Page 162 - Revista da Armada

E, antes da bússola, como era?

navegação começou, naturalmente, por ser costeira. A principal era o Oriente. do latim. nascer dos astros, e os outros
posição da embarcação · ainda não lhe podemos ventos estimavam-se em relação às posições que o Astro-Rei ia
A chamar navio - determinava-se recorrendo â identifi- ocupando durante o seu trajecto diário. Assim, os nautas
cação da costa e assim se procedia durante as viagens até daqueles tempos orientavam-se e, só mais tarde, se nortearam,
alcançar o porto de destino. quando uma estrela, a a da Ursa Menor, foi ocupar um lugar
Por vezes, voluntária ou involuntariamente, a embarcação privilegiado nas imediações do Palo.
afastava-se de terra, deixava de a ter à vista, e então, os nau- De facto, devido á processão dos equinócios, que resulta
las observavam o vôo das aves, ou levavam pombos a bordo do movimento cónico descrito pelo eixo da Terra, através dos
(os escandinavos usavam corvos) para que estes, uma vez séculos. em relação à esfera celeste. só por volta do ano 500
largados, indicassem o rumo certo para encontrar a direcção da nossa Era, aquela estrela passou a ser a mais pr6xima do
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da terra. Palo, mas ainda situada a cerca de '0 de distância angular.
Um outro método que ajudava ii navegação e foi usado no Nos finais do século XV, a a da Ursa Menor já se encontrava a
Pacífico. baseava-se nas correntes marítimas. De faclo, as 3.5 11 do Polo, ° que constituia uma boa referência para dar
correntes que se formam na massa líquida dos mares, devido aos nautas a direcção do Norte. Tornou-se a estrela mais co-
às diferenças de temper- nhecida do firmamento e
atura e de salinidade, em passou a ter um papel
relação às águas que as sem par na epopeia dos
envolvem, ganham, por Descobrimentos. Hoje a
vezes, colorações que um Polar está a cerca de , II
observador mais atento do Polo e no ano 2095 a
pode identificar. Espe- menos de meio grau,
cialmente, os navegadores qu ase se confundindo
do passado lo ngín quo com aque le. Depois
dado que estes, carentes começará a distanciar· se,
de oUlras informações, 56 voltando a esta posiçâo
tinham de estar em per- daqui a cerca de 16 mil
manente diálogo com os anos, mas entretanto. ou-
elementos da natureza. tras estrelas bril hantes
Ao contrário do que ocuparão o seu Jugar.
adualmente acontece, em No Oceano Indico foi
que o divórcio entre o usado um outro tipo de
marinheiro e ó mar é cada rosa, a que podemos
vez maior. chamar azimu tal. Nesta
Assim, sabe-se, que os rosa, constituída por 32
indígenas das ilhas do rumos (o mesmo número
Pacífico, faziam longas com que viria a ser utiliza-
expedições marítimas, do no Mediterrâneo e no
facto aliás comprovado A AguIIl.1 de M~re"r, ~ mais ,m/igdW agulha magnériCOI de (0Ibrir0 porIugués. FofogrJfld da Atlãntico), esses rumos
riplC"d ex/SIenre no s,m!hsooidn Inslllllrion. fl.M
pela disseminação de eram determinados pelos
plantas e de peças de cerâmica. Reunia-se um número apre- azimules do nascer e do ocaso de estrelas judiciosamente
ciá\el de embarcações, que seguiam um chefe e se mantinham escolhidas para O efeito. E como a navegação se faziam nas
afastadas uma das outras, mas à vista, criando uma larga frente, proximidades do equador os azimutes do nascimento e do
que facilitava a descoberta d,l ilha que procuravam atingir. ocaso de cada uma delas era praticamente igual à sua distân-
Como a navegação era só reita de dia, ao anoitecer juntavam- cia polar.
-se para, na manhã seguinte, prosseguirem a viagem. É evidente que esta rosa tinha os seus deméritos. Um deles
Foram estes marinheiros que usaram mapas constituídos era só ser possível utilizá-Ia quando se vissem as estrelas no
por canas que se ligavam eOlTe si e onde eram assinaladas, céu e durante pouco tE'mpo depois do nascer ou antes do
não só as ilhas, por meio de conchas, como a direcção das acaso pois. caso contrário, o azimute alterava-se. E. também.
correntes. O chefe da expedição, usando estes mapas rudi- naturalmente, quando a navegação se aíastava do equador.
mentares ou os conhecimentos recebidos de outros mestres Todas estas dificuldades desapareceram quando a bússola.
experimentados, seguia um rumo fazendo o ângulo adequado im'E'ntada na China. foi trazida, certamente pelos árabes,
com a corrente. alcançando. assim, a ilha desejada. para o OcidE'nte. onde no início de século XIV, deu origem à
No ocidente, recorreu-se a outro modo de orientação. agulha de marear, constituída por uma rosa, que veio a ter 32
Dividiu-se o céu em oito regiões e deu-se a cada uma delas o rumos ou ventos, debaixo da qual eram colocados ferros
nome de um vento. Esta imagem ligada à concepção da cevados, queremos dizer, magnetizados, rodando livremente
Terra, que se julgava constituída por um disco, está possivel- sobre um pivol. Diz a tradiçâo que o inventor deste magnífico
mente na origem da rosa dos ventos. Ainda existe, em Atenas instrumento, foi um tal Flávio Cioia, de Amalfi. Tenha sido ou
nas proximidades da Acrõpole, um célebre monumento com nâo o seu inventor, o certo é que a agulha de marear íoi,
12 metros de altura, conhecido pela Torre dos Ventos. cons- durante séculos, o Nane dos pilotos e. ainda hoje. continua a
truido no século I a.c., por Andrónico de (irra, que tem oito ser, quando íalham os modernos sistemas de navegação. 9
faces, correspondentes a oito ventos, cada um dE'lE's repre-
sentado por uma figura alegórica. ESlácio dos Reis
Neste modo dE' dividir o horizonte. o vento ou a direcção C\fG
16 ",,.\1096 · RE\1STAOAARMAOA