Page 307 - Revista da Armada
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Leotte do Rego
Leotte do Rego
– Da Monarquia à República, sempre com a Marinha –
os insignes oficiais da Armada Oriental, tendo sido louvado pelos relevan-
que prestaram serviço no con- tes serviços prestados no rio Macuze comba-
Dturbado período que compre- tendo os revoltados de Manganja e impedindo
ende as duas últimas décadas de Monar- que estes fossem atacar povoações do distri-
quia e a primeira da República, Jayme to de Quelimane. Durante este comando
Daniel Leotte do Rego destaca-se como procede a uma série de levantamentos
um dos mais notáveis. hidrográficos que incluíram a baía de
Foi incompreendido por monárqui- Moçambique, a barra de Quelimane e
cos, pois exerceu funções governativas a balizagem e farolagem do respectivo
em África durante os dois regimes polí- porto, a barra e o curso do rio Macuze e
ticos, por alguns dos seus camaradas de o reconhecimento da costa entre Luabo
armas já que o viam como apenas um de Oeste e Pungué. A sua actividade não
parlamentar impetuoso, esquecendo-se se limitou ao serviço embarcado pois de
da sua brilhante carreira militar, por po- Julho a Outubro de 1891 desempenha as
líticos de vários quadrantes não enten- funções de secretário de António Ennes,
dendo a coerência que o tinha levado a comissário régio de Moçambique que o
desligar-se dos partidos e ser deputado louva pelo zelo, dedicação e acerto com que
independente e também por defensores desempenhou todos os seus serviços, mesmo
da neutralidade, visto ter sido uma das aqueles que eram estranhos à sua profissão.
personalidades que mais batalhou pela Em 1893 termina o comando do “Au-
intervenção de Portugal junto dos alia- xiliar” sendo agraciado, pelo Rei D. Car-
dos, durante a I Guerra Mundial. los, com o grau de cavaleiro da Ordem
Quem foi este oficial agraciado com as da Torre e Espada, mas continua em Mo-
mais valiosas condecorações portugue- Leotte do Rego, Guarda-Marinha. çambique como imediato da canhoneira
sas, entre as quais os graus de cavaleiro “Mandovy” tendo comandado, volun-
pela Monarquia e de comendador pela Repú- “Maravi”, a bordo da qual apoiou colunas tariamente, a força de desembarque do navio
blica da Ordem Militar da Torre e Espada do militares em operações terrestres, fez o re- em Sarja, no Angoche, durante operações de
Valor, Lealdade e Mérito? conhecimento do rio Zambeze até às, então pacificação do gentio local.
Em 1886, um ano após Leotte do Rego in- denominadas, cachoeiras de Coroa-Bassa (lo- Tinham passado seis anos de árduos tra-
gressar na Escola Naval, realiza-se a Confe- cal onde foi construída a actual barragem de balhos que incluíram o comando de dois na-
rência de Berlim onde se define que a ocupa- Cabora-Bassa) e elaborou o estudo da zona e vios em que demonstrou ser um desembara-
ção efectiva dos territórios africanos é o novo o regime do rio até Cachembe. No relatório çado marinheiro e um valoroso combatente,
conceito de direito colonial, em detrimento dessa missão informava que se se dispuses- produzido um profícuo trabalho hidrográ-
dos direitos históricos tradicionais, desde se de pessoal devidamente treinado poder-se- fico nas costas e rios do então território por-
sempre defendidos por Portugal. Assim, o -ia desmontar uma lancha-canhoneira do tipo tuguês do Índico e exercido as funções de
País inicia a ocupação real, nomeadamente “Maravi”, transportá-la em troços e tornar a secretário do comissário régio, situação em
do litoral africano, cabendo à Marinha a par- montá-la a montante das cachoeiras. que adquiriu uma experiência que lhe seria
te principal dessa missão. A criatividade e a inovação foram desde valiosa mais tarde. Além da Torre e Espada
Como guarda-marinha, em princípios de logo uma das qualidades do jovem guar- foi condecorado com a Medalha de Ouro de
1888, embarca na corveta “Mindelo” que larga da-marinha. Serviços no Ultramar.
de Lisboa com destino a Moçambique. Serão Promovido a 2º tenente, em 1890, assume o Promovido, em 1894, a 1º Tenente, regres-
os seus primeiros contactos com um território comando do vapor “Auxiliar”, unidade tam- sa a Lisboa e assume o cargo de imediato da
onde haveria de prestar relevantes serviços no bém integrada na Divisão Naval da África canhoneira “Açor” em serviço de fiscalização
mar e em terra e de ter o seu nos mares açorianos. O sonho
baptismo de fogo nas opera- de sempre era andar no mar
ções do Pungué, durante as mas devido ao seu já elevado
quais demonstrou possuir prestigio foi convidado para
notáveis qualidades de com- ajudante do Ministro da Mari-
batente: a bravura, a coragem nha e do Ultramar, conselhei-
e a serenidade, virtudes essas ro Jacinto Cândido da Silva,
que seriam reiteradas ao lon- governante que dará inicio à
go da sua vida. modernização da Marinha.
O ano de 1890 é assinalado São então abatidas algumas
pelo Ultimato inglês que irá unidades mistas e construí-
dar origem a grave agitação dos modernos navios de aço
politica e social, constituindo e de propulsão exclusiva-
um forte revés para o regime mente mecânica que incluem
monárquico. É o ano em que cinco cruzadores. Leotte do
tem o seu primeiro coman- Rego acompanha de perto
do, o da lancha-canhoneira Lancha-canhoneira “Maravi”, em Moçambique. a renovação da esquadra,
REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2004 17