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der instituir um acontecimento de referência na tuiria um local de eleição para doravante albergar
cena internacional, este entroncaria nos eventos os muitos veleiros que regularmente nos visitam, TROFÉU
da Sail Training International (STI), imediatamente aproveitando-se a primeira edição do evento su- SAIL TRAINING INTERNATIONAL
antes do seu início, ou logo após a respectiva con- gerido para concretizar a inauguração dessa infra- FRIENDSHIP
clusão. Consideramos até, que, com o objectivo estrutura. Em simultâneo resolver-se-iam também Neste tro-
de criar algo de raiz com esta especificidade, a os problemas que se colocam a todos quantos féu, criado em
construção de um verdadeiro waterfront próximo pretendem visitar a fragata D. Fernando, podendo 2003, cujo
da baixa da cidade poderia constituir motivo su- inclusivamente aí permanecer atracados e visíveis, objectivo vi- Foto Sail Training International
ficiente para que se conseguisse congregar uma contrariamente à situação em que até agora têm sava substituir
o prémio Cut-
eventual mobilização das diferentes entidades vivido, o navio-escola Sagres, o Creoula e a cara- ty Sark, man-
envolvidas, a começar, desde logo, pelo próprio vela Vera Cruz, sempre que não se encontrassem tiveram-se as
Estado e pela edilidade lisboeta. Este sim consti- a navegar ou em período de manutenção. mesmas re-
Tanto quanto sabemos existe um gras para a sua O Troféu Sail Training Interna-
tional Friendship
TROFÉU projecto em linhas gerais idêntico atribuição. La-
CUTTY SARK àquele a que sumariamente alu- menta-se apenas o facto de não ter existido par-
dimos para aquela nobre zona da ticular engenho e arte na sua concepção.
Arquivo CTEN António Gonçalves o objectivo de premiar o outras coisas verdadeiramente im- 2003 Juan de Langara Espanha
O Troféu Cutty Sark
cidade, mas que, tal como muitas
foi criado em 1974 com
NAVIO
ANO
PAÍS
Mir
Rússia
portantes, leva tempo a materializar,
navio cuja tripulação mais
2004
Mir
Rússia
isto se não for a seu tempo devida-
se destacasse naquilo que
Omã
2005
Shabab Oman
mente arquivado, invocando-se,
2006
é tido como o verdadeiro
objectivo deste encontro
anual de veleiros, pro-
frequentemente desconhece…
Z
porcionando um maior para tal, razões que a própria razão OS GRANDES VELEIROS EM PORTUGAL
espírito de amizade e sau- António Manuel Gonçalves ANO LOCAL
dável convívio durante os CTEN 1956 Lisboa
eventos, respeitando-se am.sailing@hotmail.com 1964 Lisboa
assim o legado de Mr. Ber- (artigo recebido para publicação em Junho 1982 Lisboa
O Troféu Cutty Sark, uma réplica nard Morgan e do Embai- 1992 Lisboa
em prata do famoso clipper. de 2006)
xador Teotónio Pereira. 1994 Porto/Gaia/Matosinhos
A sua atribuição era feita por votação dos próprios veleiros Notas: 1998 Lisboa
1 Têm representação na STI a Alemanha, 2006 Lisboa
participantes, dispondo cada navio de um voto. Num impresso Austrália, Bélgica, Bermuda, Canadá, Dina-
distribuído para o efeito, cada comandante, ouvidas as respec- marca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, portanto, ao desejável com vista à sua participação numa
tivas tripulações, votava no veleiro cujas tripulações e trainees, França, Holanda, Irlanda, Itália, Letónia, regata, acarreta ainda um efeito que julgamos por demais
em seu entender, mais se haviam destacado pelos motivos acima Noruega, Nova Zelândia, Polónia, Portu- danoso e que encerra em si parte da explicação para as
referidos, indicando ainda o segundo nome que reunisse maio- gal, Reino Unido, Rússia e Suécia. Como conhecidas menores taxas de sucesso. Neste sentido, con-
res preferências. Assim, o navio mais votado pelos seus pares se sabe, Portugal faz-se aí representar pela vém recordar que os paióis dos géneros e as frigoríficas se
era o vencedor deste cobiçado troféu, detendo a sua posse até APORVELA (Associação Portuguesa de Trei- situam claramente para vante de meio-navio, contribuindo
ao ano seguinte. Em caso de empate, recorria-se ao número de no de Vela). o seu atulhar por fazer diminuir o exigível maior caimento
2 Frequentemente se ouve comentar o a ré – ideal na ordem dos 60 a 70 centímetros –, com vista
segundos votos obtidos. facto de a Sagres não ganhar regatas, quan- a melhorar o seu desempenho.
Inicialmente a sua atribuição era apenas efectuada nos anos do se sabe que o seu irmão Gorch Fock con- Se por um lado os aspectos tácticos se revelam muitas
pares, passando a ser feita anualmente a partir de 1989, tendo, tabiliza já inúmeras vitórias. Neste capítulo, vezes decisivos, relembramos que uma menor velocida-
inclusivamente, em 1996, sido concedido a dois navios. para além de os alemães contarem com um de – ainda que na ordem das poucas décimas de nó –, só
Por razões que se prendem com a cessação do patrocínio navio 20 anos mais novo, dispondo de algu- muito dificilmente proporcionará boas probabilidades de
do rótulo Cutty Sark, este prémio foi pela última vez outorga- mas muito úteis «vantagens técnicas», esta- vitória. É que uma desvantagem média de apenas 3 dé-
do em 2002. mos certos de que não conhecem melhor a cimas de nó significa desde logo menos 7,2 milhas per-
respectiva manobra do que os portugueses, corridas num dia, o que numa regata de 10 dias eleva a
ANO NAVIO PAÍS cabendo-nos a nós, pessoalmente, a função diferença para números na ordem das 72 milhas (cerca
de 133 quilómetros)!
1974 Kruzenshtern URSS de relembrar a todos a excelência da eleva- No caso vertente da regata Newport-Lisboa que recen-
da craveira técnica dos oficiais de Marinha
1976 Zénobe Gramme Bélgica que têm comandado o navio-escola Sagres. temente analisámos (Revista da Armada, Junho de 2006),
1978 Gladan Suécia Alguns deles, com quem tivemos o privilé- para além de terem sido estivadas à popa as pesadas caixas
1980 Dar Pomorza Polónia gio de trabalhar no decorrer do exercício das com as peças do motor do Eagle, proporcionando assim um
1982 Urania Holanda respectivas funções de comando, somos de- maior caimento do navio a ré, também o facto de a tirada até
1984 Sir Winston Churchill Reino Unido vedores de tudo quanto sabemos a respeito Lisboa ser a última de uma longa viagem terá contribuído de
1986 Atlantica Suécia deste complexo navio, a saber: ALM Casta- sobremaneira para que paióis e frigoríficas estivessem já, por
1988 Urania Holanda nho Paes (viagens de instrução em 1988 e essa altura, num nível dentro do admissível para a competi-
1989 Iska Polónia 1989), CMG Malhão Pereira (1991-1993), ção. De igual modo, na regata Falmouth-Lisboa (1998), por-
1990 Jens Krogh Dinamarca CMG Castro Centeno (1997-1998), CMG que já no final da viagem de instrução, a boa classificação
obtida (4º lugar) não surpreende. Esta mesma tese também
1991 Asgard Irlanda Dias Pinheiro (1998-2000) e CMG Rocha colhe se atentarmos no desempenho do navio na regata
Carrilho (2002).
1992 Gladan Suécia Na nossa modesta análise, a grande di- Halifax-Liverpool (1984), onde se obteve uma excelente
1993 Colin Archer Noruega ferença tem residido no facto de o navio-es- 3ª posição. Em contraponto, aquando da participação na
1994 Marineda Espanha cola alemão se preparar convenientemen- regata Colombo (1992), logo no início de uma viagem que
1995 Urania Holanda te para os referidos eventos, tanto ao nível se iria prolongar por oito meses, julgamos não ser exigida
1996 Shabab Oman / Simon Bolivar 1 Omã / Venezuela do treino do pessoal, como em relação à aturada reflexão com o intuito de encontrar explicações que
1997 Esprit Alemanha quantidade de géneros e material a em- sustentem o 15º lugar então alcançado.
1998 Cuauthemoc México barcar. Se no primeiro caso não haverá por Não obstante o acima referido, também uma boa ges-
1999 Pogoria Polónia certo diferenças relevantes a mencionar, já tão dos tanques da aguada e combustível se revela crucial
2000 Cuauthemoc México o embarque de géneros na Sagres não tem em competição. É que não fará muito sentido, atendendo
a que o equipamento existente a bordo produz cerca de 20
2001 Shabab Oman Omã sido levado, em nossa opinião, na devida toneladas de água – aproximadamente o valor do consumo
conta nestas ocasiões. Por outras palavras,
2002 Tante Fine França
quando o navio sai para uma longa via- médio diário – largar para uma regata com toda a capaci-
1 Em 1996, tendo-se desenvolvido as actividades promovidas pela gem, habitualmente leva a bordo géneros dade preenchida (156.000 litros), muito para além do estri-
ISTA em duas áreas distintas, Mar Báltico e Mediterrâneo, o prémio para quase todo esse período. Este procedi- tamente exigível e imposto pelos padrões de estabilidade
foi, por isso, atribuído a dois navios. mento, além de fazer aumentar desneces- do navio, bem como sair com os tanques de gasóleo ates-
sariamente o seu deslocamento, contrário, tados (110.000 litros).
26 SETEMBRO/OUTUBRO 2006 U REVISTA DA ARMADA