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PONTO AO MEIO-DIA
Submarinos
Para que servem?
forma imprevista e o acelerado ri- pre uma decisão com efeitos a longo prazo opositor, mesmo quando operada isolada-
tmo como tem evoluído o ambi- dada a longa duração dos seus processos mente e numa situação em que não exista
Aente de segurança mundial nos úl- de aquisição e dos seus ciclos de vida, no da sua parte supremacia de força. No mí-
timos doze anos, desde o fim da Guerra conjunto correspondendo a um período de nimo, os submarinos garantem a materia-
Fria, com o surpreendente desmembra- tempo que poderá andar à volta dos lização de uma estratégia de “fio de trope-
mento da União Soviética e a reunificação quarenta e cinco anos. çar”, obrigando o oponente a empenhar
alemã entre outros igualmente importantes Assim, hoje mais do que nunca, para muito mais forças do que seria de esperar
acontecimentos que se lhes seguiram, não pensarmos na definição do sistema de for- sem a sua ameaça, levando-o a tomar
permitem, hoje, sustentar um planeamento ças a construir ou a manter, interessa maiores precauções, portanto, a uma
de aquisição de meios mili- maior lentidão na condução
tares a partir da construção das operações. Isto é, permi-
dos cenários mais prováveis tindo-nos ganhar tempo
ou de um estudo de amea- para preparar a resposta,
ças. Continuamos numa si- quer ela seja militar ou não.
tuação em que a imprevisi- Sob outra perspectiva, os
bilidade do futuro vai certa- submarinos proporcionam,
mente persistir, senão acen- pela sua característica de
tuar-se, não sendo possível discrição e capacidade de
sequer, uma vez mais, des- sobrevivência (2), a melhor
cortinar ao menos uma ten- possibilidade de ultrapas-
dência consistente para o sar, com geralmente boas
médio prazo. Ou seja, uma condições de sucesso, toda
situação “volátil, incerta e a problemática de falta de
perigosa” (1). supremacia militar, preser-
Mesmo as necessidades vando uma capacidade de
de intervenção militar evoluíram de forma sobretudo ser tão flexível e abrangente intervenção quando o recurso a outros
exactamente oposta ao esperado. De facto, quanto possível na definição das modali- meios não for viável ou aconselhável. Esta
contrariamente a todas as expectativas dades básicas de acção preservando, em capacidade torna-se particularmente rele-
abertas pelo fim da Guerra Fria, as perspe- especial, um conjunto balanceado de vante para países, como o nosso, que pela
ctivas de mais paz e mais segurança acaba- capacidades que pela sua polivalência, ver- sua dimensão e potencial económico
ram por redundar em totalmente inespera- satilidade e mobilidade melhor possam estarão sempre relativamente limitados na
das novas necessidades de empenhamento permitir responder a um alargado leque de construção do seu sistema de forças.
operacional de consideráveis efectivos mili- situações possíveis. Nestes termos, a sua posse significa deter-
tares para tentar salvaguardar o essencial É neste contexto, de grandes incertezas minação de defesa autónoma – isto, tam-
do clima de paz que afinal não estava nem quanto ao futuro, que caberá perguntar o bém uma componente de dissuasão - e
parece ainda estar ao nosso alcance. Portu- que é que uma esquadrilha de submarinos reforça a credibilidade da imagem de
gal, obviamente, não escapou a esta evolu- convencionais, com as suas características empenho efectivo do País no desempenho
ção, encontrando-se hoje militarmente en- muito próprias de emprego e modalidades de importantes responsabilidades mili-
volvido no exterior, de forma significativa e de utilização poderá proporcionar ao País. tares, no âmbito das alianças em que esti-
em termos que, em muitos aspectos, sur- Por outras palavras, que contributo efecti- ver inserido.
giram também de forma imprevista. É a vo poderá dar para um sistema de forças Outra tarefa relevante que os submari-
questão de Timor, a da Bósnia, o Kosovo e que se deseja tão optimizado quanto possí- nos podem ser chamados a desempenhar
outras intervenções pontuais em África, al- vel para emprego num largo espectro de será o apoio, directo ou indirecto, a forças
gumas das quais exigiram resposta a pra- situações, que seja uma evidência do senti- expedicionárias em que o País tenha que
zos muito curtos. do estratégico do País e que represente participar ou que tenha decidido organi-
Nestas circunstâncias, não havendo qual- uma vontade credível de participar eficaz- zar, um quadro de elevada prioridade, co-
quer hipótese séria de definir uma clara mente na construção do projecto comum mo se tem visto. O facto de não estarem
prioridade entre os vários cenários possí- em que Portugal se insere. dependentes do apoio dessa força, tirando
veis, em termos das suas probabilidades Tem sido habitual associar submarinos partido, dentro da liberdade dos mares, da
absolutas e relativas, para a partir daí dese- com dissuasão, entendida esta, neste caso, sua autonomia, mobilidade e alcance, per-
nharmos um sistema de forças, há que pro- como a capacidade de fazer subir o custo mitir-lhes-à apoiar à distância e em an-
ceder com a maior cautela, evitando pôr de das acções que um oponente queira em- tecipação o trânsito daquela mesma força,
parte hipóteses que, embora hoje menos preender, para níveis de prejuízos próprios realizar operações avançadas e, se neces-
plausíveis, ninguém pode garantir que não que se aproximem tanto quanto possível sário, no final assegurar a sua protecção
venham a ganhar de novo acuidade num do inaceitável, levando-o, portanto, a não no local de acção.
futuro mais ou menos próximo. Isto aplica- as prosseguir ou sequer iniciar. Isto As possibilidades de apoiarem e prote-
-se, especialmente, ao caso particular da de- decorre do relativamente alto potencial de gerem as forças de superfície, tanto de ou-
finição dos meios navais necessários, sem- risco que esta arma cria a um eventual tros navios de superfície como de outros
6 JUNHO 2000 • REVISTA DA ARMADA