Page 188 - Revista da Armada
P. 188

PONTO AO MEIO-DIA



                                       Submarinos


                                             Para que servem?


                 forma imprevista e o acelerado ri-  pre uma decisão com efeitos a longo prazo  opositor, mesmo quando operada isolada-
                 tmo como tem evoluído o ambi-  dada a longa duração dos seus processos  mente e numa situação em que não exista
          Aente de segurança mundial nos úl-  de aquisição e dos seus ciclos de vida, no  da sua parte supremacia de força. No mí-
          timos doze anos, desde o fim da Guerra  conjunto correspondendo a um período de  nimo, os submarinos garantem a materia-
          Fria, com o surpreendente desmembra-  tempo que poderá andar à volta dos  lização de uma estratégia de “fio de trope-
          mento da União Soviética e a reunificação  quarenta e cinco anos.    çar”, obrigando o oponente a empenhar
          alemã entre outros igualmente importantes  Assim, hoje mais do que nunca, para  muito mais forças do que seria de esperar
          acontecimentos que se lhes seguiram, não  pensarmos na definição do sistema de for-  sem a sua ameaça, levando-o a tomar
          permitem, hoje, sustentar um planeamento  ças a construir ou a manter, interessa  maiores precauções, portanto, a uma
          de aquisição de meios mili-                                                     maior lentidão na condução
          tares a partir da construção                                                    das operações. Isto é, permi-
          dos cenários mais prováveis                                                     tindo-nos ganhar tempo
          ou de um estudo de amea-                                                        para preparar a resposta,
          ças. Continuamos numa si-                                                       quer ela seja militar ou não.
          tuação em que a imprevisi-                                                        Sob outra perspectiva, os
          bilidade do futuro vai certa-                                                   submarinos proporcionam,
          mente persistir, senão acen-                                                    pela sua característica de
          tuar-se, não sendo possível                                                     discrição e capacidade de
          sequer, uma vez mais, des-                                                      sobrevivência (2), a melhor
          cortinar ao menos uma ten-                                                      possibilidade de ultrapas-
          dência consistente para o                                                       sar, com geralmente boas
          médio prazo. Ou seja, uma                                                       condições de sucesso, toda
          situação “volátil, incerta e                                                    a problemática de falta de
          perigosa” (1).                                                                  supremacia militar, preser-
            Mesmo as necessidades                                                         vando uma capacidade de
          de intervenção militar evoluíram de forma  sobretudo ser tão flexível e abrangente  intervenção quando o recurso a outros
          exactamente oposta ao esperado. De facto,  quanto possível na definição das modali-  meios não for viável ou aconselhável. Esta
          contrariamente a todas as expectativas  dades básicas de acção preservando, em  capacidade torna-se particularmente rele-
          abertas pelo fim da Guerra Fria, as perspe-  especial, um conjunto balanceado de  vante para países, como o nosso, que pela
          ctivas de mais paz e mais segurança acaba-  capacidades que pela sua polivalência, ver-  sua dimensão e potencial económico
          ram por redundar em totalmente inespera-  satilidade e mobilidade melhor possam  estarão sempre relativamente limitados na
          das novas necessidades de empenhamento  permitir responder a um alargado leque de  construção do seu sistema de forças.
          operacional de consideráveis efectivos mili-  situações possíveis.   Nestes termos, a sua posse significa deter-
          tares para tentar salvaguardar o essencial  É neste contexto, de grandes incertezas  minação de defesa autónoma – isto, tam-
          do clima de paz que afinal não estava nem  quanto ao futuro, que caberá perguntar o  bém uma componente de dissuasão - e
          parece ainda estar ao nosso alcance. Portu-  que é que uma esquadrilha de submarinos  reforça a credibilidade da imagem de
          gal, obviamente, não escapou a esta evolu-  convencionais, com as suas características  empenho efectivo do País no desempenho
          ção, encontrando-se hoje militarmente en-  muito próprias de emprego e modalidades  de importantes responsabilidades mili-
          volvido no exterior, de forma significativa e  de utilização poderá proporcionar ao País.  tares, no âmbito das alianças em que esti-
          em termos que, em muitos aspectos, sur-  Por outras palavras, que contributo  efecti-  ver inserido.
          giram também de forma imprevista. É a  vo poderá dar para um sistema de forças  Outra tarefa relevante que os submari-
          questão de Timor, a da Bósnia, o Kosovo e  que se deseja tão optimizado quanto possí-  nos podem ser chamados a desempenhar
          outras intervenções pontuais em África, al-  vel para emprego num largo espectro de  será o apoio, directo ou indirecto, a forças
          gumas das quais exigiram resposta a pra-  situações, que seja uma evidência do senti-  expedicionárias  em que o País tenha que
          zos muito curtos.                 do estratégico do País e que represente  participar ou que  tenha decidido organi-
            Nestas circunstâncias, não havendo qual-  uma vontade credível de participar eficaz-  zar, um quadro de elevada prioridade, co-
          quer hipótese séria de definir uma clara  mente na construção do projecto comum  mo se tem visto. O facto de não estarem
          prioridade entre os vários cenários possí-  em que Portugal se insere.  dependentes do apoio dessa força, tirando
          veis, em termos das suas probabilidades  Tem sido habitual associar submarinos  partido, dentro da liberdade dos mares, da
          absolutas e relativas, para a partir daí dese-  com dissuasão, entendida esta, neste caso,  sua autonomia, mobilidade e alcance, per-
          nharmos um sistema de forças, há que pro-  como a capacidade de fazer subir o custo  mitir-lhes-à apoiar à distância e em an-
          ceder com a maior cautela, evitando pôr de  das acções que um oponente queira em-  tecipação o trânsito daquela mesma força,
          parte hipóteses que, embora hoje menos  preender, para níveis de prejuízos próprios  realizar operações avançadas e, se neces-
          plausíveis, ninguém pode garantir que não  que se aproximem tanto quanto possível  sário, no final assegurar a sua protecção
          venham a ganhar de novo acuidade num  do inaceitável, levando-o, portanto, a não  no local de acção.
          futuro mais ou menos próximo. Isto aplica-  as prosseguir ou sequer iniciar. Isto  As possibilidades de apoiarem e prote-
          -se, especialmente, ao caso particular da de-  decorre do relativamente alto potencial de  gerem as forças de superfície, tanto de ou-
          finição dos meios navais necessários, sem-  risco que esta arma cria a um eventual  tros navios de superfície como de outros


         6 JUNHO 2000 • REVISTA DA ARMADA
   183   184   185   186   187   188   189   190   191   192   193