Page 119 - Revista da Armada
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galeões ou  naus acontecia com             ?  " oi  njj.hifl        -         travados  no  golfo  de  Cambaia,
           frequenç:ia  nas  viagens  da  caro                                           em  Dezembro  de  1612  e
           reira da tndia, salta à vista que as                                          Janeiro  de 1613, entre  uma
           perdas sofridas pela armada, por-                                             armada  portuguesa  de  <I
           1tJguesa  durante a campanha da       "'"                                     galeões e 12 íustas, comandada
           "Invencível Armada" foram  míni·                  .'-                         por  Nuno  da  Cunha, e  uma
           mas.                                                                          armada  inglesa  de  apenas  1
             A tese de que a decadência da   CO' I                -          ' ....      nau  e 1 patacho,  comandada
           Marinha Portuguesa foi uma con·   ,  /tOL\l>O\   ,,,                          por Thomas Sest. Diz Boc,mo:
           sequência directa  da  "Invencível                                              "Brigaram  os  nossos galeões
           Armada* não  tem, como é evi·                                                 com o inimigo dois dias de sol a
           dente, a menor consistência.   a responsabilidade  pelos  nossos  liam-se.  Mas,  o  que  mais  sol,  sem  nunca  05  poderem
            Ouua tese  muito generalizada  insucessos.         importa  acentuar e a  fraca  abdlroar, por serem a sua  nau e
           é a de que 05 Espanhóis puseram   Uma outra tese muito genera-  potência da artilharia da época.  patacho muito mais ligeiros que
           a Marinha  Portuguesa  ao  seu  lizada para explicar a decadência  Era  rarissimo  afundar um  navio  os  galeões  e,  além  disso,
           seMço e deixaram ao abandono  de Portugal como grande patên-  a tiro  de canhão.  Mesmo  para  andarem  tão dcautelados  que
           os  domínios ultramarinos  por-  da naval é a de que 05 Ingleses e  destroçar  o aparelho de  um  nunca  brigaram  senão  de
           tugueses.                 os  Holandeses dispunham  de  navio, imobilizá-lo  e  levá-lo  à  barlavento,  e se d/guma  hora
             Na  realidade,  conforme se  peças  de artilharia  de  maior  rendição  era  necessário  con-  ficavamos  dele  não  {falavam
           pode ver  nos quadros,  foram  alcance que as dos Portugueses e  centrar contra  ele  o fogo  de  mais que de meterem pela boli-
           muito  mais  os  navios  espanhóis  Espanhóis,  o que lhes  permitia  vários  navios,  disparando  a  na até no-lo tornarem a ganhar;
           colocados ao serviço de  Portugal  destruir OS navios destes à distân-  Curta  distância e durante  horas  onde nos  malaram muita gente
           que os navios de Portugal  postOs  cia, sem  ocorrerem o  menor  a fio.       sem haver a certeza da  que lhe
           ao  serviço  da  Espanha.  De  risco!                 Como  explicar  então  a  nós ma/amos a eles . . _ lO
           realçar.  neste campo, o auxmo   Na  realidade, os  navios  ingle-  decadência  da  Marinha  Militar   Todas as descrições das  bata-
           dado  pela  Espanha  a Portugal  ses  dispunham  inicialmente de  Portuguesa  que teve  lugar  nos  lhas e combates da época (()(Ifir-
           para a recuperação da  Baía  em  um  certo número de colubrinas  começos do século XV1l?   mam,  inequivocamente, que os
           1625.                     (peças de  maior alcance) que   Quanto a nós,  a explicação é  navios  portugueses e espanhóis
            De  realçar  igualmente  que  efectivamente eram mais eficazes  muito  simples,  embora  talvez  eram  mais  lentos  e piores de
           entre  1599 e 1630, altura  em  que os canhões (peças de menor  possa  ser  um  pouco  dificil  de  bolina  que os ingleses  e holan-
           que o Brasil  P.'Issou  a ter priori.  alcance)  para  distâncias  da  entender  por  quem  não  seja  deses.  Este  é o ponto crucial  da
           dade sobre a India,  foram  envia-  ordem  dos  700  metros.  NO  marinheiro.   questão acerca do qual  não
           dos para o Oriente 63 galeões ou  entanto, OS canhões }á eram mais   Os  navios  ingleses e holan-  pode haver a menor düvida.
           naus de reforço,  os quais,  juntos  eficazes que as  colubrinas para  deses eram  mais  rápidos,  me-  Graças ã sua maior \-eIocidade
           aos que se  construiam em Goa,  distãncias  da  ordem  dos  200   lhores de bolina  e dispunham,   e  capacidade  de  bolina,  os
           Baçaim,  Damão e Cochim, eram   metros.  Ora, como o tiro da arti-  em  regra,  de  mais  canhões,  o   navios  ingleses e holandeses
           quantitativamente mais que sufi-  lharia  naquela época  só  tinha   que  lhe dava vantagem  no com-  adoptavam quase sempre a tácti-
           cientes para enfrentar os Ingleses  possibilidade de produzir resulta-  bate de artilharia;  os na\ios por-  ca de se colocarem a barlavento
           e os  Holandeses  naquele teatro  dos significativos quando efec-  tugueses eram  maiores tinham   e a menos de  200  metros dos
           de operações.             tuado a curta distáncia  (menos   castelos  mais altos e dispunham,   navios  portugueses,  procurando
            ~ certo que os  Ingleses e os  de  200  metros),  é evidente que,   normalmente, de  mais soldados,   concentrar o fogo  de  vários  dos
           Holandeses, sobretudo estes últi-  na  prática,  os  canhões eram   o que lhes coníeria vantagem  no   seus  sobre  um  dos  nossos,
           mos,  dispunham de  muito  mais  preferíveis às colubrinas.   combate  à  abordagem.  No   durante  muitas  horas,  até  lhe
           navios que os Portugueses.   Aliás,  apesar da  popularidade   entanto, a sua  menor velocidade   inutilizarem  o aparelho,  imobi·
            No  entanto, esse  factor  não  de que estas gozaram entre os   e fraca capacidade de bolina não   lizando-o  e  obrigando-o  ã
          chegou a pesar decisivamente na  Ingleses  na  época da "ll1\1!nóvel   lhes  permitem  impôt  tal  tipo de   rendição.  No caso de, antes
          evolução da guerra, uma vez que  Armada ~,  a verdade e que,  a   rom bal e.   disso, sofrem  danos e baixas ele-
          a maior parte desses navios eram  partir daí. foram sendo pmgressi-  Entre  os  inümeros  exemplos   vados ou de se lhes acabarem
          utilizados  no comércio  marítimo  vamente substituídas  pelos ca-  que  poderiamos  invocar  para   munições,  punham  termo  ao
          do Mar  do  Norte e do  Báltico  nhões  que se tomaram  o arma-  confirmar o que  acaba  de  ser   combate,  retirando com a maior
          bem  como  nas  ligações  com  a  mento  ~standard~ dos  navios até   dito,  escolhemos  a descrição   das facilidades.
          América do Norte.          aO  final  da  Marinha  de  vela,   feita  por  Bocarra  (Década  XIII,   Pelo  contrário, os  navios  por-
            Nas batalhas navais que travá-  como toda a gente sabe.   cap.VI,  pag.29)  dos  combates   tugueses quando  numa  situação
          mos  com  os  Ingleses e os  Ho-  A análise  dos combates trava-  "  II'PJII! ._t. !' I I. H   tádica favorável  nada  podiam
          landeses,  no  Oriente, estiveram  dos entre  navios  portugueses e   4O!ol&\"1ÇO lIA u.-... ..,...   fazer  para obrigar O adversário a
          envolvidos, da  nossa  parte, 96  ingleses ou  holandeses,  também   .:::&.   - -  combater.  Quando numa  situa-
          galeões ou  naus contra  95  naus  não  revela  qualquer espécie de  -- -- ,   ção  tádica  desfavorá\lel  eram
                                                                ,.
          daqueles.                  superioridade tecnológica  da       •     "         obrigados a combater até ao fim
            Apenas  no Atlãntico, onde  parte destes  no  dominio de arti-  ~   •   •   •   sem  possibilidade  de  se  es-
          paradoxalmente  fomos  nós  lharia.  Durante toda  a guerra  os   ,   "   -    caparem.  Esta  e não  qualquer
          quem ganhou  a guerra,  se fez  portugueses afundaram  8 na\~os                outra. é a principal  razão porque
                                                                     405U\"ltOI)[~
          sentir a superioridade numérica  principais  holandeses a tiro  de   -- -      perdemos a supremacia  naval,
                                                                        .:::&.
          dos  Holandeses.  Nas doze  bata-  canhão e perderam apenas 6 nas  -- --- ,    de que anteriormente desfruta-
                                                                               ,
          lhas  que,  juntos com  Espanhóis,   mesmas circunstâncias.   ~  "   •   ,     vamos  em  íavor dos  Ingleses e
          travamos  com  eles,  participaram   A única  conclusão  que  se   ~   "   •   dos Holandeses.        g
          203  galeões ou  naus  luso-espa-  pode tirar do que fica dito é que   -  -  ,   •
          nhóis contra 300 naus holandesas.   sob o ponto de vista artilheiro os    ,
                                                                ~        •     •
            Em  conclusão:  não  pode ser  navios  portugueses,  espanhóis,   ,-    ,               Sarumino MOnleiro
          atribuída ao factor  ~quantidade~  ingleses e  holandeses equiva-  •                                aIC
                                                                                            IUVI$TAOAAAMADA  . A8RI\.96  9
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