Page 242 - Revista da Armada
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A Marinha por ... terra dentro





               ela terceira vez nestes três ultimos anos a Acade-  Paiva assumiu a missão deste, apresentado-se na corte
               mia  de  Marinha  realizou  uma  sessão  extraordi-  de Preste João, onde foi bem recebido, mas não conse-
          P nária fora das suas instalações, agora na cidade da   guindo autorizaçâo de regressar ao reino, no receio de
          Covilhã,                                             que viesse a desfazer a fama de que ali havia uma corte
              Várias viaturas, conduzindo o chefe do Estado-Maior   faustosa, quando na realidade ela era miserável.
           da Armada, almirante Sousa Leitão, o presidente da Co-  Senhor de muitas terras que lhe doou o Négus, adap-
           missão das Comemorações dos Descobrimentos, capi-   tou-se às circunstâncias casando  com  uma etíope que
           lão-de-fragata Serra Brandão, o presidente da Academia   lhe deu vários filhos.
           de  Marinha, contra· almirante ECN  Rogêrio de Oliveira,   Anteriormente, havia escrito uma carta a D. João II
           académicos e respectivas esposas, arrancaram de Lis-  que confiou a um dos dois judeus enviados por este à sua   ,
           boa, estrada fora, na manhã do dia 7 do passado mês de   procura, na qual fornecia os elementos que tinha conse-
           Maio.  Aquela  cidade  da  Beira  interior  comemorava,   guido  reunir  para  a  projectada  viagem  de  Vasco  da
           exactamente  nesse  dia, o  500 aniversário  da partida,   Gama à índia, carta que até hoje ninguém encontrou.
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           por terra, do seu filho mais ilustre, Pêro da Covilhã, a re-  Parece-nos não valer a pena pormenorizar o muito,   •
           colher informações sobre a maneira de alcançar a india   e bem, que disse o prof. dr. Luís de Albuquerque sobre
           pelo  mar, especialmente  no  reino  do  Preste  João, de   o tema versado. É, porém, justo dizer-se que quase tudo
           quem se esperava auxílio para o efeito.             que se conhece da aventurosa via~em de Pêro da Cavi-
              E foi um regalo, depois de terem falado o presidente   lhá se  deve  ao  padre  Francisco Alvares,  pelos  relatos
           da Cãmara Municipal, dr. Álvaro Ramos, o presidente da   que ouviu do próprio, já velho mas ainda robusto e lúcido,
           Academia de Marinha e o almirante CEMA, ouvir o ora-  na  Etiópia, onde  esteve  incorporado numa embaixada
           dor oficial da sessão, o membro efectivo da Academia,   enviada por D. João II àquele país.
           prof. dr. Luis de  Albuquerque, descrever a vida  desse   E, enquanto a numerosa assistência aplaudia o ora-
           famoso aventureiro.                                 dor no final  da  sua brilhante  liçáo, eu  pensava com  os
              Estavam presentes, além das entidades já citadas, o   meus botões: mas que filme monumental se faria sobre
           presidente da Assembleia Municipal, o reitor da Universi-  a vida deste heróico português!
           dade  da  Beira  interior,  um  representante  do  bispo da   Depois desta sessáo no salão nobre da Câmara, se-
           Guarda, autoridades civis e militares, e muito povo.   guiu-se uma missa na igreja de Nossa Senhora da Con-
              O prof. dr. Luís de Albuquerque disse ter o rei D. João   ceição, em memória de Pêro da Covilhã, cantada por um
           II escolhido Pêro da Covilhã para essa dificil missão por   coro de homens e mulheres, primorosamente ensaiado,
           saber da sua valentia e obstinação; porque falava a lín-  num conjunto de vozes que nos empolgou.
           gua arábica e o castelhano e ainda porque conhecia a   Seguiu-se um jantar de gala oferecido pela Câmara
           política  da  Europa  e  tinha  desempenhado  missões   Municipal, finalizando  as  comemorações  um  concerto
           secretas em regiões situadas já no começo do Oriente.   dado  pela  Banda  da  Armada, dirigida  pelo  respectivo
              Contou-nos depois os passos mais salientes da ca-  chefe, capitão-tenente MUS Manuel Baltazar, na igreja
           minhada de Pêro da Covilhã, na companhia do escudeiro   de Santa Maria, completamente cheia.
           Afonso de Paiva, que falava também as línguas citadas,   Como sempre tem acontecido em todas as terras, a
           e que viria  a morrer no  Cairo depois de, em  Adem, se   banda  registou  um grande sucesso e, por muito tempo
           terem  separado,  o primeiro  a caminho da  india e este   os acordes da sua bem seleccionada e melhor executa-
           último da Etiópia.                                  da música, hâo-de soar portada a cidade, na recordação
              No regresso de  Pêro da Covilhã ao Cairo, ponto de   dos que tiveram o privilégio de a ouvir.
           reencontro marcado, ao  saber da  morte  de  Afonso  de   Antes de se iniciar o concerto, o vereador da Câmara
                                                                                                                      •
           o prof. dr. LuIs de Albuquerque profere a sua conferência.
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