Page 236 - Revista da Armada
P. 236
MocolI (' a Marilllla
Navios em águas macaenses
nquanto o território de Macau foi : CORVETAS MISTAS E CANHONEIRAS
,
tutelado por Goa, só em circunstân- ,
,
E cias especiais, nomeadamente em : APÓS a consolidação da soberania
acções de socorro, foram deslocados : portuguesa em Macau, tacitamente aceite
navios para as águas de Macau. : pelas autoridades chine&1S e conseguida
No primeiro quartel do século XIX, assim : através de um complexo processo
acontecera, por exemplo, com o bergantim : político-diplomático que podemos sihlar
"5. Jmo Baptista" ecom a fragarn "Salamrmdm", : entre os anos de 1845 e 1862, a Marinha
que mais tarde foi classificada como passou a manter regularnlCnte navios
corveta e tomou o nome de "II/fm/ta na Estação NilVal de Macau.
RegeI/te". Tratava-se de navios da De facto, num período de JX'ucos anos,
Marinha de Goa, construídos localmente a Marinha )J<1S&1ra a dispor de navios
e em especial nos famosos estaleiros de de propulsão mista, como as corvetas
Damão, CU~1 área de intervenção "Bartolomeu Dias", "Eslefâ/Jia", "Sá da
operacional se limitava í'1 costa do Malabar. Bal/deiro", "Duque da Terceiro", "Duque
de Palmela" e outras mais, além de algumas
Por isso, pode considerar-se que o dezenas de canhoneiras como a "&mio
primeiro navio da Marinha Portuguesa de ÚlZilrim", a "lnrco", a "Tejo", a
que saíu de Lisboa expressamente com "Rio Lima" e muitas outTas (1).
destino a Macau, aí pernlanecendo Porém, um outro factor foi decisivo
com mis&io essencialmente militar, para concretiz.1r a presença afirmativa
foi o bergantim "Tejo" comandado pelo da Marinha em Macau: a abertura do
1 ~ tenente Fortun.1to do Vale (1843-1844). canal do Suez em 1869.
Depois, outros navios tiveram idêntica Enquantoa viagem de Lisboa a Macau
missão. Durante a crise motivada pelo pela rota do Cabo ultrapassava
assassinato do governador Ferreira do freql.lentemente os 6 meses, a viagem
Amaral estiveram em Macau a corveta AI81'ns dos nJari"heiros i/liStres 'fue lIat'<'8aram pelo canal do Suez podia ser feita em
"D. João 1", a fragata "íris" e a fragata lias IÍgrta$ dtMacau:Guarr!a-marill/la Cândido pouco mais de 2 meses. Assim acontecera,
dos Rris (colVt'ta "DuqJlt' dr Palmel~", 18i2-73J,
"D. Maria lI". A corveta "D. Jaio r só l~ Trnmte Weuces1m, de Morais (rotllalld(",,~d~ por exemplo, com a corveta "Sá da
regressou a Lisboa em Dezembro de 1851, Bal/deim" em 1866 pela rota do Cabo
canl,olleira "Tejo", 1890), I"T/'IImtc Gago Coutinho
tendo sido substihlída pelo brigue (roll/anda/Jlc .III m Jl/lOnd ra "Pátria", 19U -12) (208 dias de viagem) e, mais tarde, com
"Molldego". Depois voltaram a Macau, t l ' TC1lfJlte Maglllhâes Comia (comlltldm,te a corveta "Estefâllia" em 1884 pelo canal
novamente a corveta "0./000 l", de novo o d~ canj'oneira "Pdtria", J91J-l7). do Suez (62 dias de viagem).
brigue "Molldego" que no regresso a Lisboa
naufrag~lU devido a um temporal no escunas a vapor para serviço da colónia, o primeiro navio de propulsão mista que
oceano Indico e, uma vez mais, a corveta que deveriam denominar-se "CamOOi" e a Marinha colocou na Estação Naval
"D.João I" que regressou a Lisbo.1 em "Pri/ld~ D_ Carlos". de Macau foi a corveta "Sá dll Balldeira"
Fevereiro de 1862. A escuna "CamM" foi constnúda que chegou a Macau em Maio de 1867
A partir de então, pode considerar-se na China e entrou ao serviço em 1865, e regressou a Lisboa em 1871, tendo sido
que, durante mais de cem anos, a presença tendo participado em inúmeras acções rendida pela corveta "D. jooo 1" que voltou
i1
naval portuguesa em Macau foi uma de fiscalização da costa e de combate à pela 4 vez a Macau, onde procedeu ao
constante e uma garantia de segurança pirataria. Resistiu a alguns tufões e foi levantamento hidrográfico do porto.
e esrnbilidade para o território. abatida em 1876. A corveta mista "Duqrle de Palmela" saíu
A esruna "Prillci~ D. Cnrlos" fôra construída de Lisboa para render a "Sá da Balldeira" e
AS CANHONEIRAS "CAMÕES" na Inglaterra, servira como navio de carga actuar no âmbito da repress.'io da pirataria.
E "PRíNCIPE D. CARLOS" entre Hong Kong e Xangai, participou em Foi o primeiro navio de guerra português
acções de comb.1te í'1 pirataria, efectuou que utilizou o t.1nal do Suez e chegou a
No entanto, a Marinha passava por um diversas viagens logísticas a Timor, mas Macau em Janeiro de 1872. No dia 16 de
período de reapetrechamento e perdeu-se por encalhe devido ao tufão de Março de 1872, quando navegava de
modernização, não podendo assegurar 23 de Setembro de 1874, que habihmlmente Hong Kong p.:1ra Saigâo, onde ia embmcar
uma presença naval permanente em é considerado como o mais devastador na o governador de Macau, com dia claro e
Macau. Além disso, mesmo com um só existência de Macau. bom tempo, encalhou nas proximidades
navio em Macau, havia muitos períodos Ambos os navios foram guarnecidos por do porto de destino. Num acto desesperado,
em que se ausentava e deixava o território oficiais da Annada e, por ordem do o comandante do navio decidiu atirar-se
desprotegido. governador de Macau, foram entregues à água para pôr fim à vida. Alguns
Então, em 1864 o governo de Macau pediu à Estação Naval a partir de 1 de Setembro elementos da guarnição, entre os quais o
ao rei e foi autorizado a construir duas de 1874 e classificados como canhoneiras. guarda-marinha Carlos Cândido dos Reis,
XII JULHO 97 • REVISTA DA ARMADA