Page 43 - Revista da Armada
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Assinatura do Contrato-Base                                        REFLECTINDO…
           Assinatura do Contrato-Base
            de Aquisição de Lanchas de                                 POLÍTICA, GEOGRAFIA,
             de Aquisição de Lanchas de
                   Fiscalização Costeira                                          HISTÓRIA
                   Fiscalização Costeira
                                                                           eopolítica é a área da Ciência Política que se
               o passado dia 19 de Dezembro de 2005, realizou-se nas instalações dos   preocupa com a forte influência das condições
               Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) a cerimónia de assinatura   Ggeográficas.
         Ndo Contrato-Base de Aquisição de cinco Lanchas de Fiscalização Costei-  A Geografia é o factor mais importante do Poder Nacional,
         ra (LFC), celebrado entre o Estado Português e os ENVC.     porque é o mais permanente (Spykman).
           O referido contrato                            Foto 1SAR FZ Silva  Essa permanência do factor geográfico exerce influên-
         foi assinado, por parte                                     cia sobre o carácter, o comportamento e o pensamento
         do Estado, pelo  MDN,                                       dos povos.
         Dr. Luís Amado, e pe-                                         Se a Geopolítica é a ciência da vinculação geográfica
         los ENVC, pelo seu Pre-                                     dos fenómenos políticos, a atitude e o comportamento
         sidente do Conselho de                                      dos povos são analisados na História. Assim, quando se
         Administração, Dr. Fer-                                     pretende estudar Geopolítica terá necessariamente que se
         nando Geraldes.                                             estudar História e Geografia.
           Das individualidades                                        A História mostra como a Geografia tem vindo a con-
         presentes na cerimónia                                      dicionar e a diferenciar os povos, permitindo tirar lições
         destacaram-se ainda o                                       ou ilações que nos ajudam a compreender as suas atitudes
         Chefe do Estado-Maior                                       ou a prever as suas reacções.
         da Armada; o Director                                         Os que ignoram a História estão condenados a reinventá-la.
         Geral de Armamento e Equipamentos de Defesa (DGAED); o Superintendente dos   Isto não significa que a História se repete, ou que fornece ensina-
         Serviços do Material da Marinha; o Comandante Naval; o Director de Navios; o   mentos de uso universal, tanto no tempo como no espaço. Com
         Presidente da EMPORDEF; os Deputados pelo distrito de Viana do Castelo; o Presi-  efeito, a utilidade da História para a análise do presente e do fu-
         dente da Câmara Municipal de Viana do Castelo e elementos da Missão de Acom-  turo não reside na sua capacidade de fornecer lições, mas de evi-
         panhamento e Fiscalização (MAF) dos NPO’s e da Equipa de Projecto das LFC’s.  denciar os assuntos que merecem reflexão.  A História provoca a
           Após a cerimónia seguiu-se um almoço oferecido pelos ENVC, no Hotel Flor   reflexão, põe questões, não fornece respostas (Geoffrei Till).
         de Sal, em Viana do Castelo.                                  É muito antiga a consciência da importância da His-
           Conforme estabelecido no POA 13 – Requisitos Operacionais das Lanchas de   tória e a noção de que o conhecimento da História é in-
         Fiscalização Costeira, estes navios destinam-se a substituir os patrulhas da clas-  dispensável para a boa compreensão e interpretação dos
         se “Cacine”, com a capacidade de operarem eficientemente numa área costeira,   fenómenos correntes, favorecendo as decisões que eles
         associada ao mar territorial e zona contígua.               poderão requerer.
           Estes navios poderão vir a ser empenhados em tarefas de:    Tucídides (Atenas, 465-395 a.C.), considerado o maior
           - Patrulha e vigilância no espaço marítimo sob jurisdição nacional, ZEE  historiador da Antiguidade, talvez o mais notável até Ma-
           - Protecção e fiscalização da pesca e dos seus recursos    quiavel (Florença, 1469-1527), na sua História da Guerra do
           - Operações de busca e salvamento marítimo (SAR)          Peleponeso, escreveu:  Pode acontecer que a ausência do fabu-
           -  Execução de acções de socorro e assistência em situações de calamidade ou   loso em minha narrativa pareça menos agradável ao ouvido,
            acidente, em colaboração com Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção   mas quem quer que deseje ter uma ideia clara tanto dos eventos
            Civil (SNBPC)                                            ocorridos quanto daqueles que algum dia voltarão a ocorrer em
           -  Apoio à projecção de forças de operações especiais, com a capacidade de   circunstâncias idênticas ou semelhantes, em consequência de seu
            projectar uma Lancha de Assalto Rápido (LAR);            conteúdo humano, julgará a minha história útil e isto me bastará
           - Execução de operações de apoio a Mergulhadores e à guerra de minas;  (Livro I, capítulo 22).
           - Presença naval e formação/treino.
                                                                       Na verdade, não basta conhecer a História, para dela nos
                                                                     orgulharmos.  Como disse também Jacques Maritain (Fran-
                                                                     ça, 1882-1973), de que nos serviria a História, se não nos ensinasse
                                                                     a evitar os grandes erros em que caíram os nossos pais?
                                                                       Um escritor russo do séc. XIX diz o mesmo de uma for-
                                                                     ma diferente: A História não nos ensina nada, apenas nos cas-
                                                                     tiga se esquecermos as suas lições.
                                                                       A História é a consciência do existir colectivo de um
                                                                     povo e é o registo da sua experiência. Conhecer a Histó-
                                                                     ria contribui para a coesão de um povo e para a definição
                                                                     da sua identidade.
                     Principais características das LFC’s:
                                                                       É nossa responsabilidade registar, em memória, os fac-
          -  Guarnição: 3 Of., 4 Sarg. e 13 praças, com margem para alojamento extra de   tos, as tradições, os valores, e transmiti-los aos vindouros.
           2 Of., 2 Sarg. e 3 praças.                                Cada minuto que passa inscreve-se na História, isto é, o
          - Comprimento Fora a Fora: 59.9 m                          presente pertencerá amanhã à História.
          - Boca Máxima: 9.9 m                                         Se não memorizamos o nosso passado ou os factos de
          - Imersão Média Carregado (proj.): 2,7 m
          - Deslocamento Carregado (proj.): 660 t                    hoje, eles jamais serão História.  Se esquecermos ou per-
          -   Velocidade Máxima Mantida (proj): > 25 nós             dermos hoje os valores, as tradições e os princípios que
           (com 4 motores diesel com uma potência total de aprox. 9000kW)  caracterizam as instituições, as nações ou as civilizações,
          -  Equipamentos auxiliares relevantes: Estabilizadores Activos e Propulsor de Proa  elas amanhã serão ignoradas e assim perecerão.
          - Navios conformes com a Convenção Marpol 73/78 - Anexos I, IV, V e VI)                              Z
                                                                                              António Emílio Sacchetti
                                                                 Z                                          VALM
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2006  5
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