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PONTO AO MEIO-DIA







                                             A Marinha
                                             A Marinha

            e as missões de interesse público
            e as missões de interesse público





                 análise de legislação em vigor e  nos Açores e dois patrulhas na Madeira  abertos ao público, recebem cerca de
                 dos normativos complementares  (em ambos os casos reduzido a uma uni-  500.000 visitantes anuais, no seu conjunto.
          Aque fixaram as missões das Forças  dade durante metade do ano, face a restri-  Convirá salientar ainda a utilização das
          Armadas permite que se considerem de  ções financeiras), uma fragata ou corveta  instalações desportivas da Marinha pelas
          interesse público as missões que não têm  na área oceânica do Continente (havendo  mais diversas organizações e as frequentes
          natureza intrinsecamente militar, nem se  um navio similar de reserva) e seis patru-  visitas a navios e a estabelecimentos da
          relacionam directamente com a política  lhas de diversos tipos, nas áreas costeiras e  Marinha, que têm conhecido grande incre-
          externa do Estado. No caso da Marinha,  ribeirinhas do Continente.   mento nos últimos anos.  Para além disso,
          apesar de quase todos os meios navais  O Sistema de Autoridade Marítima  são inúmeras as acções pontuais de colabo-
          serem capazes de executar múltiplas tare-  (SAM), já referido, tem a maior expressão  ração com centenas de entidades, incluindo
          fas simultaneamente, existem estruturas e  institucional nas capitanias dos portos, que  cedência de transportes, formação de pes-
          unidades especialmente vocacionadas para  asseguram nas respectivas áreas, o cumpri-  soal, exposições, seminários, cooperação no
          as missões de interesse público, as quais se  mento das disposições legais relativas às  combate a actividades ilícitas, análises toxi-
          podem dividir em dois grandes grupos:  matérias da competência do SAM e na  cológicas no âmbito desportivo, apoio de
            • As que derivam do exercício da autori-  Polícia Marítima, com competência espe-  mergulhadores no contexto humanitário
          dade do Estado nos espaços marítimos sob  cializada no mesmo âmbito. O Instituto de  etc, etc, etc.
          jurisdição nacional;               Socorros a Náufragos (ISN) e a Direcção de  Para se ter uma ideia de grandeza do
            • As que estão associadas a compromis-  Faróis encontram-se agregados à estrutura  esforço envolvido nas missões de interesse
          sos, necessidades ou interesses específicos  organizacional que suporta o SAM, con-  público, bastará referir que estas assimilam
          do país e que, de algum modo, comple-  ferindo-lhe maior coerência e eficácia. Os  cerca de 60% dos custos directos de toda a
          mentam as anteriores.              meios próprios do SAM, para além das  actividade, só na área operacional. Por
            Estão no primeiro caso as actividades  numerosas infraestruturas, incluem mais  outro lado, as verbas afectas ao Sistema de
          desenvolvidas em terra ou nas zonas  de 100 lanchas e embarcações de vários  Autoridade Marítima, somadas com os
          ribeirinhas pelos meios afectos ao Sistema  tipos, sendo ainda muito significativo o  encargos de utilização dos meios navais
          de Autoridade Marítima (SAM) rela-  material distribuído pelo ISN às corpo-  que o apoiam, totalizam mais de 10 mi-
          cionadas com a segurança marítima e a  rações de bombeiros de todo o país – 23  lhões de contos (1998), o que representa
          preservação do meio marinho (designada-  auto porta-cabos, 127 embarcações pneu-  cerca de 20% do Orçamento de Fun-
          mente a fiscalização da pesca), protecção  máticas e 132 motores fora-de-borda.       cionamento da Marinha (OFM). O quanti-
          dos recursos do leito mar, do subsolo mari-  O Instituto Hidrográfico é o único orga-  tativo de pessoal que presta serviço nos
          nho e património cultural subaquático.  nismo que em Portugal produz cartas de  orgãos que vêm sendo referidos, ascende a
          Porém, são os navios atribuídos ao Coman-  navegação oficiais e que publica roteiros da  2100, dos quais 1400 pertencem ao SAM.
          do Naval, ou a comandos subordinados,  costa e dos portos, avisos à navegação e ta-  A atribuição à Marinha de um largo
          que viabilizam a extensão da mesma auto-  belas de previsão de marés. Tem também  espectro de missões de interesse público
          ridade às zonas mais afastadas da costa,  capacidades instaladas para realizar estu-  optimiza a relação custo-eficácia,  já que a
          em perfeita harmonia estrutural.   dos e investigação científica em disciplinas  polivalência das unidades navais e das
            O segundo grupo de missões de interes-  muito variadas ligadas ao ambiente maríti-  mais importantes infra-estruturas de apoio
          se público, inclui inúmeras tarefas, tais co-  mo. As actividades hidro/oceanográficas  evita a duplicação destes recursos. O
          mo, a busca e salvamento no mar, a faro-  são apoiadas por dois navios oceânicos,  mesmo raciocínio encontra apoios acresci-
          lagem, a balizagem, o combate à poluição,  dois costeiros e quatro lanchas para uso em  dos no âmbito da formação do pessoal,
          os levantamentos hidrográficos, etc.  águas ribeirinhas ou interiores.  logística do material, controlo operacional,
            Em termos práticos, a Marinha Portu-  A Marinha desenvolve ainda um  etc. Esta filosofia, com sólida tradição na-
          guesa desempenha as suas missões de  enorme conjunto de actividades de inte-  cional, está a ser tendencialmente seguida
          interesse público, essencialmente através  resse público, que embora não tenham o  por vários países, mesmo por aqueles cujas
          do Sistema de Autoridade Marítima, do  carácter de missão, valorizam a colabora-  Marinhas não têm qualquer vivência pas-
          dispositivo naval padrão e da actividade  ção com as autoridades civis e constituem  sada naquele tipo de missões.
          do Instituto Hidrográfico.         um benefício para a população em geral.  Seguir a vocação e utilizar a experiência
            O dispositivo naval padrão corresponde  No plano cultural, merecem relevo o  de séculos constitui certamente um cami-
          à atribuição de meios navais numa base  património e as iniciativas do Museu da  nho mais seguro para o nosso país do que
          permanente às áreas marítimas dos Açores,  Marinha, Academia de Marinha, Aquário  a colagem a modelos, que por alguns, já
          Madeira e Continente, visando especial-  Vasco da Gama, Planetário, Biblioteca  estão a ser abandonados.
          mente a vigilância e fiscalização da ZEE e a  Central de Marinha e Fragata D.Fernando
          salvaguarda da vida humana no mar.  Este  II e Glória, bem como as actuações da Ban-  Francisco Vidal Abreu
          dispositivo é constituído por duas corvetas  da da Armada.  Destes órgãos, os que estão          CALM

                                                                                 REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 99  5
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