Page 199 - Revista da Armada
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A Marinha na guerra
de África em 1895
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Foi há exactamente um século que, no sul em Inhambane, Lourenço
Marques e no vale do
de Moçambique, decorreram importantes Zambeze. As outras zonas do
operações militares que conduziram à território ficavam fora da
afirmação da soberania portuguesa naquela influência portuguesa e as
região da costa oriental africana. tentativas para a sua ocupa-
ção eram dificultadas pela
António Enes chamou-lhe
escassez de meios, pela dure-
"a guerra de África em 1895". za do clima e pela hostilidade
A Marinha teve uma importante participa- das populações.
No sul, o principal opositor
ção nessas operações, embora tivessem sido da presença portuguesa era o
os combates de Marraquene, Magul e povo vá tua, chefiado por um
Coolela, além da incursão sobre Chaimite, I - rei chamado Gungunhana,
as acções que então mereceram mais desta- I .-- . -,. que controlava um numeroso
cado registo. O presente texto pretende, essen- c-- e agressivo exército .
cialmente, recordar e homenagear a acção dos ~ A DEFESA DE LOURENÇO
navios e dos marinheiros do Incomati e do
Ao OOIpIIÇIo porlllgWl$l dt Moçrmbiqw-, MARQUES
Limpopo, que a História não registou com StJllndo RtnI PtliMitT, tIfI "His/ÓfW dt
AioÇlrmblqut', tvI. l/", [djlorwl ÜIllmpA,
a merecida justiça. l..i5boo 1m Em Setembro e Outubro de
1894 ocorreu a revolta das
epois das invasões refúgio e de refresco para as A reacção à colonização chamadas "Terras da Coroa"
francesas (1807/ 1811) naus da carreira da lndia". portuguesa dos territórios de e a pequena cidade de
D e das lutas liberais Até 1752 a ilha de Moçam- Moçambique foi muito dura, Lourenço Marques esteve
(1828/1834), e até à participa- bique esteve na dependência quer pela oposição dos seus ameaçada de assalto.
ção portuguesa na 1 Grande da vice-realeza da lndia e só povos, quer pela interferência A Estação Naval de Mo-
Guerra (1914-1918), nenhuma em 1836 foi instituído um e conflitualidade dos interes- çambique dispunha então de
campanha militar portuguesa governo-geral para o territó- ses ingleses presentes na poucos navios e quase todos
terâ sido tão relevante como rio No entanto, só no último mesma área, traduzidos entre em péssimas condições para
a guerra c~ntra Gaza ou "a quartel do século XIX aquele outros casos, pelo Ultima tum o serviço. Eram eles a conreta
guerra de Africa de 1895", território despertou verda- de 11 de Janeiro de 1890. "Rainha de Portugal", a ca-
deiramente o interesse portu- Porém, através do tratado de nhoneira "Quanza " e o
Os primeiros contactos dos gues. . 11 de Junho de 1891, estabele- pequeno vapor "Auxiliar",
Portugueses com Moçambi- Antes fôra a lndia, a seguir cido entre Portugal e a que estavam no porto de
que remontam a Janeiro de o Brasil e, só depois, com a Inglaterra, foi reconhecida a Moçambique, mais o vapor
N
1498, quando a armada de c.hamada "corrida para a s.oberania portuguesa na "Neves Ferreira e a pequena
Vasco da Gama se dirigia Afrita", que a conferência de Afrita Oriental, ficando apro- lancha a vapor "Xefina", sur-
, para a fndia e esteve na Berlim consagrara, o interes- ximadamente definidas as tos em Lourenço Marques.
"Terra da Boa Gente" e no se português se dirigiu para fronteiras que Moçambique Naquela emergência, a cor-
"Rio dos Bons Sinais", a costa oriental africana. A conservou até à actualidade. veta foi o primeiro socorro a
Mais tarde estabeleceram- criação da Divisão Naval da Nessa época, a soberania chegar a Lourenço Marques,
se na feitoria-fortaleza de África Oriental e Mar da portuguesa exercia-se, de tendo desembarcado uma
Sofala, no vale do Zambeze e, Índia, em 1883, foi uma das facto, apenas na área circun- força de 50 marinheiros co-
sobretudo. na ilha de Mo- manifestações politico-milita- dante da capital então insta- mandada pelo 2TEN Victor
çambique, "por ser porto de res desse interesse. lada na ilha de Moçambique, Leite Sepúlveda, onde se
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