviso, que mandou afixar,
           pera  de um  que  vinha correndo ao   um  cangalho  velho- que  tardava   em posiçâo destacada,  no gabinete
           longe  ou  da  ordenança  que,  rece-  em pegar; noutro, era um pneu baixo   do oficial  de dia. Nele se ordenava,
           bendo ordens, demorava um  pouco   à última hora. O segundo comandan-  peremptoriamente,  o  cumprimento
           mais  na  secretaria.  Mas era o  bas-  te  exasperava-se.  O  motorista  que   rigoroso do horário dos transportes.
           tante  para  que  o  segundo  coman-  antecipasse a preparação do veicu-  Ora sucedeu, uma vez, em que o
           dante,  surgindo de repente, não se   lo.  E as responsabilidades  recaíam   tenente estava de serviço, que o se-

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