Page 189 - Revista da Armada
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o novo governador,  haviam  saído para   D.  Henrique que pedisse por ele um ele-  nossos,  fizeram-no também em coluna,
        O  mar  e  estavam  agora  atacando  Unt   vado resgate que, certamente, não seria   indo  na  frente  a galeota.
        galeão  ponuguês  que  navegava  para   recusado. Mas D.  Henrique de Meneses,   Estavam já as duas armadas bastan-
         Nane,  ao  largo de Bnticala,  o qual  se   querendo mostrar, tanto aos ponugueses   te afastadas da terra quando o vento caiu,
        defendia disparando furiosamente a sua   como aos  mouros e gentios que o novo   passando ambas a fazer uso dos remos.
         artilharia.                       governador não estava interessado em ar-  Nessa altura,  Cristóvão de Brito avisou
           Avistando os  navios  de vela da  ar-  recadar riquezas mas somente em ganhar   os seus capitães de que ia inverter o n..:::-.~
         mada de D.  Henrique de Meneses que,   honra e defender os interesses de EI-Rei,   e abalroar o inimigo. Aconselharam-lhe
         provavelmente, tomaram por mercantes   mandou  enforcar imediatamente o Ma-  aqueles  que  não  o  fizesse  porque  a
         mal  annados,  os  paraus  largaram  o   male  na  fortaleza.  Quando  o  rei  de   anuada de Dabul era muito fone e corria
         galeão e dirigiram-se para eles na espe-  Cananor se  foi  lamentar junto dele por   o risco de se perder. Mas ele a nada aten-
         rança  de  encontrarem  presas  menos   isso,  respondeu-lhe que faria  o  mesmo   deu.  Disse-lhes apenas que se não esta-
        coriáceas.  Porém,  quando  menos  o   a qualquer fidalgo português,  por mais   vam  de acordo que se fossem  embora.
        esperavam,  viram-se  completamente   alta que fosse a sua estirpe, se se com-  E, nesse mesmo instante, mandou inver-
         rodeados por navios portugueses de ban-  portasse como o Mamaie, atraiçoando o   ter o rumo à sua fusta e arremeteu contra
        deiras desfraldadas e atulhados de gente  juramento de vassalagem que prestara ao   a galeota que vinha à  frente da annada
         de armas!  Do lado da terra avançava uma   rei  de  Portugal!       de  Dabul.  Nesta  manobra  foi  seguido
         longa coluna de catures e fustas; do lado   E em  toda a cosia da índia se come-  apenas pelas outras três fustas e por três
         do mar estavam os navios de alto bordo   çou  a  sentir  que  estavam  a  ter  início   catures, já que os restantes se deixaram
         com  as  suas  temíveis  bombardas  de   novos tempos que faziam lembrar os de   ficar onde estavam, discutindo a decisão
         grosso calibre; de norte avançavam em   D.  Francisco de Almeida e de Afonso de   do seu  capitão-mor.
         linha as galés e as galeotas;  a Sul conti-  Albuquerque.              Perante a súbita investida dos navios
         nuava  o galeão que tamo os havia mal-                              portugueses, a galeota  inimiga  suspen-
         tratado.  Vendo-se  encurralados,  os                               deu  a marcha,  possivelmente para per-
         paraus optaram, logicamente, por inves-  DABUL                      mitir que as sete fustas que vinham atrás
         tir  comra  a  pane  aparentemente  mais   (Janeiro de  1525)       dela pudessem alinhar a seu  lado.  Mas
         fraca da moldura  que os encerrava,  ou                             o que aconteceu é que tudo se passou t50
         seja,  contra  os  catures  e  as  fustas,  na   Antes de seguir para  Cochim  a fim   rapidamente  que  aquelas,  ames  que  sc
         esperança  de  conseguirem  alcançar  a   de tomar formalmente  posse do gover-  tivessem apercebido do que se prctendia
         costa.  Mas uns e outras, como foi  dito,   no da Índia, D.  Henrique de Mene~s or-  delas, começaram a bater nas que iam à
         tinham embarcado muitos fidalgos e, por   ganizou uma pequena annada de quatro   sua frente, embrulhando-se umas com as
         isso,  apesar de estarem em  inferiorida-  fUSlas  e  seis  catures,  capitaneada  por   outras.
         de numérica, aguentaram bem o embate   Cristóvão de Brito, destinada a patrulhar   Aproveitando a confusão, as quatro
         dos paraus causando neles um destroço   a costa  a none de  Goa.    fustas e os três catures ponugueses afer-
         considerável.  Com a chegada das  galés   Certo dia,  andando aquele nas ime-  raram imediatamente a galeota e as  fus-
         e das  galeotas,  ocorrida  pouco depois,   diações de Dabul,  teve informações de   tas  de  Dabul  que  vinham  à  frente,  na
         foram  aqueles  completamente desbara-  que as  fustas desta cidade tinham toma-  intenção  de  as  tomarem  antes  que  as
         tados:  seis foram afundados pela artilha-  do uma nau  com cavalos que se dirigia   outras pudessem acorrer. Mas os turcos
         ria; dezoito foram tomados; doze foram   para  Goa.  Procurou  imediatamente  eram  combatentes  de  respeito  e
         forçados  a  encalhar  na  costa;  só  dois   interceptá-Ias mas nào o conseguiu por-  recompuseram-se  rapidamente  da  sur-
         conseguiram escapar-se!           que durante a noite, a coberto da escuri-  presa.  Além  disso,  sendo  em  maior
            Navegando para Sul  durante a noi-  dão, as fustas de Dabul passaram cosidas   número do que os portugueses, puseram
         te,  esses dois paraus foram dar a Cana-  com  a  terra  e  meteram-se,  juntamente  estes em  grande dificuldade,  travando-
         nor  onde  encontraram  fundeada  unta   com a nau  que tinham apresado, dentro   -se um  furioso combate que se manteve
         fusta nossa cujos vigias estavam descui-  do porto.                 indeciso  durante  muito tempo.  A dada
         dados.  Desejosos de se desforrarem da   No  dia  seguinte  de  manhã,  estava   altura,  duas  flechas,  quase  ao  mesmo
         tremenda derrota sofrida pela sua amla-  Cristóvão de Brito considerando a pos-  tempo,  atravessaram  a  garganta  de
         da atacaram-na de surpresa, convencidos   sibilidade  de  entrar  em  Dabul  para   Cristóvão de Brito que caiu  morto.  Fe-
         de que a tomariam sem dificuldade. Mas   recuperar a nau  quando a annada desta   lizmente,  era talo empenhamento dos
         os portugueses reagiram prontamente e   cidade. depois de se ter reforçado, veio   portugueses no combate que não deram
         conseguiram, depois dum rijo combate,   ao  seu  encontro com o efectivo de uma   por isso.  Pouco depois,  foi  a vez de um
         expulsar os  inimigos da  fusta.  Seguida-  galeota e sete grandes fustas,  todas elas   dos nossos espingardeiros derrubar com
         mente,  começaram a lançar panelas de   muito bem artilhadas e com muita gente   um tiro o capitão-mor inimigo que caiu
         pólvora  sobre  os  paraus  atacantes   de annas  incluindo  numerosos  turcos.   ao  mar.  Aproveitando  a desorientação
         obrigando-os  a pôr-se em  fuga.     Como  estava  soprando  o  terreal,   momentânea daí resultante, os portugue-
            No dia seguinte, fundeava em Cana-  D.  Cristóvào  mandou  içar  as  velas  e   ses que estavam dentro da galeota inimi-
         nor a armada de D.  Henrique de Mene-  afastou-se para o mar simulando  fugir,   ga  fizeram  um  esforço  supremo  e
         ses com as presas e os cativos que fizera   na intenção de afastar o inimigo da cos-  conseguiram tomá-la.  Como geralmen-
         cm  Baticala,  o  que  causou  enorme   ta. E logo este, içando também as velas,   te acontecia  nos  combates entre navios
         assombro  na  cidade.  Entre os  últimos   foi em sua perseguição. Como os navios   de remo, a perda de um navio, especial-
         figurava um importante capitão de nome  de Dabul tinham saído a barra em colu-  mente sendo a capitânia, decidiu a bata-
         Mamale  que  era  innão  do  regedor  de   na,  isto é,  uns atrás dos outros, e,  logo   lha,  dado  que  por cada  navio  tomado
         Cananor.  Aconselharam  os  fidalgos  a   a  seguir,  começaram  a  perseguir  os   crescia o número de combatentes dispo-

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