Page 167 - Revista da Armada
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Entretanto, a Ditadura resultante dava ao país o que a desacredita-
da Democracia lhe recusara; uma estabilidade política que, embora a
um preço histórico, permitia outros vôos. As sublevações nos Açores,
Madeira e Guiné permitiram que Magalhães Correia obtivesse a
aprovação do «Programa Naval de 1930».
Em Julho de 1931, é, como Chefe interino do EMN, promovido a
CMG e logo nomeado Chefe da Missão Naval que em Newcastle fis-
calizará a construção dos navios.
Quando o «Gonçalo Velho» foi recebido no Tejo, Pereira da Siva,
foi pelo novo ministro saudado como o «denodado percursor daque-
la hora feliz».
Concluido com brilho o Curso Naval de Guerra volta ao EMN,
sendo nomeado vogal do Conselho Técnico Naval e de novo
envolvido no seu projecto dum Arsenal que será o do … Alfeite. E no
reajustamento dos serviços e Cursos Navais de Guerra às novas mis-
sões e navios.
Os ministros da Guerra (41) e da Marinha nomeiam-no então presi-
dente da comissão que conceberá o Conselho Superior de Defesa
Nacional mas como a única opinião que sempre defendera e a que
não dera forma de letra, por não suportar que o envolvessem em
A última cerimónia poucos dias antes do 28 de Maio: Pereira da Silva com o seu qualquer confusão, foi a promoção por … escolha, é, em Janeiro de
colega da pasta das colónias, general Vieira da Rocha, depois de uma imersão 1933, atingido pelo … limite de idade.
num submarino, ao largo da barra. No grupo figuram também o comandante Na simplicidade do discurso que proferiu no jantar oferecido pela
Almeida Henriques e os 1 tenentes Nuno de Brion e Tavares de Almeida.
os
Armada revela «o desgosto» ao fim duma vida consagrada ao
«nosso ressurgimento como nação marítima …para que a marinha
cícios conjuntos do «Hidra», do «Golfinho» e do«Foca», onde de guerra adquira a potência necessária, não só material, como
embarcaram. moral, mental e técnica.» e lembra que se o governo teve «o apoio
Esgotado o crédito da Democracia, participa, leal a si e ao governo, da opinião pública, é porque a propaganda naval, mercê da sua
no derradeiro conselho de ministros da I República. energia e tenacidade, soube conquistá-la», elogiando as
«Acabara-se, de facto, «tudo», como dissera Pereira da Silva a sua «numerosas publicações em livros e artigos de jornais, de oficiais e
/segunda/ esposa.» com quem acabara de se casar depois de, em civis,» e assinalando «Todos os problemas orgânicos…Reserva
1924, enviuvar e de, já em 1925, ver sucumbir a uma, então incurá- Naval e outros detalhes por mim tratados … em artigos dos Anais
vel, septicémia, o mais velho dos seus dois filhos, o promissor chefe do Clube Militar Naval» onde registámos 57 entradas (42), funda-
de curso, precisamente, na … Escola Naval. mento da sua «acção, que motivou, segundo penso, a carinhosa
Cinco dias depois, comparece, com toda a dignidade, na posse de homenagem que estou recebendo».
Jaime Afreixo e é logo convidado para subchefe do EMN onde con- No ano seguinte publica «Política Internacional e Política Naval»
tinua a sua acção de sagaz e persistente doutrinador. Como no CMN, que o prof. Hernani Cidade endossou à sua «inteligência penetrante,
na Liga Naval ou onde fosse chamado… clara e atenta» e dedica-a ao seu outro filho, um notável magistrado.
No resultante livro que publica em 1928 defende, como já em A propósito do «declive da nossa Marinha Mercante para o Zero
1909, uma concepção de força aeronaval em que o porta-aviões e o Marítimo» respigamos;«O mesmo sucederá à nossa Marinha de
submarino «arma de largo futuro» têm afinal a importância que hoje Guerra de hoje … se não houver uma propaganda persistente e con-
lhe atribuem os estrategos. tínua /e não/ respeitarmos o princípio da continuidade do esforço
As operações combinadas com o Exército e a Aviação que desde (43), aliado aos impulsos de sãs iniciativas».
1908 estudara, conduzem-no à Escola Militar (37), onde, durante dois Em 1935, excepcionalmente a Armada promove a contra-almirante
anos, lecciona a cadeira de «Operações Navais», granjeando aí Afonso de Cerqueira e … Pereira da Silva que nas provas de artilharia
admiradores (38).
Recordará aí que a exiguidade do nosso território continental e a
excelência dos nossos portos podendo ser uma perigosa fragilidade
para a Espanha, o era certamente para nós, pois, «pelo bloqueio
efectivo … Portugal ver-se-ia em breve esmagado pela fome e nem
mesmo as operações militares em terra prosseguiriam, por não
podermos prover /sem o auxílio da Marinha/ ao sustento das nos-
sas tropas» se não quizéssemos, claro, ficar à «mercê do auxílio»
dos nossos aliados (39).
Dominando temas de história marítima e de política internacional e
naval prevê ainda a intervenção dos Estados Unidos da América na
política europeia e o seu interesse pelos Açores, bem como a continu-
ação dos conflitos de interesses em África. Defende uma credível
aproximação nossa, em termos navais, à potência marítima dominante
e, em absoluta e inequívoca paridade, à vizinha … Espanha (40).
Em 1929, Pereira da Silva trata «A missão das comunicações na
guerra naval» no CMN que, no ano seguinte, o convida para a
presidência duma Comissão Executiva da Propaganda da Marinha
que galvaniza os portugueses até ao … Brasil. Incluiu uma «Semana
da Marinha», uma exposição das suas actividades, o lançamento de
panfletos sobre as cidades do país, etc.
Graves incidentes em Angola sublinharam a nossa impotência Uma fotografia que tem mais de 70 anos: – Pereira da Silva com Maurício de
naval e o Ministro encarrega o EMN de elaborar um programa de que Oliveira, durante a grande campanha de propaganda do nosso ressurgimento
Pereira da Silva será, naturalmente, o relator. naval.
20 MAIO 99 • REVISTA DA ARMADA