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REGATAS
REGATAS
3. Cinquentenário das Tall Ship’s Races (1956-2006)
3ª Parte – Rumo Solto
orria o ano de 1968 quando a Sail Trai-
ning Association (STA) decidiu distribuir CLASSES
Cas suas funções por duas comissões dis- Na primeira regata, os navios encontravam-
tintas. O Sailing Committee chamou a si, e em se divididos em duas categorias, Classe I – mais
de 100 toneladas de deslocamento, e Classe II
exclusivo, a enorme tarefa de organizar anual- – até 100 toneladas de deslocamento.
mente todos os eventos, incluindo as próprias No sentido de minimizar as grandes discre-
regatas, ficando o Schooners Committee encar- pâncias existentes, logo em 1958 foi criada a
regado de gerir os embarques dos jovens nos Classe III – navios até 100 toneladas de des-
seus veleiros, Sir Winston Churchill e Malcolm locamento, passando as Classes I e II a com-
Miller, recentemente lançados à água. preender, respectivamente, navios redondos
Face ao crescimento exponencial das des- e navios latinos com mais de 100 toneladas,
pesas, ao qual devemos ainda agregar uma situação que perdurou até 1965. Depois da
crescente disputa entre as cidades para receber primeira travessia do Atlântico em 1964, foi
decidido reformular a divisão que até então vi-
os navios, recorrendo estas muitas vezes a ex- gorou, procedendo-se igualmente à alteração
pedientes pouco transparentes, a Sail Training das designações utilizadas, passando estas a
Association (STA), como forma de fazer face ser conhecidas conforme se indica:
aos seus problemas de ordem financeira, viu- Logótipo do Cinquentenário das Tall Ship’s Races. Classe A – veleiros de pano redondo com
-se na contingência de exigir somas crescentes Tendo esta conjuntura como cenário, não cau- mais de 36,6 metros de comprimento e todos
às cidades anfitriãs. Diga-se ainda em abono sa qualquer surpresa que em 1993 fosse criada a os navios de pano latino de comprimento su-
da verdade que muitos dos navios-escolas não International Sail Training Association (ISTA), um perior a 48,8 metros;
Classe B – veleiros de pano latino de com-
militares, sabendo das avultadas verbas anual- comité internacional onde as diferentes congé- primento compreendido entre os 30,5 e os
mente envolvidas, vinham há já algum tempo neres estrangeiras detinham igual representação, 48,8 metros;
anunciando que «sem palhaços, não há circo», cujo objectivo visava eliminar em definitivo uma Classe C – veleiros de pano latino com com-
ou seja, sem veleiros não existiriam regatas nem certa confusão que se vivia no seio da Sail Trai- primento superior a 9,14 metros, mas inferior
oportunidades de negócio proporcionadas pelas ning Association (STA). a 30,5 metros.
concentrações dos navios nos portos, tendo, por Como muitos cedo anteviram, este Comité No entanto, logo em 1966 foram introduzi-
isso, começado a exigir ser compensados pela Internacional mais não era do que um órgão das subdivisões, denominadas como Classes
sua presença, alegadamente com o objectivo consultivo da instituição britânica, sendo que B1, B2, C1 e C2, de modo a melhor diferen-
de esse dinheiro poder ajudar a minimizar os a própria International Sail Training Association ciar a grande variedade de veleiros inscritos. Em
sempre elevados gastos envolvidos na manu- (ISTA) mais não era do que um organismo sub- 1972 surgiu ainda uma Classe B3, tendo, dez
anos depois, aparecido a Classe A2 – veleiros
tenção dos navios e embarque dos jovens. De sidiário da Sail Training Association (STA). Como de pano redondo com menos de 36,6 metros
resto, como se sabe, muitos dos navios que re- tal, muitos dos países que participavam regular- de comprimento –, e, em 1983, a Classe C3.
gularmente tomam parte nestas regatas, são as mente com veleiros nestes eventos, começaram No ano de 1994 foi criada a Classe D.
mais das vezes propriedade de pequenos clu- a sentir-se espoliados dos seus direitos, pelo fac- Desde 2003, altura em que a Sail Training
bes náuticos, sem grande capacidade financei- to de a sua voz continuar a não ter peso no seio International (STI) passou a organizar as re-
ra para anualmente suportar os avultados gastos do novo forum. gatas, as classes dos veleiros sofreram novas
com manutenção e pessoal envolvido, mesmo Contrariamente à imagem durante muitos anos alterações, passando a existir apenas quatro
quando estes últimos são voluntários para mui- cultivada, os marinheiros dos nossos dias foram categorias, passíveis, caso a variedade dos na-
tas destas actividades. Além disso veio a público gradualmente deixando de ser associados ao vios inscritos assim o justifique, de serem feitas
subdivisões no seio de cada classe:
que parte das receitas obtidas, porque frequen- estereótipo clássico do indivíduo de barba rija, Classe A – Navios redondos e outros ve-
temente superiores às despesas com a organi- rude, fumador inveterado, trajando o característi- leiros de comprimento fora-a-fora superior a
zação dos eventos, teriam passado também a co e ensebado gabão, em cuja algibeira alberga a 40 metros;
ser canalizadas para subsidiar o embarque de botelha de whisky, a única mezinha que lhe per- Classe B – Veleiros tradicionais cujo compri-
jovens nos veleiros da Sail Training Association mite suportar os incontáveis dias de mau tempo mento fora-a-fora seja inferior a 40 metros, com
(STA), algo que muitos outros navios vinham há continuado e ao mesmo tempo capaz de afagar um mínimo de 9,14 metros de comprimento
algum tempo reclamando. as suas mágoas mais profundas. à linha-de-água;
Classe C – Veleiros modernos cujo compri-
Aliás, a legislação de muitos pa- mento fora-a-fora seja inferior a 40 metros, com
Foto CTEN António Gonçalves União Europeia, veio de alguma à linha-de-água, mas que não possuam velas
íses, e recentemente da própria
um mínimo de 9,14 metros de comprimento
forma acelerar todo um conjunto de
do tipo spinnaker;
transformações ao nível de determi-
Classe D - Veleiros modernos cujo compri-
nados comportamentos sociais, até
mento fora-a-fora seja inferior a 40 metros,
há poucos anos muito em voga, mas
mento à linha-de-água, dispondo de velas do
cada vez menos tolerados. Não ad- com um mínimo de 9,14 metros de compri-
mira, por isso, fruto deste novo sta- tipo spinnaker;
tus quo, bem como da evolução do Dados os maiores perigos que encerram e
respectivo enquadramento jurídico, atendendo à idade jovem de cadetes e trainees,
aos veleiros multi-casco encontra-se vedada a
aliado ao facto de se ter vindo a tor- participação nas regatas e eventos organizados
nar norma a proibição à publicidade pela Sail Training International (STI).
A confusão inerente à partida de uma regata. de bebidas alcoólicas, que o patro-
24 SETEMBRO/OUTUBRO 2006 U REVISTA DA ARMADA