Page 122 - Revista da Armada
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As cheias de Mo~ambi"ue
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Os Fuzileiros Moçambicanos, acompanha-
dos por assessores portugueses, colabora-
ram nas operações de socorro às populações
afectadas pelas cheias do Umpopo.
epois de dez anos de da missão por parte dos
seca, cujos efeitos fo- portugueses, foi decisivo para a
D ram devastadores para manutenção da confiança e para
as populações de agricultores a organização do próprio
do baixo Umpopo, 1996 tJans.- processo de gestão de meios e
formou-se num pesadelo de de pessoal que, como é sabido,
excesso de chuva que prognos- ainda é escasso.
ticava uma verdadeira tragédia A 19 de Fevereiro, seguiram
para todo o distrito do Xai-Xaj para Gaza, quatro equipas do
(antiga João BeJo), na província Esquadrão de Botes da Escola
de Gaza. de Fuzileiros, ccrn o material
Um problema que afectou as necessário para a operação, e,
bacias do Save e lncomati mas no dia seguinte, o CTEN FZ
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que se tomou particularmente Ruivo, com os restantes ele- Sul dt Moç#mlriqut:. rtgiio dt ;(Di· XlIi
grave no caso do Limpopo mentos pertencentes à asses-
dada a dimensão do caudal e o soria de fuzileiros portugueses, e haveres que deveriam ser que se destinavam esses
elevado número de pessoas que deslocaram-se para o mesmo concentradas em locais pró- meios.
- ainda assustadas e traumatiza- local, levando duas viaturas e prios, mais elevados e com Contudo, este temor ini-
das pelo flagelo de guerra civil- quatro botes. acesso por via terrestre, com ciai foi-se dissipando e o
se viram desalojadas e despo- O pessoal foi distribuído meios sanitários, alojamentos acolhimento, quer das auto-
~das dos seus parros bens. pelas áreas de Chokwe e Xai- e apoio alimentar. Uma tarefa ridades, quer das popu-
Os Fuzileiros Moçambicanos, Xai, mantendo-se os portu- complexa e difícil, que exigia lações, revelou-se extrema-
fonnados por instrutores p:)Ttu- gueses nesta illtima área, por a presença de elementos da mente caloroso, fazendo com
gueses, foram solietados pelo ser a mais popuJosa e onde as polícia e da Cruz Vermelha, que a missão se tornasse
comando da Marinha de Guer- dificuldades se poderiam falando a língua local para extTemamente gratificante.
ra de Moçambique, que lhes sentir com mais intensidade. que pudessem explicar con- Ficaram satisfeitos os mo-
atribuiu a missão de evacuação As equipas de dois botes, venientemente a finalidade da çambicanos, com o êxito des-
e apoio sanitário a estas popu- actuaram em zonas previa- acção. A realidade da guerra ta sua primeira missão ope-
lações. Foi, talvez, a primeira mente definidas, reconhe- que, ainda há pouco tempo, racional, que, pelas mesmas
acção efectiva que lhes foi cidas e monotorizadas, pro- afectava aquela gente, criara razões, não podia deixar de
atnbuída, e o acompanhamento curando recolher populações factores de desconfiança constituir um motivo de
muito acentuados e, apesar orgulho para os seus ins-
do perigo que corriam, nem trutores portugueses. Foram
sempre era fácil convencê-los 9 dias de intenso esforço que
a retirar das suas terras, para valeram a pena pela expe-
locais mais seguros. A aproxi- riência que proporcionaram
mação de helicópteros (sul- e pelas vidas que se salva-
africanos) ou de botes com ram. Vidas de pessoas cujas
militares, provocavam a fuga carências são enormes, que
imediata, tomando-se funda- tudo suportam com estoi-
mental o lançamento prévio cismo e resignação, e que,
de guias e agentes da au- pela primeira vez, sentiram
toridade local que deveriam que havia alguém a ajudá-
elucidar as pessoas dos fins a -las: os fuzileiros! O
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