Page 194 - Revista da Armada
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poder da Nawreza Mmerum boi, depois Ora a lista dos prémios chama·se o colar cabeleiras rebeldes, sem emprego
de marIO, se lransforma em vaca. " Touro,.. de agetl/es qll(micos e sem perigo algm"
Há faclOs que eu aceÍlo sem re/utân· Porqu2? Porque o touro dá sorte. para a saúde, pois o nosso amigo u/iIi·
cia c 11m deles é este. Se é cena, isto é, se um comúpelO zará, apenas, a IIngua com que a Natll·
Eu lIilo SOIl, de resto, carn(voro, e favorece os empresários, os toureiros e reza o dotou.,.
rUlo me irueressa que o boi mudede sexo, o público de aficion, ni10 poderá um Sen·a-reconlleçamos-um sucesso.
quando está coÚnhado. Em vaca fresca simples boi, muito parecido, afinal, com A parca dos bOl,(deos, porém,
seria lransfonllado o boi se... e aqui um touro dar também sorte? conou-lhe o fio da sua existência que a
surge a magia que, aliás, sempre respei- É esta a lógica irrefutável do caso e nillguém incomodava, excepçao feita do
tei e respeito, ele nilo tivesse sobrado, foi ela que fez do nosso .João,., com pessoal da máquina que resmungava,
isto é. sobejado, sem mais sinónimo. Sei, amuuJura e tudo amais, uma queridls- porque a palha que ele - o nosso herói
sim, como falta um homem da guam;- sima mascote, tao estimada que ele teve - nuninava, facilmente cara, por fonna
çilo, rIU mostra da safda. logo as honras inerentes d sua alta desastrosa, sujando a casa das m4qui·
Creio até que uma sobra nilo com· função. nas, cujos cavalos (os tais esquisilos e
pensa uma tal falta, pelo menos no Foi-lhe destinado um tratador pri- cabaUsticos H.P.) nilo penenciam às
campo das puras teorias e abstra(do o vativo. raças cavawres para os q/Ulis a palha
carácler utilitário, relativo, dos homens Recaiu a honra deste sacerd6cio num é alimento. Nao teve, pois, o nosso
e dos bois. dos comeleiros de bordo, o qualtinlla ..]QlJo,. emprego particular.
O certo é que o boi, o boi que foi, todns as qllalidt1des que, em regra muito Era empregado do Estado e, contra-
depois .Jollo,., sobejou. geral, têm os corneteiros. riamel/te ao ideal definido por] úlio
Tinha ele um olhar meigo, quase Os dois compreendiam-se bem, muna César Machado, ia todos os dias à SIUl
acariciador. mUIIUllidade de sentimentos e de caricias repaniçao, q/Ullldo os seus altos serviços
Era um ollimo./ qlle inspirara simparia. que ressuscitaram, aos nossos olhos, os de trazedor de felicidade eram indispen-
Ao entrar a bordo nilo apresentou, tempos das fábulas, nas quais todos sáveis. isto é. quando o "Pedro Nunes,.
como natllra/ é que lIilo apresentasse, os animalejos (homens jnclufdos, esta navegava e, ponanto, todos os que o
qualquer reclamação. claro) se entendiam maravilhosamente. habitamm careciam do confono moral
O respeitável senhor de La Fontaine A populaçãO do "Pedro Nunes,. via, da sua presença, do seu olhar carinhoso
não era passageiro e o boi nilo falam assim, duraJlle as travessias calmas (sem que a todos parecia dizer: "Tendo con-
pela sua própria voz. Ni'Jo pediu alo- mar, no sentido marujaI, e sem S.G.S .• fiança! Não há submarinos que se atre-
jamenlO. no sentido bélico) este espectáculo que vam a atacar, sabendo que eu estou
Contentou-se com o que lhe deram, seria completamente campestre ... se não vigilaJlle pela sane dos que aqrâ l'dO e
à proa, e láficou pensando (isto é certo, andássemos sobre a superflcie Ifquida: que em mim confiam.,.
pois osfactos o provaram) no prado, na o sacerdote, isto é, o cometeiro--tratador Atracado que estivesse o navio entdo
água fresca dos regatos, e ndo pensando deitado na manjedoura e o nosso .Jooo,., o nosso .Jorlo,. tinha dispensa e lá ia,
nas lindas I'aquinhas, exaClamenle por· meiga e placidamente, /ambe"do-Ihe a vagarosamente, com o tratador, pastar
que ... era boi. cabeleira, com aquela slUllfllgua rugo- - quaisquer ervinhas frescas que,
O seu olhar enterneceu os marujos. sa e grande que leriafeilo as deUcias de generosamente, sempre lhe ofereciam.
Creio que sabem que o homem do um dono de casa de comidas, se oDes- Este pasto era, porém, prejudicial ao
mar é rude. mas tem alma e coraçi2o. tillo (sempre caprichoso, até para os nosso amigo.
Foram a causa do sobejo. Ficou, en· bois) tivesse reservado ao nosso ,Jollo .. Restiru(do ao meio terrestre, do q/Ul/
Ião , resoMdo que o boi tinha sobejado. o miserávelfim de elltrar no que se COII· era, sem dúvida, originaria, ele sentia,
Suspensa a sell/o/ça de mane afro,,· vellcionou chamar o ventre de qualquer ao regressar, uma profunda Tlostalgia.
tosa e imerecida, o boi passou a ter per- terra habitada por pessoas que possam Nós v(amos, muitas vezes, o regresso
sOl/alidade, qrlO.se capacidade j urfdica. cult;var, nesta hora de dificuldades do ..]Oilo,., após a licença gouufa em
Mudou de alojamento e veio, como financeiras, o caro despono de comer. terra , à vista (e no sabor) de um fresco
pessoa categori"l.tUkl, para ré, parajunto A operaçi'Jo que o nosso .JOOo» prado ou de um confonável estábulo.
da escotilha da casa das maquinas. realizava, gratuita e gratameme, na Avallçal'Q alegre, atrás do sacerdOle,
Tomam-se indispensável definir-lhe cabeça do seu amigo tratador chamar· mencando a cauda.
a SIlO. sill/açilo a bordo e ficou resolvido, ·se-ja hoje. tecnicamente, lIma fixação. Quando, porém, os seus grandes
com geral consenso, que fosse elemdo Ocorre-me, lendo o relato das demons· olhos se fixavam no costado do "Pedro
à categoria de chefe de secçilo, com trações várias, feitas pelos nossos mais Nunes,., naquele inesquecfvel costado
direilO a impedimento. distintos ftgados, nos saIJes de várias onde estamm traduzidas IOdas as inevi·
Crioll-se, elllilo, para juslificar a agremiações, a brilhame acçi'Jo .tocial táveis misérias da guerra, enti'lo. fical'a
existêtlcia oficial do boi .João,., o car- que estava reservada ao I/OSSO boi se ele estarrecido.
go de chefe do serviço de mascotismo. tivesse teimado em ~'iI·er e fosse aperfei- Era a I/Oçrlo do balanço incómodo,
O "]0l10,.. ainda que boi de nascença, çoando a sua arte de lamber cabelos. era o enjoo, era a ang,isfia cOl/sada pe-
era. oficialmeme, a mascote do cnaa- Lerfamos, enulo, no noticiário ele- la possibilidade de um torpedeamenro -
dor auxiliar "Pedro Nunes,.. gante: .. Hoje, o conhecido e simpático sim, porque nós nunca acredilámos que
Achei lógica a soluçao. Suponho que boi .Joao-.., que desempenhol/ , durante e/e, rulo obstante ser o chefe do serviço
as mascotes silo destinadas a dar sane. a Grande Gllerra. a bordo do Cn/zodor do mascotismo, estaria absoluta e rigi-
Digo isto, porque nunca experimentei. auxiliar "Pedro Nunes .. , o espinhoso damente convencido da eficácia do sell
Sane dá também, (pelo menos aos cargo de mascote oficial, fará. no sali'lo poder cOfllra a lUla submarina.
olllros) a lotaria. da ... demonstrações da 110\'(1 arte de Era, porém, forçoso que ele entras-
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