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MocolI  ('  a  Marilllla







                        Navios em águas macaenses




              nquanto o território de Macau foi                               :  CORVETAS MISTAS E CANHONEIRAS
                                                                              ,
              tutelado por Goa, só em circunstân-                             ,
                                                                              ,
          E cias especiais, nomeadamente em                                   : APÓS a consolidação da soberania
          acções de socorro, foram deslocados                                 : portuguesa em Macau, tacitamente aceite
          navios para as águas de Macau.                                      : pelas autoridades chine&1S e conseguida
          No primeiro quartel do século XIX, assim                            : através de um complexo processo
          acontecera, por exemplo, com o bergantim                            : político-diplomático que podemos sihlar
          "5. Jmo Baptista" ecom a fragarn "Salamrmdm",                       : entre os anos de 1845 e 1862, a Marinha
          que mais tarde foi classificada como                                 passou a manter regularnlCnte navios
          corveta e tomou o nome de "II/fm/ta                                  na Estação NilVal de Macau.
          RegeI/te". Tratava-se de navios da                                   De facto, num período de JX'ucos anos,
          Marinha de Goa, construídos localmente                               a Marinha )J<1S&1ra a dispor de navios
          e em especial nos famosos estaleiros de                              de propulsão mista, como as corvetas
          Damão, CU~1 área de intervenção                                      "Bartolomeu Dias", "Eslefâ/Jia", "Sá da
          operacional se limitava í'1  costa do Malabar.                       Bal/deiro", "Duque da Terceiro", "Duque
                                                                               de Palmela" e outras mais, além de algumas
          Por isso, pode considerar-se que o                                   dezenas de canhoneiras como a "&mio
          primeiro navio da Marinha Portuguesa                                 de ÚlZilrim", a "lnrco", a "Tejo", a
          que saíu de Lisboa expressamente com                                 "Rio Lima" e muitas outTas (1).
          destino a Macau, aí pernlanecendo                                    Porém, um outro factor foi decisivo
          com mis&io essencialmente militar,                                   para concretiz.1r a presença afirmativa
          foi o bergantim "Tejo" comandado pelo                                da Marinha em Macau: a abertura do
          1 ~ tenente Fortun.1to do Vale (1843-1844).                          canal do Suez em 1869.
          Depois, outros navios tiveram idêntica                               Enquantoa viagem de Lisboa a Macau
          missão. Durante a crise motivada pelo                                pela rota do Cabo ultrapassava
          assassinato do governador Ferreira do                                freql.lentemente os 6 meses, a viagem
          Amaral estiveram em Macau a corveta   AI81'ns dos nJari"heiros i/liStres 'fue lIat'<'8aram   pelo canal do Suez podia ser feita em
          "D. João 1", a fragata "íris" e a fragata   lias IÍgrta$ dtMacau:Guarr!a-marill/la Cândido   pouco mais de 2 meses. Assim acontecera,
                                               dos Rris (colVt'ta "DuqJlt' dr Palmel~", 18i2-73J,
          "D. Maria lI". A corveta "D. Jaio r só   l~ Trnmte Weuces1m, de Morais (rotllalld(",,~d~   por exemplo, com a corveta "Sá da
          regressou a Lisboa em Dezembro de 1851,                              Bal/deim" em 1866 pela rota do Cabo
                                             canl,olleira "Tejo", 1890), I"T/'IImtc Gago Coutinho
          tendo sido  substihlída pelo brigue   (roll/anda/Jlc .III m Jl/lOnd ra "Pátria", 19U -12)   (208 dias de viagem) e, mais tarde, com
          "Molldego". Depois voltaram a Macau,   t  l ' TC1lfJlte Maglllhâes Comia (comlltldm,te   a corveta "Estefâllia" em 1884 pelo canal
          novamente a corveta "0./000 l", de novo o   d~ canj'oneira "Pdtria", J91J-l7).   do Suez (62 dias de viagem).
          brigue "Molldego" que no regresso a Lisboa
          naufrag~lU devido a um temporal no   escunas a vapor para serviço da colónia,   o primeiro navio de propulsão mista que
          oceano Indico e, uma vez mais, a corveta   que deveriam denominar-se "CamOOi" e   a Marinha colocou na Estação Naval
          "D.João I" que regressou a Lisbo.1 em   "Pri/ld~ D_ Carlos".         de Macau foi a corveta "Sá dll Balldeira"
          Fevereiro de 1862.                A escuna "CamM" foi constnúda      que chegou a Macau em Maio de 1867
          A partir de então, pode considerar-se   na China e entrou ao serviço em 1865,   e regressou a Lisboa em 1871, tendo sido
          que, durante mais de cem anos, a presença   tendo participado em inúmeras acções   rendida pela corveta "D. jooo 1" que voltou
                                                                                    i1
          naval portuguesa em Macau foi uma   de fiscalização da costa e de combate à   pela 4 vez a Macau, onde procedeu ao
          constante e uma garantia de segurança   pirataria. Resistiu a alguns tufões e foi   levantamento hidrográfico do porto.
          e esrnbilidade para o território.   abatida em 1876.                 A corveta mista "Duqrle de Palmela" saíu
                                            A esruna "Prillci~ D. Cnrlos" fôra construída   de Lisboa para render a "Sá da Balldeira" e
          AS CANHONEIRAS "CAMÕES"           na Inglaterra, servira como navio de carga   actuar no âmbito da repress.'io da pirataria.
          E "PRíNCIPE D. CARLOS"            entre Hong Kong e Xangai, participou em   Foi o primeiro navio de guerra português
                                            acções de comb.1te í'1 pirataria, efectuou   que utilizou o t.1nal do Suez e chegou a
          No entanto, a Marinha passava por um   diversas viagens logísticas a Timor, mas   Macau em Janeiro de 1872. No dia 16 de
          período de reapetrechamento e     perdeu-se por encalhe devido ao tufão de   Março de 1872, quando navegava de
          modernização, não podendo assegurar   23 de Setembro de 1874, que habihmlmente   Hong Kong p.:1ra Saigâo, onde ia embmcar
          uma presença naval permanente em   é considerado como o mais devastador na   o governador de Macau, com dia claro e
          Macau. Além disso, mesmo com um só   existência de Macau.            bom tempo, encalhou nas proximidades
          navio em Macau, havia muitos períodos   Ambos os navios foram guarnecidos por   do porto de destino. Num acto desesperado,
          em que se ausentava e deixava o território   oficiais da Annada e, por ordem do   o comandante do navio decidiu atirar-se
          desprotegido.                     governador de Macau, foram entregues   à água para pôr fim à vida. Alguns
          Então, em 1864 o governo de Macau pediu   à Estação Naval a partir de 1 de Setembro   elementos da guarnição, entre os quais o
          ao rei e foi autorizado a construir duas   de 1874 e classificados como canhoneiras.   guarda-marinha Carlos Cândido dos Reis,
         XII  JULHO 97 •  REVISTA  DA ARMADA
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