Page 6 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO DIA
O Ensino Superior Militar
no Desenvolvimento de Carreira
O MOTE NO “PONTO” e económica, orientadas pelo fomento da cultura, condicionar e obrigar à reflexão deste tema
“A propriedade intelectual, o capital da qualidade, da produção e da inovação.” no contexto da Defesa e das FA´s.
A Marinha não se vai eximir desse deba-
Ressaltam da citação os novos conceitos de
humano e a criatividade são os recur- educação e formação, que não podem deixar te, podendo mesmo amadurecer ideias no
sos mais importantes para as Forças de ser consequência e causa de uma nova fi- órgão de conselho vocacionado para a dis-
Armadas, precisamente como para o losofia do desenvolvimento, a situar-nos no cussão do assunto, o Conselho Coordenador
mundo dos negócios” limiar da definição de um novo conceito de ci- do Ensino e Formação (CCEF), cuja criação
dadania e “civilidade”. Este conceito vai operar foi decidida nos termos da referida DPN e se
S. Scarborough, 2001
a partir de um novo sistema educativo e for- encontra em vias de estabelecimento.
mativo, em cujo cerne está a concepção das já
INTRODUÇÃO contemporâneas sociedades em permanente FORMAÇÃO COMPLEMENTAR
Aproveitando a oportunidade deste espaço aprendizagem e de múltiplos saberes. DE CARREIRA (FCC)
de “navegação”, gostaria de partilhar alguma Noutra perspectiva se coloca, entre nós, o
informação e ideias, num propósito de impul- CAPITAL HUMANO E EDUCAÇÃO sentido e o alcance da FCC a cargo do ISNG,
sionar a reflexão e discussão de uma problemá- AO LONGO DA VIDA assente na interligação dos três patamares a
tica tão decisiva como a Educação, quer num Nessas sociedades assume fundamental im- que correspondem os cursos navais de guer-
plano nacional, quer na perspectiva mais par- portância a gestação do “capital social” titula- ra (Curso Geral / CGNG; Curso Comple-
ticular da Defesa e das Forças Armadas. do pelos recursos humanos, habilitando cada mentar / CCNG; Curso Superior / CSNG)
A minha comunicação vem na sequência elemento em ordem a poder beneficiar de ga- e na articulação dos respectivos planos de
das clarividentes intervenções já publicadas nhos de autonomia de pensamento e de acção, estudos e programas, corporizando as ac-
nesta coluna pelos ilustres responsáveis pe- estimulando a sua capacidade de aprendiza- tividades de ensino, e que no seu conjunto
las áreas funcionais da Marinha, que vêm gem e, no mesmo passo, criando o gosto e a deverão contabilizar, segundo um sistema
apresentando em comum, mais do que as necessidade de a prolongar no tempo. de unidades de crédito, a acumulação de ha-
dificuldades e problemas específicos dos Também a Marinha não pode esquecer bilitações conferentes de graus e diplomas
respectivos sectores, a vontade de trilhar os esse referencial de acção, aparecendo como a outorgar pela Universidade, com quem
caminhos de futuro, os desafios e as opor- incontornável a necessidade de desenvolvi- importa instituir e formalizar as adequadas
tunidades que se nos reservam, a todos, e mento de um instrumento mobilizador de fórmulas de cooperação académica.
que emergem da Directiva de Política Na- educação e formação ao longo da vida, no Vamos então analisar com mais detalhe
val (DPN n.º 3/03, de 16MAI) publicamente caso vertente, a profissional. Aqui entronca a componente da FCC, com particular in-
divulgada pelo Almirante CEMA no Dia da o papel do ISNG, entendido como matriz cidência no figurino de cursos em que se
Marinha 2003, em Ílhavo. formativa de natureza complementar da desenvolvem as correspondentes acções de
O objecto deste ponto ao meio-dia decorre,
essencialmente, da circunstância de ser o ac- formação de base a que corresponde a re- formação ao longo da vida profissional dos
levante missão da EN.
Oficiais na situação de activo.
tual titular do cargo de Director do Instituto O ISNG vem reexaminando desde 1999/
Superior Naval de Guerra (ISNG), explican- /2000 essa problemática, associando-a à
do também a particular atenção que darei ao FORMAÇÃO DE BASE necessidade de estabilização do respecti-
segundo pilar do ensino superior na Mari- O mercado de emprego, como as Forças vo modelo (dos três cursos) estabelecido
nha, responsável pela sustentação da estru- Armadas, precisam de jovens com sólida pre- em 1994 e implementado dois anos depois,
tura da dita formação complementar de car- paração científica, de banda larga, com novas com base na consagração dos objectivos e
reira (FCC), desligando-o, artificialmente, da competências transversais e atitudes moder- reformulação de conteúdos curriculares re-
componente de formação de base por que é nas, com capacidade de conceptualizar pro- comendadas pela evolução do sistema en-
responsável a Escola Naval (EN). jectos e de promover a integração de equipas.
É o que se pede hoje à formação universitária, volvente e experiência proporcionada pelo
e por conseguinte à nossa Escola Naval. Mas maior contacto e entrosamento com o ensino
SOCIEDADE DO CONHECIMENTO precisa também de pessoas com saber fazer, nos outros Institutos Superiores militares.
E REFORMA com o sentido prático e empreendedor e a ca- Daquele trabalho interno resultou, em
Nesse propósito de enquadramento, será pacidade de adaptação permanente à evolu- 2001, a apresentação de uma proposta de
útil recordar o que os Professores Veiga Si- ção tecnológica. É isto que se pede ao ensino reforma, reeditada com ligeiras alterações
mão, Machado dos Santos e Almeida Costa, politécnico, ou seja às escolas superiores mi- em 2003, e que já foi objecto da necessária
autores de uma obra de referência (“Ensino litares, portanto à nossa Escola Superior de ponderação do Conselho do Almirantado
Superior: Uma visão para a próxima década” Tecnologias Navais (ESTNA). (CA), no passado dia 17NOV03.
Ed. Gradiva, Novembro 2002), afirmaram: “A Na decorrência dos compromissos assumi-
transição da sociedade actual para uma sociedade dos perante a Declaração de Bolonha e nas MODELO DE FCC
baseada no conhecimento, ..... onde a informação cimeiras subsequentes (Salamanca/2001, Nessa reapreciação concluiu-se pela vali-
assume papel determinante e as tecnologias de in- Praga/2002 e Berlim/2003), esperam -se con- dade do actual modelo de FCC e o inerente
formação e comunicação emergem como suporte sequências a nível da estrutura dos graus do figurino de cursos que o compõem, traçan-
crucial do desenvolvimento sustentável e da com- ensino superior e da relação entre os subsis- do-se as seguintes linhas de acção:
petitividade entre nações, só pode ser levada a cabo temas universitário e politécnico que o inte- a) consolidar o modelo de FCC, baseado
com sucesso se os poderes públicos procederem a gram. Estimo que se irá entrar em fase ace- nos três patamares (cursos) – geral (CGNG),
profundas reformas estruturais de natureza social lerada de discussão nacional, acabando por complementar (CCNG) e superior (CSNG),
4 JANEIRO 2004 U REVISTA DA ARMADA