Page 118 - Revista da Armada
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ACADEMIA  DE MARINHA



               Espadas contra canhões





         Em Novembro de 1995 o Comandante                      Bruscamente,  em  finais  do  independência  como também
         Saturnino Monteiro fez uma interessantíssima        século  XVI.  encontrando·se já  conservar a parte mais valiosa do
                                                              Portugal  sob  o  domínio  de  seu império ultramarino, ou seja,
         comunicação na Academia de Marinha,                 Castela, começaram os grandes  o Brasil.
         contestando com poderosos argumentos, teses         confrontos  navais no Atlântico e   Em  relação  às  causas  que
                                                              no  índico, entre as duas  nações  determinaram a perda,  por parte
         muito generalizadas, sobre a decadência da
                                                              Peninsulares e  os  Ingleses  e  de  Portugal, do  estatuto  de
         Marinha Portuguesa nos finais do século XVI.         Holandeses.  Verifica·se que a  grande potência  naval,  nos finais
         Pelo interesse do assunto e autoridade com          antiga  superioridade dos  Portu·  do século  XVI.  a ideia  mais  ge-
                                                             gueses  não  só  já  não  existia  neralizada  é  a de  que  isso se
         que o autor tem tratado ao longo dos anos,          como também,  muito pelo con·  deveu  ao facto  de a esquadra
         temas da nossa História Naval, a Revista da          trário, a sua  inferioridade,  nas  portuguesa ter sido  utilizada  pc>!"
         Armada solicitou·lhe um resumo da sua                batalhas e combates travados  no  Filipe  II  na  organização  da
                                                              mar, era manifesta.       "Invencível  Armada'",  em  cuja
         intervenção, a que este gentilmente acedeu,           Quais as causas dessa  quebra,  campanha  se  teria  perdido na
         com a disponibilidade de colaboração que tem         problema que a maior parte dos  sua quase totalidade, golpe de
         sido o timbre da sua relação com a RA ao             nossos  historiadores tem aborda·  que  nunca  mais se teria  podido
                                                             do de forma  muito defeituosa, é  recompor!
         longo de muitos anos.                               o que vamos tentar esclarecer.   A  verdade  é  que  dos  11
                                                               Para começar convirá recordar  galeáes  portugueses que fIZeram
             oi  este  o  título  de  uma  naval, o que lhe permitiu  tomar·  que entre 1 580 e 1668 Portugal  parte  da  "Invencível  Armada~ e
             comunicação que fizemos  se  senhor de  um  vasto  império  esteve continuamente em guerra,  que,  aliás,  foram  os  navios  que
          F na Academia de  Marinha,  ultramarino e controlar o riquíssi-  ora  com  Espanha, ora com  a  suportaram  o principal  peso dos
         em  Novembro do  aoo  passado,  mo coméróo marftimo do ocea-  Inglaterra,  ora com a Holanda,  combates, apenas se perderam 2
         e que agora vamos tentar resumir  no indico.         quase sempre com duas delas ao  por  acçâo do  inimigo  e 1 por
         por forma  a poder ser levada ao   Perante a superioridade do  mesmo tempo (ver esquema). Se  naufrágio, durante a viagem  de
         conhecimento dos  leitores da   Poder  Naval  português,  os  nos  lembrarmos que a Espanha  regres&>.
         ~Revista da  Armada~, conforme  restantes  países  da  Europa,  era então a maior potência  mili·   Se tivermos em conta que logo
         o desejo  manifestado pelo seu   nomeadamente a Inglaterra  e a  tar da Europa e que a Inglaterra e  no ano seguinte foi  inidada em
         Director.                 França, viram-se forçados a sub-  a Holanda se haviam transforma·  Portugal  a construção  de seis
           Como  toda  a gente sabe, em  meter-se à doutrina  do  Nmare  do nas  duas  maiores  potências  !"fOVOS  galeões, que o Estado da
         finais do século  'fN e princípios  dausum",  desistindo de navegar  navais do Mundo, é de espantar  India, só por si, tinha capacidade
         do século XVI  Portugal  transfor-  com  OS  seus  navios  para sul  das  como é que os Portugueses c0n-  para  construir três  galeões por
         mou-se  numa  grande potência  Canárias.             seguiram  nâo só  recuperar a sua  ano  e  que  a  perda  de  três




































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