Page 189 - Revista da Armada
P. 189
submarinos oponentes, função em que são racterísticas de discrição, um submarino trolo de movimento de submarinos, no
especialmente relevantes, tornam-nos um tem um papel insubstituível na vigilância âmbito da gestão militar do espaço maríti-
elemento de crucial importância em qual- e controlo de áreas focais, compilando to- mo de sub-superfície por forma a garantir
quer marinha. Não dispor de submarinos das as informações sobre a situação na que não há interferências mútuas. Note-se
para operar em conjunto com a compo- área, sem ser detectado. Nestas circunstân- que o exercício desta função possibilita o
nente de superfície implica ter que dotar es- cias, pode fornecer oportunamente os in- acesso a informações sobre a actividade
ta última com mais meios e capacidades e dicadores e alertas eventualmente necessá- (militar e civil) de sub-superfície na nossa
pode restringir ou mesmo impedir a sua rios para desencadear outras medidas por- área de interesse. Outro país teria que exer-
utilização, salvo se trate de situações relati- ventura necessárias. Esta modalidade de cer essas funções se Portugal não tivesse
vamente benevolentes (3). As suas aptidões acção será particularmente relevante na essa capacidade ainda que tratando-se da
para realizar operações avançadas de apoio, detecção de actividades ilícitas face à am- nossa área de interesse. Ambas actividades
que poderão incluir o reconhecimento, a plamente reconhecida impossibilidade da conferem-nos um importante estatuto o
recolha de “intelligence” (4) e a operação sua identificação, no mar alto, por “proces- que embora não seja em si próprio um fim,
com forças especiais (infiltração ou recolha), sos abertos”, utilizando navios de superfí- constitui um factor a ter em consideração.
podem reverter numa fase ulterior em cie ou aviões. Em tais casos, o submarino, Tudo ponderado, podemos concluir que,
apoio às operações em terra controlando, tendo a capacidade de fazer um segui- contrariamente aquilo que os menos familia-
por exemplo, a área marítima adjacente (5). mento indetectado até se tornar possível e rizados com a problemática da operação de
A sua capacidade de minagem, per- aconselhável intervir, constituem o único submarinos poderiam imaginar, o seu cam-
manecendo indetectados, permite-lhes le- po de utilização estende-se por uma larga
var a cabo, de uma forma segura, opera- O QUE PROPORCIONAM multiplicidade de tarefas, tanto em tempo
ções de negação do uso do mar a um even- de paz como em situações de crise ou con-
tual oponente, por exemplo, para efeitos de • Dissuasão flito armado, quer isoladamente ou em
trocas comerciais por via marítima. Ainda • Múltiplas opções de emprego apoio de outras forças. Os submarinos, na
neste âmbito, um submarino convencional • Autonomia de decisão realidade, não se confinam a exclusiva-
armado com mísseis sub-superfície, pró- • Possibilidade de intervenção mente combater as ameaças navais e o seu
sem exigir supremacia
prios para a realização de “ataques cirúrgi- • Evidência de determinação de defesa actual conceito de emprego não está de for-
cos”, pode ser um participante activo na autónoma ma nenhuma restrito aos quadros da Guer-
projecção de poder contra terra, com a • Participação na gestão do espaço ra Fria. Muito pelo contrário, a sua versatili-
enorme vantagem de o poder fazer de uma marítimo de sub-superfície dade e flexibilidade de emprego conferem-
forma furtiva. • Credibilidade -lhes um elevado grau de adaptabilidade a
Os submarinos constituem, também, • Prestígio qualquer situação, designadamente para o
um importante vec- desempenho de im-
tor de defesa avan- CARACTERÍSTICAS FORMAS DE EMPREGO portantes tarefas no
çada, pré-posicio- âmbito de opera-
nando-se, antecipa- • Discrição • Operações autónomas ções conjuntas, em
da e discretamente, • Prontidão • Operações coordenadas ou integradas qualquer nível do
com outras forças.
quer para a recolha • Capacidade de sobrevivência, Elevada • Operações ofensivas, defensivas espectro de confli-
indetectabilidade
de informações quer • Mobilidade. Liberdade de acção e de apoio tos, conforme larga-
para qualquer ac- • Capacidade de operar autónoma • Defesa avançada mente provado em
ção, exactamente e isoladamente • Operações avançadas: reconhecimento, diversas situações
conforme com o que • Polivalência de emprego recolha de "inteligência", operações com conhecidas. Tão
for requerido pela • Alcance (longo raio de acção) forças especiais-infiltração e recolha. alargada flexibili-
condução política da • Sustentação (longa permanência no mar • Projecção de poder contra terra dade de emprego
crise . Regra geral, a sem necessidade de apoio logístico) • Minagem juntamente com o
existir uma ameaça • Versatilidade e adaptabilidade importante conjun-
sobre o território se- to de capacidades
rá recomendável, se possível, combatê-la meio que as sofisticadas possibilidades dos que os submarinos possuem fazem deles
na origem ou pelo menos à maior distân- infractores não conseguem nem se espera um elemento absolutamente crucial de
cia possível em vez de, alternativamente, que venham a conseguir ultrapassar. Não qualquer sistema de forças navais que se
esperar que ela chegue às linhas de fron- será este tipo de emprego que justificará a pretenda equilibrado e, acima de tudo,
teira para então actuar. O submarino tem manutenção de uma capacidade submari- credível.
potencial para viabilizar a primeira linha na. É, porém, uma possibilidade de empre-
de acção enquanto um sistema territorial go que constitui uma importante mais va- Alexandre Reis Rodrigues
VALM
mais ou menos estático de defesa, por lia que não deve ser descurada. Tratar-se-á,
exemplo, anti-míssil, além de não possuir mais uma vez, de rentabilizar a disponibi- Notas:
qualquer outra opção de emprego, dificil- lidade de meios militares em favor de ac- 1) “Reflexões sobre estratégia. Temas de Segurança
e Defesa”, por Loureiro dos Santos.
mente poderá ter a possibilidade de, em tividades de interesse público, um aspecto 2)Face ao crescente número de países com acesso
termos práticos, cobrir mais do que áreas que a Marinha sempre tem procurado va- a satélites de observação, a “discrição” torna-se ainda
vitais. O que interessa, pois, reter é que há lorizar, de acordo com o papel que o País mais relevante. A capacidade de sobrevivência,
que procurar edificar um conjunto multi- tradicionalmente lhe tem atribuído. por sua vez, está relacionada com a discrição
e indetectabilidade (mais silenciosos).
facetado de capacidades que se com- Finalmente, importa ainda referir que 3) A participação de submarinos ingleses no conflito
pletem. Isto passa por apostar numa certa Portugal, enquanto País que opera subma- das Falklands, obrigou as autoridades argentinas
variedade de valências básicas embora rinos, tem assento em importantes fora on- a manter as suas forças navais nos portos.
admitindo, por óbvias razões de pragma- de se discute, analisa e toma decisões sobre 4) Os submarinos estão especialmente habilitados
tismo, diferentes graus de desenvolvimen- a forma de emprego desses meios. Com- para executar estas acções sem a necessidade
de desembarcar pessoal.
to para cada uma delas. plementarmente, Portugal, através da Ma- 5) A disponibilidade de um submarino, durante a operação
Explorando judiciosamente as suas ca- rinha, exerce importantes funções de con- “Sharp Guard”, foi vital para o sucesso das operações.
REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2000 7