Page 332 - Revista da Armada
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ESTRUTURA DA ESTRATÉGIA NAVAL




                     Objectivo                    Defender o interesse nacional
               Conceito  Funções                    internacional                       a soberania


                                                                                           Afirmar
                                                       Preservar
                                                        a ordem
                                                                                           nacional




                      Propósito                           Garantir o uso do mar

               Missão   Tarefas                   Projectar            águas litorais           Controlar

                                                                          Dominar
                                                                                                  regiões
                                                     força

                                                  no litoral                vitais              oceânicas
                                                                                                  críticas





         de paz consideradas nesta estrutura como  sidades de emprego das forças navais  multinacionais e empregues no exterior
         pertencentes à função de interesse  no litoral e em alto mar, participando  dos espaços marítimos sobre jurisdição
         público, englobam acções de presença  em operações conjuntas longe do  nacional; no que se relaciona com as
         naval e de diplomacia de canhoneira  espaço político sede do poder, estabe-  funções de exercício da soberania,
         incluídas na função diplomática, e  lece claramente o papel central da  usualmente as forças são nacionais e
         acções de projecção de poder e de con-  capacidade combatente da Marinha  empregues no interior daquele espaço.
         trolo do mar inseridas na função militar.  para obter bons desempenhos em situa-
         Por outro lado, as pequenas potências  ções de paz, crise ou conflito. Para  No caso concreto de Portugal, para a
         marítimas não dispõem de capacidade  além disso, permite evidenciar a extra-  realização das tarefas de projectar força
         para organizar, edificar e empregar  ordinária utilidade das características  no litoral, de dominar águas litorais
         meios com as características específicas  do poder naval (mobilidade, liberdade  vitais e de controlar regiões oceânicas
         de cada função prevista na estrutura  face às restrições políticas, sustentabili-  críticas, afigura-se necessário garantir
         triangular. Na realidade, os seus navios,  dade e flexibilidade) para adequar os  um sistema de força naval estruturado
         no mar e durante a mesma missão, são  níveis de esforço no apoio à acção  em torno das capacidades de superfície,
         permanentemente confrontados com a  política, económica, social e militar do  submarina, anfíbia e de guerra de
         necessidade de desempenhar acções  Estado, fazendo face a situações de  minas, cujo emprego implica o concur-
         sistematizadas no âmbito das diferentes  diferente complexidade e grande impre-  so das capacidades de comando e con-
         funções teorizadas para esta estrutura.  visibilidade. A estrutura proposta con-  trolo e de hidro-oceanografia, para além
         Para além disso, a designação de "inte-  fere igualmente relevância ao emprego  das capacidades inerentes ao assinala-
         resse público" aplicada a tarefas de  conjunto da força militar, sem traduzir  mento marítimo, ao combate à poluição
         "polícia", de apoio ao desenvolvimento  qualquer subalternidade das forças  e à componente fixa; neste caso, com
         ou de ajuda humanitária, desvirtua o  navais relativamente às forças aéreas e  especial relevo para as capacidades que
         sentido daquele conceito. À luz da  terrestres. Relativamente às funções do  desempenham funções relativas à logís-
         ciência política deverão ser conside-  poder naval, importa salientar que a  tica do material e do pessoal. No âm-
         radas de "interesse público" todas as  visão dualista apresentada na estrutura  bito desta nova estrutura da estratégia
         tarefas essenciais à vida da comunidade  proposta é essencial para que não se  naval, a definição dos tipos, dimensão e
         nacional, cuja materialização requer o  cometa o erro de edificar, organizar e  composição específicos das capaci-
         emprego de recursos humanos e mate-  conceber o emprego do poder naval  dades que integram o sistema e força
         riais do Estado. Assim, são igualmente  segundo visões ultra-liberais e interna-  naval, surge naturalmente como a resul-
         públicas todas as tarefas desempe-  cionalistas que comprometem a segu-  tante da ponderação entre a permência
         nhadas pelo poder naval e sistemati-  rança nacional. A distinção entre as  do interesse nacional a defender, os
         zadas no contexto das funções militar e  tarefas do poder naval, segundo cada  recursos do Estado e a partilha de es-
         diplomática.                       uma das funções referidas, situa-se ao  forços estratégicos no seio das alianças
                                            nível da natureza predominante das  de defesa.
           Como características essenciais da  forças utilizadas e dos espaços geográfi-
         estrutura que proponho para a estratégia  cos de actuação: no exercício das fun-
         naval, saliento que, para além de con-  ções de preservação da ordem interna-         António Silva Ribeiro
         templar o equilíbrio entre as neces-  cional, normalmente as forças são                             CFR

         6 NOVEMBRO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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