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A “Jacinto Cândido” no Atlântico Nordeste
A “Jacinto Cândido” no Atlântico Nordeste
ram 10h00m do dia 15 de Maio do orientação específicas, propondo ao coman- sacos, os bonés substituídos por gorros e as
corrente ano quando a bordo do NRP dante a melhor condução das operações, sen- mãos calçadas com luvas.
E“Jacinto Cândido” se ouviu o seguin- do estes os responsáveis por toda a actividade Esta fase da viagem foi uma descoberta
te aviso: “Atenção Guarnição Estabelecida administrativa relativa aos processos de ins- devido ao frio intenso, às chuvas repenti-
Condição 8 – Faina Geral, Condição de Es- pecção estabelecidos pela NEAFC. nas, ao granizo e à neve que iam caindo e
tanqueidade «Z»“. atraindo curiosos ao exterior.
Com este aviso o NRP “Ja- A rotina resumia-se em quar-
cinto Cândido” largou amar- tos, palestras sobre primeiros
ras da BNL com destino ao socorros e sobre a melhor e
norte do Oceano Atlântico mais rápida maneira de en-
e com data de regresso em vergar os fatos térmicos ten-
30JUN06, dando assim iní- do em conta a segurança.
cio a missão NEAFC-06. A Sete dias depois da largada
NEAFC é uma área de pes- de Lisboa avistámos, pelas
cas situada em águas inter- 16h28m, aquela que seria a
nacionais, e por esta razão primeira de uma séria de em-
todos os estados podem aí barcações de pesca que por
pescar. Porém, em 1980 um ali navegavam numa «auto-
grupo de países resolveu estrada» de dois sentidos e
unir-se por forma a regular a muito ordenada. A nossa pre-
pesca na região, tendo sido sença não pareceu atrapalhar
assinada a Convenção para estas embarcações (que es-
a Cooperação Multilateral tavam muito absorvidas na
de Pesca no Atlântico Nor- sua actividade), nem as nu-
deste (NEAFC) que entrou merosas gaivotas existentes
em vigor em 1982. Os países que assina- O período de aprontamento do navio na zona, e só se desviavam para que não
ram esta convenção acordaram entre si que para a missão foi de aproximadamente um passássemos por cima delas. Dez dias de-
deveriam enviar um navio para controlar e mês, e revestiu-se de cuidados específicos, pois da partida e feitas duas fiscalizações a
inspeccionar as embarcações que desen- inerentes a uma missão longa em mares tão duas embarcações portuguesas (Coimbra e
volvem as suas actividades na área NEAFC. diferentes do nosso. De realçar que durante Cidade de Amarante), de acordo com o nor-
Os pesqueiros que operam nestas águas po- os preparativos houve uma especial aten- mativo aprovado pelas partes que integram
dem dividir-se em dois grandes grupos: os ção em equipar o navio com material de a NEAFC, o navio rumou à Islândia.
pertencentes aos países que ratificaram o trabalho adequado às baixas temperaturas Chegámos a Reykjavík num dia frio e com
acordo de pescas, países contratantes (to- que se sentem em latitudes tão elevadas, céu nublado. Estávamos todos ansiosos por
dos os estados da União Europeia e a Rús- sendo a segurança do pessoal um aspecto sair de bordo e explorar esta ilha vulcânica
sia), e os que não ratificaram, designados prioritário. Nesta fase de preparação existiu perdida no norte do Atlântico. Terminado o
como partes não-contratantes (que incluem sempre uma cooperação bastante acentua- descanso e reabastecido (de géneros e com-
qualquer outro país que decida pescar nas da por parte dos órgãos de comando e de bustível), o navio fez-se ao mar com o in-
águas abrangidas pela convenção). Os tento de dar seguimento às acções de
navios destes últimos não são obriga- fiscalização. Regressámos à «auto-es-
das a receber os inspectores, mas em trada» de embarcações de pesca e, en-
contrapartida não podem descarregar quanto aguardávamos por condições
o pescado em nenhum porto dos es- ambientais favoráveis para efectuar
tados contratantes. fiscalizações, continuávamos a acti-
Esta missão tinha por objectivo a vidade de identificação das embar-
verificação das normas definidas pelo cações de acordo com as indicações
Regime de Controlo e Vigilância para dos inspectores. Na realidade, esta ac-
Navios de Pesca que operam na Zona ção de identificação de embarcações
de Convenção, fora das áreas de ju- é fundamental, pois permite informar
risdição nacionais, quer por navios todos os estados contratantes de quais
de partes contratantes quer por navios as embarcações que não devem ser
de partes não contratantes e particu- autorizadas a descarregar pescado nos
larmente nas divisões XII e XIVb do CIEM apoio técnico: Comando Naval, Flotilha, seus portos. Quando as condições ambien-
onde a presença de navios é mais intensa Esquadrilha de Escoltas, DN, DA e AA. A tais melhoraram, passando a ser possível
nesta altura do ano já que o cantarrilho se missão foi dividida em três fases: de 15/28 efectuar as fiscalizações foi decidido pas-
encontra em abundância junto à linha das MAI (Lisboa - Reykjavík), de 31MAI/15 JUN sar o esforço de patrulha para outra área, a
200 milhas da Islândia. (Reykjavík - Dublin) e 18/30 JUN (Dublin norte da Irlanda, pois estavam na área mais
Portugal, como país membro, e com em- - Lisboa). dois navios a efectuar fiscalizações, um is-
barcações de pescas na zona, assumiu o com- No dia 16 às 06h34m entrámos na área landês e outro das ilhas Faroé.
promisso de enviar de dois em dois anos um NEAFC. O sol que brilhava ao sairmos de A norte da Irlanda o tempo não esteve fa-
navio para efectuar a patrulha da zona. Para Lisboa rapidamente ficou encoberto pelas vorável, o vento estava muito forte e a on-
cumprimento da missão embarcaram dois nuvens, o vento aumentou de intensidade dulação era tal que atingia os 6 metros de
inspectores da Direcção-Geral das Pescas e e as ondas tornaram-se maiores à medida altura, não tendo portanto sido possível pro-
Aquicultura (DGPA) – João Diogo e António que o navio avançava para norte. As cami- ceder a nenhuma fiscalização. Apesar disso,
Miguel, que vieram contribuir com linhas de sas rapidamente foram reforçadas com ca- ainda foi possível proceder à identificação de
14 NOVEMBRO 2006 U REVISTA DA ARMADA