Page 310 - Revista da Armada
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membro honorário da Sociedade Anti-Es- rebelião, teve como chefe Leotte do Rego
clavagista Portuguesa, facto que demonstra que tomou o comando do cruzador “Vasco
claramente o reconhecimento público pela da Gama” e de bordo liderou a intervenção
sua defesa a favor do trabalhador indígena dos outros navios revoltosos.
e publica a célebre “Carta Aberta aos Ilus- Recusou o convite para Ministro da Ma-
tres Deputados da Nação”, documento que rinha do novo Governo, continuava a só lhe
teve larga repercussão e em que explica e interessar os navios, o serviço no Ultramar e
justifica as medidas que tomou em relação aos a vida de marinheiro, tendo sido então no-
maus funcionários e indivíduos indesejáveis al- meado comandante-chefe da Divisão Na-
guns dos quais teve que remeter para a Metró- val de Defesa e Instrução em acumulação
pole. O seu governo ultramarino foi curto, com o de comandante do cruzador “Vasco
repartido em dois regimes políticos distin- da Gama”. Em Julho, já como candidato
tos, mas as medidas que tomou marcarão independente, foi eleito deputado pelo cír-
profundamente uma das colónias em que o culo de Lagos, a sua terra natal.
tratamento do indígena era questionado. A política externa é então radicalmen-
Tinha cessado definitivamente o ser- te alterada e será orientada para aproxi-
viço Além-Mar. mação aos Aliados, facto que permitiu
Regressado a Lisboa é nomeado para que o Comandante de Divisão Naval
fazer parte de uma comissão encarregada de Defesa iniciasse um intenso progra-
de estudar a organização da Escola de Tor- ma de treino das guarnições dos navios,
pedos e Minas e indicar o local para onde que incluía exercícios ao longo da costa
deverá ser transferida a Escola de Artilha- para localização de submarinos – em que
ria, tendo em Dezembro de 1913 assumi- foi empregue o submersível “Espadar-
do as funções de Director dos Serviços de te”, unidade aumentada ao efectivo em
Instrução de Tiro. Capitão-de-Fragata Leotte do Rego, comandante do cruzador 1913, tendo por esse facto a Marinha Por-
A consolidação do novo regime político “Vasco da Gama”. tuguesa pertencido ao núcleo muito res-
faz-se com dificuldade, o Partido Republi- trito que nesta data possuiam submer-
cano cinde-se em vários grupos que originam populações então sublevadas pelos vizi- síveis - visto que os aliados enfrentavam a
novos partidos, um dos quais o Partido De- nhos alemães. terrível arma submarina alemã. Era eviden-
mocrático governa o país desde 1912. Entre- Os Governos sucediam-se e em Janeiro de te que Leotte do Rego preparava a Marinha
tanto os partidos do tempo da Monarquia de- 1915 um grupo de oficiais do Exército preten- para uma participação mais que provável
sapareceram do panorama político e com ele o de entregar as espadas ao Presidente da Re- num conflito que se generalizava.
Franquista de que, como atrás referido, Leotte publica a fim deste poder dispor delas para Com o começo de 1916 é incrementada a
do Rego tinha sido deputado. Em 1913 filia-se defesa do regime. É o chamado “Movimento pressão dos aliados sobre a Alemanha e a politi-
no Partido Republicano Português, liderado das Espadas” que leva à chefia do Ministério ca nacional nesse sentido é clara tendo como um
por Afonso Costa e é eleito deputado. Conti- o General Pimenta de Castro e o início a uma dos seus principais defensores Le o tte do Rego.
nuará a sua luta na defesa da Marinha. ditadura militar. Assim, no mesmo dia e mesma hora, 23 de Fe-
As comissões no Ultramar tinham ter- Promovido em Maio desse ano a Capitão- vereiro às 14 horas, foram apreendidos todos os
minado para ele assim como, para já, as -de-Fragata Leotte do Rego opõe-se frontal- navios alemães surtos em portos portugueses
de embarque, presta serviço em Lisboa, o mente ao novo Governo que considera ten- do Continente, Ilhas e Ultramar. A ordem do
centro da confusa politica nacional, enquan- dencialmente germanófilo e por isso incapaz Governo foi transmitida ao Comandante de Di-
to a jovem República pretende afirmar-se de levar o país a participar na Guerra com os visão Naval de Defesa que a bordo do contra-
numa Europa onde os conflitos se agrava- aliados. É então que, pela primeira e única vez torpedeiro “Douro” superintendeu a operação
vam. Tudo se proporciona para que Leotte na sua vida, participa activamente na revolta durante a qual em 35 navios germânicos, no rio
do Rego passe a ter uma intervenção poli- fazendo parte da Junta Revolucionária que, em Tejo, foi içada a Bandeira Nacional. Nos restan-
tica mais saliente. 14 de Maio de 1915, provocará a queda do Mi- tes portos portugueses igual medida foi tomada
Aquela que será a I Guerra Mundial reben- nistério. A Marinha, cujo papel foi decisivo na em relação a 36 embarcações alemãs.
ta em Julho de 1914. Uma Posteriormente o Go-
questão se põe em relação verno louvou Leotte do
à posição de Portugal - a Rego pela forma patriótica
beligerância activa ou a como procedeu à requisição
neutralidade expectante. de 35 navios alemães surtos
Por um lado a Aliança no porto de Lisboa, no cur-
com a Inglaterra por outro tíssimo espaço de duas ho-
a vizinhança dos alemães ras, o que bem revela a boa
nas fronteiras de Angola ordem e disciplina mantida
e de Moçambique suge- na Divisão Naval de Defesa
ria cuidada reflexão. e Instrução e a regularidade
Em 25 de Agosto é de todos os serviços supe-
atacado por forças ale- riormente dirigidos pelo seu
mãs o posto português Comandante que foi encar-
de Mazuía, na fronteira regado desta importante e
moçambicana do Rovu- melindrosa diligência.
ma, pretexto para a par- A entrada de Portugal
tida no mês seguinte de no conflito estava para
uma expedição portu- breve e assim logo a 9 de
guesa para aquela coló- Março o ministro alemão
nia e outra para Angola O rebocador “Cisne”, junto de um vapor alemão, conduzindo as forças de Marinha que tomaram posse dos em Lisboa entrega ao
com vista a controlar as navios alemães em 23 de Fevereiro de 1916. Governo a “Declaração
20 SETEMBRO/OUTUBRO 2004 U REVISTA DA ARMADA