Page 129 - Revista da Armada
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fortes muralhas de pedra ruiva, com abaulada, com cinco arcos de volta Os grandes sismos de 1353,
um conjunto de interessantes torres, inteira, sustentados por quatro colu- 1719, 1722 e 1755, devem ser os
estas muito arruinadas. No centro do nas. A área do castelo é rica em principais responsáveis pela sua de-
terreiro encontra-se uma curiosa cis- construções subterrãneas, com uma gradação arquitectónica.
terna conhecida por Cisterna da cobertura ao nível do solo, que se
Moura, com uma profundidade de pensa terem sido usadas pelos ára- Marques Curado,
cerca de 10 metros. A abóbada é bes como silos. 1."-len. SG
AQUILO QUE A GENTE NÃO ESQUEC~ (21) .. .
Marinheiro português
por terras de Cristo
Sôbolos rios que vão enlace do humano e do divino, os Quando os habitantes da Babiló-
Por Babilónia me achei montes sagrados e vales de benção, nia ou do Egipto pediam aos israeli-
Onde sentado chorei os lugares de paz e de milagre fazem las para lhes cantarem as doces can-
As lembranças de Sião de Israel um convite universal, uma ções do seu povo, estes limitavam-
E quanto nela passei. atracção premente, não apenas aos -se a um desabafo pungente: "Como
judeus, mas a qualquer filho de podemos nós cantar em terra
Ali, um rio corrente Adão. alheia?»
Foi dos meus olhos manando Verdi, na sua ópera "Nabuco», Mas, quando alguém ido de lon-
E tudo bem comparado: estampa soberbamente esse senti- ge, judeu ou grego, cretense ou troia-
Babilónia ao mal presente mento no célebre e portentoso Coro no, escravo ou homem livre, doscon-
Sião ao tempo passado. dos Hebreus: fins da Arábia ou do extremo da Ter-
ra, canta e exulta ao pisar a TERRA
Vai ó alma nas asas douradas
om esta trova e outras seme- PROMETIDA.
Vai pousar-te nos montes
lhantes bem se lamentavam "Evenu shalon alehen», a paz
[e vales
Cos judeus, no cativeiro da Ba- Ouve o canto dolente dos esteja connosco, é cãntico sonoro
bilónia, oprimidos por Nabucodono· [males que irrompe de todos os lábios. As-
sor, saqueados de todos os bens Grito doce da terra natal. sim aconteceu comigo, já por mais
pessoais e esmagados pela ruína do de uma vez. E assim aconteceu com
seu templo. Bem se lamentavam um ilustre marinheiro que, em Se-
Do Jordão, lá ao longe, saúda
também sob o jugo faraónico no tembro de 1982, se incorporou num
As cidades na dor sepultadas
Egipto, com saudades da sua terra. Oh! Que Pátria tão bela grupo de peregrinos.
As lembranças de Sião compun- [e perdida A sofreguidão com que absorvia
giam-lhes o ser. Oh! Lembrança tão cara as palavras do cicerone, a avidez
Na verdade, Sião era a sua terra, [e fatal! com que manuseava a Bíblia e car-
Jerusalém a sua cidade e só aí se dápios turísticos, a religiosidade com
realizariam os seus destinos, a sua que pisava os lugares santos consti-
Harpa sã dos fatídicos vates
vida. Nada de comer em terra alheia. Porque estais dos salgueiros tuíam manifestações de regozijo por
O pâo sabia-lhes mal e a saudade ver-se imiscuído com as realidades
[pendida?
afogava-lhes a garganta. A memória no peito se da terra da promissão.
Tinham razão os judeus. Pâo Hébron, a cidade dos Patriarcas;
[acende
seco na sua terra sabia-lhes a mel de Belém, a cidade de David; Nazaré, a
Recordando o ditoso viver.
liberdade. terra da Virgem; Cafarnaum, a man-
E Deus prometera essa terra a Jeová vencedor dos são de Pedro; Jericó, a terra fortifica-
Abraão e à sua descendência para da; Jerusalém, a capital de Israel e
[combates
sempre. Iodas, todas as cidades e aldeias, vi-
Escutai do escravo o lamento
Não admira, pois, que os judeus Oh! Alenta seu duro tormento las e lugares, todas, sem excepção,
dos tempos bíblicos, como os judeus terras de Cristo esmagavam pela
Dai coragem ao triste sofrer
da diáspora moderna, teimem em sua história e mistério a curiosidade
habitar na sua terra. desmedida do marinheiro.
Aliás, o peso do tempo e da histó- E quando, num ou noutro lugar,
ria, a fama dos reis e dos profetas, o as circunstâncias o permitiam e algu-
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