Page 171 - Revista da Armada
P. 171
xador Sérgio Vieira de Melo.
A nossa chegada parece ser
encarada com muito bons
olhos, prometendo esta mis-
são muita actividade. Foi,
aliás, com esse objectivo que
já foi efectuado um reconhe-
cimento de Liquiçá e suas
cercanias, onde muitas infra-
estruturas completamente
arrasadas aguardam uma
mão reconstrutora. Na ver-
dade, muitas localidades cujo
acesso por terra se torna difí-
cil, se afiguram como poten-
ciais “alvos” onde se possa
fazer sentir o nosso humilde
contributo para a reconstru-
ção deste futuro país.
Há notícias de reecontros,
em Ermera (cerca de 20 Km a
Sudoeste), com elementos
pertencentes a milícias pró-
indonésias, tendo um deles
sido capturado. Apesar deste Reconstrução do Hospital de Liquiçá.
facto despertar receios sobre
a existência de grupos hostis infiltrados no o seu jipe à nossa disposição para transportar
território, ninguém duvida que o Contingente alguns caixotes. Como a escola não oferece
Nacional terá a situação rapidamente contro- suficiente protecção para o acondicionamen-
lada, embora o risco seja um factor sempre to do material, este é provisoriamente guar-
presente nas missões que os militares são dado na igreja da localidade. Para formalizar
chamados a desempenhar. a entrega ao pároco, ao director da escola e
No dia 9 de Março, após obtenção de au- às professoras, ali se deslocou o Comandante
torização por parte da Administração e do acompanhado de uma delegação de oficiais, lha, não apenas pela sua utilidade como
Comando da Componente Militar da sargentos e praças do navio. também pelo facto de constituir um belo
UNTAET, o navio dirigiu-se para Manatuto, Eis uma tarefa que está definitivamente exemplo da arquitectura portuguesa onde
a fim de entregar o material escolar destinado cumprida (ficando, porém, ainda em aberto a não faltam as cruzes de Cristo e um magnífi-
à escola “Vasco da Gama” recuperada pela entrega de alguma ajuda alimentar), uma vez co escudo-brasão na fachada principal.
guarnição daquela fragata. Nos botes segui- que Manatuto se situa fora do sector de co- Numa reunião com o representante local do
ram quadros de ardósia e de madeira, livros, mando português. Não podíamos, porém, CNRT e com o administrador do distrito, são
canetas e giz reunidos pelo Serviço de Assis- deixar “pendurada” a obra dos camaradas acertados os pormenores de execução, no-
tência Religiosa. Seguiram, também, alguns que nos antecederam. meadamente o fornecimento de transporte e
pares de sapatos (que muita falta fazem às No seguimento de contactos anteriores, a disponibilização de algumas facilidades.
professoras locais) oferecidos pelos nossos seguimos no dia 10 para Liquiçá, para esco- Na próxima vinda, o navio transportará já
antecessores. Enquanto não chega o trans- lher, de uma vez por todas, aquela que será a o material necessário para pôr mãos à obra.
porte fornecido pelo Comando do sector, os «obra da “Capelo”». O hospital da locali- No dia 12 de Março o navio largou para o
voluntários da AMI colocam, amavelmente, dade afigura-se como sendo a melhor esco- mar, costa sul de Timor, sendo o dia dedica-
do ao reconhecimento de Betano (tendo sido
estabelecido contactos com as “forças vivas”
da terra) e de toda a costa Sul do sector por-
tuguês. Como estes locais se encontram mais
afastados do centro de comando, é sempre
bom conhecer, à partida, os pontos cons-
pícuos e os possíveis fundeadouros, para um
eventual apoio às forças mais deslocadas no
terreno ou assistência às populações mais
isoladas.
Depois disto, poderemos regressar a
Darwin para retemperar forças, reabastecer e
adquirir o material necessário à nossa próxi-
ma vinda a Timor. Dessa vez será, já, para
trabalhar “a sério”.
Moreira Silva
1TEN
Rectificação:
Na crónica anterior, página 12, a legenda da fotografia
deve ser corrigida para:
Elementos da guarnição do navio e pároco em Manatuto. Passagem do Canal de Suez.
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2000 25