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UMA NOITE SUBMERSO
NO “DELFIM”
e longe, avistámos, acima do talude, Os episódios do levantamento dos fabricos, a esta, por estibordo, entrámos pela porta que
a inconfundível torre negra e, mais montagem, ensaios e alinhamento dos seus acede às escadas que, a pique, conduzem quer
Dpróximos, pudemos admirar, atraca- periscópios que fizéramos em Toulon, onde, à ponte quer ao seu bojo para onde seguimos
do ao pontão da BNL, os quase 58 metros do no distante ano de 1968, convivemos com al- através da única escotilha aberta, a que será
esbelto casco do submarino. Enquanto, fechada quando submergirmos.
no extremo da ponte-cais, um respon- Aí, no Compartimento do Controlo,
sável anotava o desempenho, na água, donde se governa o navio, ensaiava-se, se-
de um grupo de alunos Mergulhadores, gundo Listas de Verificação, o leme de di-
grossas mangueiras esgueiravam-se dum recção, vertical, e os dois de profundidade,
camião cisterna que, através de escondi- AV e AR, horizontais, e muitos outros ór-
das bocas, abastecia o S 166 de «Mari- gãos de manobra e controlo. Continuando
ne Gasoil». para vante atravessámos o Compartimento
No navio, apenas se encontrava o pes- do Comando, em idêntica fase de testes.
soal de serviço e o envolvido naquela O que se possa imaginar é, no caso,
faina de combustível, porém não tardou imediatamente confirmado; a exiguidade
que aparecesse, em grupos, a restante do espaço horizontal e ... vertical pois ao
guarnição do «Delfim» que, àquela hora, estreito corredor que percorremos cor-
pronta para mais uma missão, regressava responde o que, na prumada, a cabeça
do almoço, saboreado em ambiente mais deve seguir.
confortável. No Alojamento dos Oficiais onde, a
Concluída a trasfega e retirado o auto- partir dum sofá, se pode improvisar dois
-tanque é, como já se fazia nos antigos beliches (digamos, couchettes), se acede,
submersíveis e já se faz na última ge- a EB e para vante, a um estreito camarote
ração de navios de superfície da nossa com três beliches e, a BB e ao longo do
Armada, o momento de se proceder, à único corredor, resguardada por uma cor-
semelhança do que acontece nos meios tina, à «alcova» do Comandante.
aeronáuticos, a verificações de ultimíssi- Ali, dois dos oficiais, agora integrados
ma hora. Assim, com todo o pessoal nos na guarnição, recordaram as onze sema-
seus Postos de Combate de Verificação, à Dois tempos, a preto e branco. nas que, na qualidade de alunos, dormi-
ordem do Engenheiro para “fechar escotilhas, guns dos seus primeiros Comandantes, foi o ram debaixo da mesma mesa, onde consulta-
balancear portas estanques, passar, segundo nosso pequeno contributo nesta conversa. vam manuais e preenchiam documentos. Mas
tabelas, revista às válvulas, verificar material Convidados pelo Oficial Imediato dirigi- quantos sargentos e praças não terão igualmen-
LA e confirmar a presença de todo o pessoal» mo-nos ao navio para aí presenciarmos a se- te «riscado» em cada uma dessas imperativas
é, interiormente, o casco resistente submetido gunda fase das verificações que respeita às saídas de formação prática?
a uma depressão de 200 mb, gerada pe- Os resultados das verificações foram
los grupos electrógeneos, para então se sendo transmitidos aos respectivos Che-
proceder, pela observação e audição de fes de Departamento e apenas uma rede
eventuais entradas de ar, à inspecção da de comunicações estava temporariamen-
estanqueidade do casco emerso. te inoperativa, porém a redundância as-
Enquanto decorria esta vital operação segurava uma alternativa satisfatória que
fomos, no gabinete dos Comandantes não afectou a largada. O Oficial Imediato,
dos Submarinos, recebidos pelo seu Co- pôde então informar o Comandante, por
mandante que nos informou, em traços rádio, que o navio estava pronto, aguar-
largos, da história recente do navio, das dando-se a sua presença a bordo.
missões que lhe têm sido atribuídas, no- Pouco depois, convidados a subir à
meadamente no Adriático, em 1993, a ponte, trepámos os dois lances de escada,
intensa ocupação que, em média anual, esgueirando-nos por entre encanamentos,
orça pelas 2000 h ao longo de 130 dias válvulas e cabos, e aí, capacidade para
de navegação e, perante a galeria de re- dois homens de pé, encontrámos o Co-
tratos, recordámos, um a um, os coman- mandante, em pé, sobre a torre e a meia-
dantes dos quatro submarinos que cons- -nau, por ante a vante dos mastros, parcial-
tituíram a 4ª Esquadrilha. mente içados, Snort e Antena de Vara, já
Soubemos ainda como, graças à pre- pronto para a faina de largada. A nós, foi-
sença dos nossos submarinos em Inglater- -nos destinada uma minúscula cadeirinha,
ra, a Armada vem assegurando aos navios meio fora da borda e a uns sete metros aci-
de superfície a certificação OST (Opera- ma do estreito casco exterior (6,75m de
cional Sea Training) do Almirantado Bri- Navegando à superfície. boca), que, em equilíbrio instável e mui-
tânico e, a atestar a operacionalidade, to bem seguros, ocupámos simulando o
apesar de antiquada, da nossa reduzida frota máquinas e aos numerosos equipamentos, à -vontade com que o Chefe do Departamento
de sub-superfície, que o «Barracuda» se en- sensores e armas. de Navegação, a BB, ocupava a sua.
contrava em manobras, a convite da Marine Cumprido o cerimonial militar e marítimo, Previamente arriado o Jaque e passada à
Nationale, ao largo de Brest. transposta a prancha a vante da torre, colados ponte a Bandeira Nacional, a escorreita ma-
REVISTA DA ARMADA U FEVEREIRO 2006 7