Page 217 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
             Património Cultural da Marinha


                                          Faróis de Portugal





                  10. FAROL DE MONTEDOR


                  O farol de Montedor, o mais setentrional da costa continen-  No entanto, a concretização definitiva do projectado farol
                 tal portuguesa, viu a sua construção repetidamente adiada, em-  só começa a adquirir contornos nítidos no seio de uma Co-
                 bora desde cedo se fizesse sentir a sua necessidade.  missão designada por portaria de 1902. Esta Comissão, presi-
                  O alvará da Junta Geral da Fazenda de 1 de Fevereiro de  dida pelo Capitão-de-mar-e-guerra Joaquim Patrício Gouveia
                 1758, incluía-o entre os seis faróis que mandava edificar: Ber-  e integrando o capitão-de-fragata Júlio Zeferino Schultz Xavier
                 lengas, Nossa Senhora da Guia, Fortaleza de São Lourenço  e o primeiro-tenente Francisco Aníbal Oliver, vem finalmente,
                 (Bugio), São Julião da Barra, barra do Porto e costa de Viana.  na sessão de 9 de Julho de 1903, a determinar a localização e
                  A verdade, porém, é que, apesar de constarem deste alvará,  o equipamento a instalar em Montedor.
                 nem a construção do farol de Montedor nem a de outros viria a   Ultimado em 1908 e orçado em vinte e dois contos de reis, a
                 concretizar-se, razão pela qual um decre-                  edificação viria a concluir-se a em 1910,
                 to de 12 de Dezembro de 1826 determi-                      tendo o farol - 28 metros de altura (103
                 na, novamente, que se proceda à constru-                   metros de altitude), entrado em funcio-
                 ção dos faróis de Montedor, das Berlengas                  namento a 20 Março, conforme reza o
                 do Cabo de São Vicente, do Cabo de San-                    Aviso aos Navegantes nº 2, de 22 de Fe-
                 ta Maria e do Cabo Mondego.                                vereiro de 1910.
                  O inspector de faróis, capitão de fra-                      O aparelho óptico montado tinha esta-
                 gata Francisco Maria Pereira da Silva, no                  do instalado no farol de S. Vicente e é um
                 seu «Projecto de alumiamento marítimo                      aparelho lenticular de Fresnel de 3ª or-
                 para a costa de Portugal – descrição dos                   dem, grande modelo (500mm de distân-
                 pontos ao longo da costa onde mais con-                    cia focal), dando 3 relâmpagos brancos.
                 vém estabelecer novos pharóes», datado                     O aparelho iluminante é um candeeiro a
                 de 1872, incluiu, efectivamente, Monte-                    petróleo de nível constante de quatro tor-
                 dor entre esses pontos:                                    cidas, produzindo-se a rotação da óptica
                  «Montedór – È a primeira posição es-                      através da máquina de relojoaria.
                 colhida, principiando do norte, por ser                      Em 1917 um grande furacão partiu vi-
                 a mais vantajosa d´aquella nossa costa                     dros, arrombou portas e destelhou casas,
                 marítima para estabelecer um pharol,                       provocando enormes estragos no farol.
                 que ficará a 30 milhas do pharol das                          Foi equipado com um sinal sonoro em
                 ilhas Cies ou de Bayona.                                   01 de Janeiro de 1919.
                  Pereira da Silva preconizava a insta-                       Em 1926 foi tapado um painel do apa-
                 lação de um farol de 2ª ordem, sendo o                     relho óptico, passando o farol a emitir dois
                 equipamento um dos «pharoes moder-                         relâmpagos em vez de três, para não dar
                 nos lenticulares de Fresnel ou pharoes                     azo a confusões com o farol de Leça.
                 dioptricos» a substituir em faróis já exis-                  A fonte luminosa em 1936 passou a
                 tentes os «pharoes antigos com candieiros de Argand e reflec-  ser a incandescência pelo vapor de petróleo.
                 tores parabolicos ou pharoes catoptricos».    Foi construída uma casa para o rádiofarol em 1939 e insta-
                  A Comissão dos Faróis e Balizas mais tarde criada, à qual  lado o radiofarol em 1942 (desactivado em 2001 por ter per-
                 presidia o Conselheiro Guilhermino Augusto Barros e em que  dido o interesse para a navegação).
                 tinham assento os contra-almirantes António Maria dos Reis,   O farol foi ligado à rede eléctrica de distribuição pública
                 Bento Freire de Andrade e Francisco Maria Pereira da Silva,  em 1947, passando a utilizar uma lâmpada de 3000W. O
                 deu a sua aprovação, na sessão de 21 de Janeiro de 1882, ao  terreno pertencente ao farol até aí sem qualquer vedação, foi
                 parecer da sub-comissão de faróis e balizas encarregada de  vedado com muros.
                 elaborar o plano geral de iluminação da costa de Portugal. Um   Em 1952 foi desmontado o sinal sonoro a ar comprimido
                 dos faróis proposto era uma vez mais o de Montedor.  e montada uma sereia eléctrica. O sinal sonoro retirado, foi
                  Por proposta de lei assinada por Fontes Pereira de Melo e  montado no farol da Nazaré.
                 Hintze Ribeiro, que integrava o plano Geral de Alumiamento e   A sereia eléctrica que até então estivera montada numa base
                 Balizagem, foi definido que o Farol de Montedor fosse equipado  em cima de dois postes junto à casa de inspecção, foi transferi-
                                               com um farol de  da para uma estrutura construída junto ao mar em 1960.
                  Local:   Montedor            2ª ordem, eléctri-  A potência da fonte luminosa foi reduzida em Março de 1983,
                  Altura:  28 m                co de três clarões  sendo instalada  uma lâmpada de quartzline de 1000W.
                  Altitude: 103 m              brancos, acom-  A  04 de Dezembro de 1987, o farol foi automatizado, ten-
                  Luz:     FL (2) W 9.5 s      panhado de um  do sido equipado com um novo sinal sonoro.
                  Alcance: 22 M                sinal de nevoeiro   A 7 milhas a Sul da foz do Rio Minho o farol de Montedor
                  Óptica:   3ª ordem 500 mm    (sino tocado por  é assim o primeiro farol da Costa Portuguesa.
                  Ano:     1910                movimento de
                                               relojoaria).                                Direcção de Faróis
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