Page 341 - Revista da Armada
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algumas embarcações nos primeiros dias de bros da guarnição. Em termos protocolares, o to mais dispersas que, aliado ao facto de
patrulha, nesta área, quando as condições Cte apresentou os devidos cumprimentos às se terem notado dificuldades na recepção
meteorológicas ainda permitiam que alguns autoridades irlandesas no dia da chegada, e de informação sobre o posicionamento de
pescadores mais ousados lá permanecessem. no final da tarde recebeu a bordo o Embaixa- pesqueiros, contribuiu para que o número
Mas com o agravar do estado do mar deixá- dor de Portugal na República da Irlanda. de embarcações identificadas na terceira
mos mesmo de avistar pesqueiros. Dia 18 fizemo-nos ao mar apesar das patrulha tenha sido mais reduzido.
A 15JUN, o navio efectuou mais uma pa- condições ambientais estarem contra. A Finalmente, no dia 28JUN, pelas 05h,
ragem logística na cidade de Dublin, Repú- decisão inicial foi de nos dirigirmos para abandonámos a área de operações ao en-
blica da Irlanda, muitos foram os que apro- a área de bancos de pesca logo a seguir à trar na ZEE Espanhola, e regressávamos a
veitaram para conhecer a cidade dos U2 e de ZEE da Irlanda. Iniciámos o trânsito, tendo casa com a certeza de ter realizado o que
Oscar Wilde, visitar os maravilhosos edifícios o navio começado a ser fustigado por ven- nos tinha sido proposto no início da mis-
da época medieval e georgiana. tos fortes e mar alteroso a partir do segundo são, tendo sido feitas 215 observações (nas
A estadia na Irlanda coincidiu com o dia dia. Face a estas condições e à previsão de áreas XII- Reykjanes, XIV- Irmirgen Basin,
16JUN — data do aniversário do navio. O 36º situações meteorológicas ainda mais desfa- VIb- Rockall, VIc – Purcine Bank), duas fis-
aniversário do navio foi celebrado com uma voráveis nas áreas onde iria incidir o esforço calizações e ainda prestado algum apoio
pequena recepção no refeitório das Praças de patrulha, foi decidido, com a concordân- logístico às embarcações de pesca.
onde foram proferidas algumas palavras acer- cia da DGPA, incidir o esforço de patrulha Z
ca do navio e acerca do patrono do mesmo. em águas mais para sul. Nestas áreas as (Colaboração do Comando do
O Cte propôs um brinde ao navio e aos mem- embarcações de pesca encontram-se mui- NRP “Jacinto Cândido”)
N.R.P. “VEGA” – 57 anos de Elegância
N.R.P. “VEGA” – 57 anos de Elegância
uitos são os anos de mar por que este Navio de “Época”, con- iniciou-se dia 16 de Agosto e, com a classe que o distingue, o “Vega”
forme designação espanhola, já passou. Desde 1949 que os marcou a diferença desde o primeiro dia. A cada dia de regata que pas-
Mventos e as correntes são a força que o impele e que lhe dá sava, a satisfação e o conhecimento marinheiro cresciam exponencial-
vida. Mesmo com os seus 57 anos, era inegável a grandeza que dele mente, a adrenalina movia cada um de nós e, com o vento de feição
transparecia na manhã do dia 3 de Agosto, o dia da partida. Mallorca e o nosso “Vega” em flecha, todos os ânimos se exaltavam. Também
era o destino da mais recente das suas não nos poupámos a esforços, era em
muitas viagens. nome do “Vega”, em nome da Mari-
Comandado pelo CTEN Coutinho nha e de Portugal que ali estávamos, o
de Lucena, e tendo como Imediato o nosso melhor era o mínimo que podía-
2TEN Fernandes da Palma e como Ofi- mos dar. O “Vega” não nos desapontou
cial Convidado o 1TEN Santos Arra baça e foi somando óptimos resultados, nos
(ex -Imediato), o N.R.P “Vega” partiu quais se contam dois segundos lugares
para as Ilhas Baleares para representar em tempo corrigido. No final dos qua-
Portugal e a Marinha de Guerra Portu- tro dias de regata o “Vega” tinha obtido
guesa na XXII Edição do Trofeu Almiran- um excelente 4º lugar na classe de Na-
te Conde de Barcelona. A completar a vios de Época. Mas, melhor que a clas-
guarnição estavam 9 Cadetes da Escola sificação obtida, foi com orgulho que
Naval, ( 4 cadetes de Marinha, 4 cadetes cada um de nós se apercebeu que nos
de Médicos Navais e 1 cadete de Enge- havíamos transformado em algo mais
nharia Naval ramo de Mecânica). do que a guarnição do Vega, éramos
Rumo a Sul, como nos tempos do O Rei de Espanha e a guarnição do “Vega”. uma Equipa!
Infante, levou-nos o “Vega” na sombra das suas velas, a espreitar e a Numa das noites após a regata, a recepção realizada em conjunto
aprender a arte de navegar. Chegados a Sagres, leste é o caminho. Com com o N.R.P. “Polar” deu a conhecer aos convidados, algumas das mais
Gibraltar à vista, e em menos de um sopro, vimo-nos chegados a Alme- importantes personalidades locais, a cortesia nacional e a arte de bem
ria - porto de descanso e abastecimento – após quatro dias de viagem. receber da Marinha Portuguesa.
Com rumo traçado e ao sabor da corrente, em apenas três dias, o “Vega” Dia 20 de Agosto foi a despedida, com o desfile de manhã e a entre-
leva-nos ao nosso destino – Palma de Mallorca. ga dos prémios ao fim da tarde. Na presença de sua majestade O Rei
Atracado desde o dia 10 de Agosto, o “Vega” não aguentou duran- de Espanha, o “Vega” recebeu a honrosa condecoração de Navio mais
te muito tempo o chamamento da bela Baia de Palma e dos seus bons Elegante da XXII Edição do Trofeu Almirante Conde de Barcelona. Foi o
ventos. Aproveitando as excelentes condições que se apresentavam, culminar de todo o nosso esforço e dedicação, foi o nosso orgulho, foi
nada melhor que participar numa pequena regata local, a I Clássicos um grande reconhecimento!
Regata Club de Mar, para que a guarnição se inteirasse mais profun- Nesse mesmo dia, e já com alguma nostalgia, partimos de regresso
damente da capacidade vélica do “Vega”. Saímos no domingo, dia 13 a Lisboa, tendo como porto de abrigo Cartagena, Málaga, Porto Sherry
de Agosto e, para além do navio nos mostrar que estava fantástico para e, por fim, Portimão.
qualquer mareação, deu-nos o privilégio de cortar a meta em segundo No dia 1 de Setembro, foi com um misto de alegria e tristeza que avis-
lugar em tempo real. támos Lisboa: alegria por voltar a casa e tristeza por sabermos que a via-
Após esta pequena regata, o “Vega” deixou a marina Club de Mar gem estava a terminar. Uma coisa é certa: trazíamos dentro de nós todos
para se juntar às restantes embarcações participantes na grande regata os ensinamentos que o “Vega” nos havia fornecido durante esta viagem,
que se aproximava. Foi neste local, onde imperava a boa disposição e sejam eles relativos à arte marinheira e à vela ou às relações humanas, e
o companheirismo característicos dos ambientes vélicos, que se deu, a são estes conhecimentos que nos permitirão crescer interiormente como
bordo do Vega e na presença dos oficiais do N.R.P. “Polar”, a cerimónia pessoas e futuros oficiais. E foi assim, como pessoas diferentes, mais ricas
de promoção dos dois oficiais mais antigos do navio, o CFR Coutinho e cheias interiormente, que voltámos desta grande Odisseia. Z
de Lucena e o CTEN Santos Arrabaça. (Artigo escrito pelos Cadetes que efectuaram a Viagem de Verão
As regatas da XXII Edição do Trofeu Almirante Conde de Barcelona com colaboração do Comando do N.R.P. “Vega”)
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2006 15