Page 205 - Revista da Armada
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ACADEMIA DE MARINHA
“TIMOR - PRIMÓRDIOS DOS ANOS SETENTA”
No passado dia 21 de Março ctos da vida agrícola de auto-
realizou-se uma das habituais -consumo das populações, cuja
sessões culturais na Academia vida é grandemente dependente
de Marinha com uma comuni- das monções com as suas tro-
cação proferida pelo membro voadas e chuvas diluvianas.
efectivo, a Profª. Doutora Ra- Salientou ainda o imenso
quel Soeiro de Brito, sobre mosaico étnico, principalmente
“TIMOR – PRIMÓRDIOS DOS no leste da ilha, e dos poucos
ANOS SETENTA”. “brancos” existentes, ou seja,
Depois da abertura da sessão dos funcionários portugueses
e palavras iniciais do Presidente metropolitanos e suas famílias.
da Academia, a oradora abor- Os timorenses, ao contrário
dou os sucessivos avanços, leva- dos seus vizinhos das ilhas
dos a cabo pelos nossos navios, nos mares orientais ao longo do sécu- Celebes, não faziam, na altura, um grande uso do mar, pescando-se
lo XVI, até chegarem finalmente às ilhas de Solor e de Timor “à pro- por isso quase só na costa norte, enquanto que, pelo contrário, na
cura de sândalo, mel e cera” e onde verificaram existirem em Solor pequena ilha de Ataúro, o seu escasso meio-milhar de habitantes tira-
“bons surgidouros” de “águas tranquilas”. Seguidamente referiu-se va do mar grande parte do seu sustento.
ainda à conquista e à governação de Timor, esta última só em A comunicação profusamente ilustrada com transparentes e
Fevereiro de 1702 entregue pelos dominicanos ao poder temporal. diapositivos constituiu uma síntese da experiência vivida e reco-
Abordou ainda diversos aspectos da história política, relembrando lhida pela oradora nas suas visitas de estudo àquele território,
que, em 1945, se deu por finda a ocupação japonesa iniciada em tendo suscitado diversas intervenções e comentários por parte de
1942, ocupação esta cujas consequências trágicas são bem conheci- membros da Academia e convidados presentes, entre os quais se
das pela geração actual. encontravam antigos capitães do porto de Dili, bem como enti-
Descreveu então a orografia do território, a ocupação urbana e dades civis que naquele território desempenhavam missões de
rural, a rede escolar e o sistema viário, bem como os variados aspe- estudo e administrativas.
EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA
“OS BRANCOS CISNES DOS OCEANOS”
No dia 21 de Março teve lugar, na Biblioteca da Academia de
Marinha, a inauguração de uma exposição fotográfica intitulada
“Os Brancos Cisnes dos Oceanos” constituída por quarenta
fotografias, formato 16x24, de outros tantos veleiros, trinta e três
delas da autoria do promotor da exposição, membro da Academia
José Ferreira dos Santos.
A referida exposição que esteve patente até ao final do mês de
Maio, constitui uma amostragem da colecção de cerca de duas
centenas de estampas representando navios e embarcações de vela
que tem vindo a ser reunida, ao longo dos anos, pelo autor, e pre-
tende ser uma modesta homenagem aos homens de “barba rija”
que no passado exerceram, e aos que ainda hoje exercem a dura
profissão de tripular grandes veleiros numa luta árdua e sem
tréguas contra os elementos, e dos quais o autor destaca os
pescadores portugueses que pescando bacalhau à linha foram os
ÚLTIMOS GRANDES HERÓIS DOS MARES.
Segundo N.R.P. “Sagres”.
Brancos Cisnes dos Oceanos... Alguém chamou assim aos
grandes veleiros que outrora singravam por todos os mares e
oceanos do globo em grande quantidade e que, hoje em dia, se
encontram reduzidos a um número bem limitado, destronados,
implacavelmente, pelo progresso, pois em termos económicos não
tiveram quaisquer possibilidades de competir com os navios de
propulsão mecânica: inicialmente os accionados por máquinas
alternativas a vapor seguidas de turbinas também a vapor e depois
pelos motores tipo Diesel.
Aquela feliz metáfora – Brancos Cisnes dos Oceanos – trans-
porta-nos à época a um tempo heróica e romântica da vela, cheia
de poesia, (mas também de ingentes sacrifícios), que ainda hoje
povoa o imaginário de todos nós.
José Ferreira dos Santos
Capitão de Marinha Mercante
Primeiro N.R.P. “Sagres” em Leixões. Membro da Academia de Marinha
REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2000 23