Page 190 - Revista da Armada
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Sobre o alargamento da NATO o novo  CONCLUSÕES                      europeus procuravam a razão de ser da
         conceito estratégico refere que se espera a                           NATO, os EUA conferiam-lhe um novo alen-
         entrada de novos membros. Por isso, nos  O novo conceito estratégico conceptualiza  to com o conceito de Parceria para a Paz
         próximos anos serão previsivelmente con-  o caminho que a NATO, ao iniciar a sexta  (PfP), que materializou o estender da mão
         vidados outros Estados que: desejem e te-  década de vida, está disposta a percorrer  aos antigos adversários, e com o conceito de
         nham capacidade para assumir as respon-  para abordar os desafios e as oportunidades  forças-tarefa conjuntas e combinadas (CJTF),
         sabilidades e obrigações decorrentes da  de um novo século. De relevante importa  que estabeleceu um novo enquadramento
         participação na Aliança; contribuam para  reter que:                  para a actuação operacional. Por isso, não
         os interesses políticos e estratégicos da                             nos devemos admirar com o facto de o novo
         Aliança; fortaleçam a sua eficácia e coe-  • Confirma o objectivo permanente e pri-  conceito estratégico consagrar aspectos dou-
         são; e melhorem a segurança e a estabili-  oritário da Aliança consagrado no Tratado de  trinários que servem inequivocamente os
         dade global na região euro-atlântica.  Washington, e estabelece as tarefas que con-  interesses de segurança dos EUA: operações
                                            sidera mais ajustadas para actuar no ambi-  de paz; cooperação com a Europa de Leste;
           A presença na Europa de forças con-  ente estratégico presente e futuro;  diálogo com os países do Mediterrâneo;
         vencionais e nucleares dos Estados Uni-                               incremento da luta contra a proliferação de
         dos é considerada vital para a segurança                              armas de destruição maciça; lançamento de
         aliada. Neste âmbito, o novo conceito es-                             uma reflexão para adaptar as missões, os pro-
         tratégico esclarece que está previsto man-                            cedimentos, o armamento e o equipamento
         ter uma combinação adequada daqueles                                  da NATO aos novos riscos.
         dois tipos de forças, em função dos requi-
         sitos de cada momento.                                                  Quanto à Identidade Europeia de
                                                                               Segurança e Defesa o documento não apre-
           Quanto às missões das forças da                                     senta nenhuma evolução significativa face ao
         Aliança, o documento evidencia o seu                                  anterior conceito estratégico. Com efeito, a
         papel na resolução de crises e enfatiza a                             constituição de uma capacidade de defesa
         diversidade e complexidade dos agentes,                               europeia no seio da NATO, capaz de agir de
         perigos, situações e exigências daquelas                              forma autónoma, continua uma miragem.
         missões, que poderão variar entre a ajuda                             Contudo, estamos firmemente convictos que
         humanitária e os combates.                                            a União Europeia prosseguirá a sua caminha-
                                                                               da na senda da materialização dos seus
           O novo conceito estratégico considera                               objectivos nas áreas do progresso e do bem
         fundamental a existência de forças bem                                estar. Uma vez alcançados a um nível razoá-
         treinadas e suficientemente equipadas,                                vel, as preocupações de segurança adqui-
         com elevado grau de preparação e em  • Clarifica que a NATO contribuirá para  rirão outra prioridade e a tendência será para
         número adequado para responder às con-  um ambiente de segurança em evolução e  edificar uma verdadeira capacidade comum
         tingências, assim como estruturas de  promoverá a estabilidade com a força decor-  de defesa, que se autonomizará  progressiva-
         apoio, instrumentos de planeamento e  rente do potencial estratégico dos seus mem-  mente da NATO, podendo contribuir para a
         recursos de comando e controlo. Neste  bros e do compromisso comum para com a  afirmação, a longo prazo, de uma super-
         contexto, é referido que a Aliança deve  democracia e a abordagem à resolução pací-  potência capaz de rivalizar com os EUA.
         estar preparada para apoiar com recursos  fica dos conflitos;
         “separáveis mas não separados”, as ope-                                 O presidente Clinton, ciente da elevada
         rações conduzidas pela UEO ou por qual-  • Orienta a política de segurança e defesa  probabilidade deste cenário, tem referido
         quer outra coligação acordada.     da Aliança, os seus conceitos operativos, o  que a capacidade de defesa europeia
                                            papel das suas forças convencionais e  reforçará a Aliança, deverá trabalhar no seio
           A possível participação de Estados asso-  nucleares, e os seus planos colectivos de  desta e ajudará a manter os americanos com-
         ciados e de países terceiros em operações  defesa.                    prometidos com a NATO, porque  permite a
         dirigidas pela NATO, e as operações con-                              partilha de esforços estratégicos. É uma
         juntas com a Rússia são considerados  Este novo conceito estratégico retém as três  chamada de atenção muito subtil de quem
         valiosos contributos para o desempenho  primeiras tarefas fixadas no documento  pretende que a NATO, seja o “pivot” central
         da Aliança na resolução das crises que  aprovado em 1991, suprime a quarta (preser-  da segurança na Europa, e permaneça indis-
         afectem a segurança euro-atlântica.  var o equilíbrio estratégico na Europa), que  pensável e actuante durante muitos anos.
                                            ficou sem conteúdo depois do desapareci-
           Relativamente a aspectos específicos  mento do Pacto de Varsóvia e da implosão  A defesa europeia ainda tem um longo e
         das forças, o novo conceito estratégico  da URSS, e acrescenta duas novas tarefas: a  difícil caminho a percorrer. Para além disso,
         salienta a necessidade de a Aliança estar  gestão de crises e as relações de parceria.  a mais do que previsível imposição da von-
         preparada para constituir forças de grande  Estas duas tarefas, na actual conjuntura  tade da NATO a Slobodan Milosevic não
         dimensão, por forma a poder responder a  estratégica, permitirão que os EUA se man-  beneficiará, em primeira instância, a ideia de
         qualquer mudança relevante no ambiente  tenham altamente empenhados na Europa, o  uma defesa europeia: será a consagração da
         de segurança. Para além disso, o docu-  que implicará a manutenção do controlo dos  estratégia global dos EUA no pós-guerra fria,
         mento também refere que a estratégia da  comandos militares integrados da NATO,  passo essencial para fazer face ao caos
         Aliança não contempla a utilização de  certamente do desagrado de aliados como a  estratégico conjuntural, estabelecendo pro-
         guerra química nem biológica. Quanto às  França.                      gressivamente uma nova ordem interna-
         forças nucleares o seu papel é considera-                             cional, onde a natureza das relações entre os
         do político: conservar a paz e impedir a  Um outro aspecto a reter do documento  actores será diferente da actual.
         coacção ou qualquer tipo de guerra. O  agora aprovado relaciona-se com o facto de
         documento afirma que estas forças são o  o pensamento estratégico em vigor na
         garante aliado de que os eventuais adver-  Aliança ser essencialmente americano. Assim
         sários não adoptam a agressão militar  acontece, porque após a queda do muro de         António Silva Ribeiro
         como opção estratégica.            Berlim em 1989, enquanto os aliados                               CFR
                                                                                         REVISTA DA ARMADA • JUNHO 99  7
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