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Crónica de Timor
                   Crónica de Timor



                                             O primeiro contacto

                                                       2ª Parte





         ESCALA EM DARWIN E EXERCÍCIOS
         NO MAR

              o período de 19 a 26  de Fevereiro, o
              NRP “Comte. Hermenegildo Capelo”
         Nesteve atracado em Darwin. É uma
         cidade pequena, mas muito agradável, com
         muita vegetação, belos locais de passeio
         junto ao mar e um comércio florescente, sen-
         do igualmente um aprazível local, quer pelo
         clima, quer pelo calor humano que nos en-
         volve. Constituiu uma merecida pausa, após
         um mês de viagem sem escalas suficiente-
         mente retemperadoras.
           Conforme previamente acordado com o
         Comando Naval, em 26 de Fevereiro o navio
         fez a primeira saída para o mar. Não temos
         ainda instruções para nos deslocarmos a Ti-
         mor (a transição da INTERFET para a  O “Jervis Bay” da Marinha australiana e a “Comte. Hermenegildo Capelo” atracados em Darwin.
         UNTAET colocava novas questões de nível
         diplomático que se torna imperioso resolver),  por ano. Desta vez, pelos vistos, saiu-lhes a  higiene e limpeza, que muita falta fazem por
         mas esperou-se que, a situação fosse desblo-  “sorte grande”. Será que a nossa presença  estas bandas, mais ainda nesta fase de insta-
         queada. Durante três dias, o navio efectuou  teve algo a ver com isso?  lação no terreno.
         treino próprio fora das águas territoriais da  No dia 2 de Março, nem de propósito, lo-  Desembarcado o material e estabelecidos
         Austrália.                         go a seguir, o navio recebeu autorização para  os primeiros contactos, deslocou-se a bordo
           Regressados a Darwin, a 29 de Fevereiro,  seguir para Timor. Ainda bem. Pelo menos  o Comandante de Sector Central, Coronel
         uma vez que ainda não tinham sido recebi-  esta saída terá outro objectivo que não seja  Lima Pinto.
         das instruções, o navio recebeu informações  fugir dos ciclones.        Restou fazer um levantamento das necessi-
         de que um ciclone tropical, o Steve, se dirigia                       dades em terra e saber as tarefas específicas
         para as proximidades de Darwin. Ainda não  ESTADIA EM TIMOR           que nos aguardavam.
         havia motivo para alarme mas, pelo sim pelo                             No período de 6 a 8 de Março foram, pela
         não, foi melhor manter uma prontidão de 6  Fundeamos, finalmente, em Dili, 24 horas  primeira vez, concedidas licenças à
         horas para largada.                depois da altura prevista, pois o mar muito  guarnição em solo timorense. Pouco mais
           Afinal não era apenas um, mas sim dois  agitado (os piores dois dias desta missão, até  são, na verdade, do que um circuito guiado
         ciclones tropicais, uma vez que o Norman, o  ao momento) obrigou-nos a andar “aos bor-  pela cidade, após um briefing dado no
         melhor amigo do Steve, também se dirigia  dos”. Foi transportado algum material que  Comando do Sector. Servem, no entanto,
         para cá. Dizem as autoridades australianas  nos foi solicitado pelo Contingente Nacional  para estabelecer os primeiros contactos com
         que não costumam ter mais de um ciclone  em Timor (CNT), nomeadamente artigos de  a população (duas horas seguidas a respon-
                                                                               der aos sucessivos e risonhos “bom dia!” e
                                                                               “boa tarde!” com que somos amigavelmente
                                                                               brindados) e comprar algumas recordações
                                                                               no mercado que já funciona em pleno (o
                                                                               comércio de rua é das poucas actividades
                                                                               que florescem, podendo já ser encontrados
                                                                               quase todo o tipo de artigos). Tudo o mais é
                                                                               um triste passear pelas ruínas daquilo que já
                                                                               foi uma cidade e onde não resta um único
                                                                               edifício inteiro (e perguntamos a nós próprios
                                                                               que ódio tão grande ou que terrível maldade
                                                                               poderia ter causado tamanha devastação!).
                                                                               Decididamente, há, ainda, muito a fazer. Na
                                                                               verdade, tudo!
                                                                                 A ligação às autoridades locais vai, porém,
                                                                               de “vento em popa”. Foram já efectuadas,
                                                                               pelo Comandante, visitas de cumprimentos
                                                                               (e algo mais) ao Bispo de Dili, D. Ximenes
         O bote do navio transportando material para terra.                    Belo e ao Administrador do Território, Embai-

         24 MAIO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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