Page 300 - Revista da Armada
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gnados pela “última fronteira”, no sentido económico, ou seja, ainda existem, cedo se esgotarão ou deixarão de ser suficientes
uma vasta reserva de recursos naturais cuja exploração consti- para uma população que cresce em exponencial. A maioria dos
tui já motivo de preocupação para o equilíbrio do ecossistema ecologistas percebeu que não há uma luta definitiva em defesa
oceânico. das espécies ameaçadas.
O desenvolvimento da energia nuclear, que envolveu até hoje O futuro será evidentemente dominado por uma exploração
perto de 2100 ensaios desde 1945, deu origem a uma mudança crescente dos recursos oceânicos. A exploração destas riquezas
qualitativa e quantitativa na capacidade humana para alterar as servirá para compensar o esgotamento dos recursos terrestres e,
forças da natureza. O Tratado de Interdição Global de Ensaios segundo tudo leva a crer, os domínios em que incidirá significa-
Nucleares, assinado em 1996, parece ser um daqueles instru- tivamente a exploração dos recursos oceânicos, no próximo
mentos de direito internacional público que correm o risco de século, continuarão a ser a pesca, o petróleo e os nódulos
nunca vir a ser realidade, ou seja, proibir qualquer tipo de polimetálicos. Sabe-se da existência de enormes reservas de
Golfinho de costados brancos. Pacífico Nor-ocidental.
ensaios explosivos com armas nucleares em qualquer parte do carvão debaixo das plataformas continentais, mas a sua riqueza
mundo. Mas deixem em paz, pelo menos, os Oceanos, em e extensão são ainda desconhecidas.
matéria nuclear: eles já foram violentamente sacrificados na sua Note-se, contudo, que existem duas utilizações do mar,
valiosa contribuição à Ciência e à Guerra. essenciais às grandes potências marítimas, que as levaram, até
Os primeiros esforços que se detectam como podendo ser agora, a não fazer qualquer concessão que pudesse pôr em
considerados estudos científicos sobre os Oceanos remontam, causa a liberdade dos mares: trata-se da utilização militar dos
ao que parece, ao século XVII, mas foi sobretudo na segunda oceanos e da navegação comercial.
metade do nosso século, com a utilização da electrónica, da Os Oceanos tiveram, desde sempre, um lugar fundamental
acústica, dos computadores e dos satélites, juntamente com a na estratégia das grandes nações: para proteger os acessos
construção de embarcações adequadas, que a oceanografia se costeiros e para defender as vias de comunicação, mas também
desenvolveu e tornou uma verdadeira ciência. como meio de expansão; como campo de batalha, mas também
Em 1934 foi feito o primeiro grande mergulho nos Oceanos, como local em que a presença da frota impedia, ou fazia
tendo-se atingido a profundidade de 923 metros, mas foi só em recuar, o inimigo – aquilo a que hoje se chama a dissuasão.
1943 que Cousteau deu início à verdadeira exploração das pro- Lembre-se de passagem que no fim da Segunda Guerra
fundezas, que se prolongou e tem vindo a aperfeiçoar até aos Mundial, sob a influência do fenómeno nuclear, o papel dos
nossos dias. Oceanos acentuou-se nestes domínios. Basta pensar nos
O grande problema actual da Humanidade no que respeita grandes submarinos nucleares.
aos Oceanos reside na obtenção de recursos alimentares. O Porque estamos ainda muito longe da almejada “Paz
aumento da população mundial obrigou a uma maior procura Universal” e de uma estrutura política e militar supranacional
de recursos vivos do mar. E, como resultado, espécies há que que garanta o uso pacífico dos Oceanos, o seu domínio repre-
estão em via de extinção, originando uma concorrência desen- senta um importante factor de poder que figura em todos os
freada entre os pescadores das diversas nações para acesso aos estudos, concepções ou projectos geopolíticos, geoeconómicos
melhores bancos e, ocasionalmente, fricções diplomáticas sérias ou geoestratégicos. Não é por acaso que os membros perma-
ou, pelo menos, de consequências indesejáveis. nentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações
Acabou-se a convicção existente de que os recursos vivos do Unidas são dotados das mais poderosas Marinhas de Guerra e
mar eram inesgotáveis. Os factos estão a provar o contrário e se de um incontestável Poder Marítimo.
não forem tomadas medidas de fundo, os vastos recursos que A importância estratégica do Mar e dos interesses que nele
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