Page 170 - Revista da Armada
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Cães de guerra e de paz
Cães de guerra e de paz
A Escola de Fuzileiros é uma referência obtenção de inúmeros prémios em concursos, «marcham» para a GNR, com os respectivos
obrigatória no panorama da canicultura como foram os casos da cadela «Mira» e do tratadores, para frequentarem o «Curso Cino-
nacional. Mas não ficou por aqui, hoje a «Xangai» (ver caixa). técnico de Busca e detecção de Droga». Desde
sua secção de cães colabora no combate a Posteriormente no início dos anos 80 foi ce- então o Corpo de Fuzileiros tem respondido a
dois dos flagelos do nosso século: a droga dido à EF um casal de cães da raça Castro La- inúmeras solicitações de buscas em unidades
e o terrorismo. boreiro. O desenvolvimento desta raça registou navais e em terra. Felizmente os resultados têm
mais um êxito, produzindo-se então excelentes sido na sua maioria negativos, mas há a registar
os finais dos anos 70 a Escola de Fu- exemplares que reuniram as mais interessantes algumas capturas de substâncias ilícitas.
zileiros (EF) acolheu os Mais recentemente − já no
Nprimeiros cães, com o presente século − foi entendi-
propósito de estes gradualmen- do passar-se a dispor da capa-
te poderem reforçar o serviço cidade para detecção de enge-
de vigilância e guardas, num nhos explosivos improvisados,
período em que já se faziam através da utilização de cães.
sentir algumas carências a nível Para esse efeito foram adquiri-
de pessoal. das duas cadelas da raça Pastor
Esta iniciativa originou a cria- Belga − conhecida pela sua na-
ção na EF de cães da raça Serra tural sensibilidade para sinalizar
da Estrela, com tal sucesso que, explosivos − que frequentaram
anos mais tarde, aquela unida- o competente curso na GNR. A
de foi considerada pelo Clu- utilização destes animais tem
be Português do Cão da Serra sido uma constante, nomeada-
da Estrela (CPCSE), como um mente no apoio a cerimónias
dos santuários desta raça. Foi públicas, espectáculos e outros
inclusive, no mesmo período, Da esquerda para a direita: a Zara, a Nina, o Nero e a York com os seus tratadores. eventos. Actualmente a Mari-
realizado pelo CPCSE um fil- nha dispõe de 4 cães para traba-
me de propaganda com a colaboração da EF características do estalão da raça − formato da lhar na área da droga e 2 nos explosivos.
e do Engenheiro Sousa Veloso, na altura am- cabeça, inserção das orelhas, tipo e cor da pe- Mas a criação de cães na Escola de Fuzilei-
plamente divulgado na RTP. Foram vários os lagem, etc. − com realce para o «Lego» que ros deu recentemente mais uma vez os seus
exemplares desta raça que se destacaram pela arrecadou numerosos troféus. Poucos anos vol- frutos. Assim, dois cachorros filhos da cadela
vidos os «fuzos» receberam então Pastor Belga Mali já se encontram a efectuar
«Xangai», o Campeão Cães de Água Portugueses − numa trabalho específico de preparação para a fre-
altura em que esta raça se encon- quência de cursos mais avançados.
Uma das capas mais conhecidas da RA é sem dúvida a do seu
nº 151 (ABR84), que apresenta a fotografia do Serra da Estrela «Xan- trava ameaçada de extinção − atra-
gai» com o seu tratador − CAB FZ Bastos. O «Xangai» − que «assen- vés da contribuição de uma grande NO FUTURO OS CÃES DEVEM
tou» praça nos fuzileiros aos quatro meses − foi largamente noticia- criadora: Carla Molinari. VOLTAR A PATRULHAR AS UNIDADES
do na imprensa, nomeadamente nos diários «A Capital» e «Correio
da Manhã», respectivamente em 3 e 6 de Março de 1984. Não era NOVAS FUNÇÕES PARA A RA teve então a oportunidade de visitar
para menos, pois o nosso Serra da Estrela era apresentado como um os cães da EF, instalados na sua extremidade
verdadeiro campeão das raças portuguesas. Palmarés não lhe faltava: OS CÃES: DETECÇÃO DE
55 taças, 23 prémios de raça, 38 medalhas, salva de prata de adestra- DROGA E EXPLOSIVOS SE, numa pacata zona de arvoredo, dotados
mento e um sem fim de certificados em concursos nacionais. Tinha de excelentes condições e actualmente em
ainda conquistado na exposição da Guarda, aberta a cães Serra da Chegou-se então à década de 90 remodelação. Existem seis tratadores − com
Estrela, o primeiro prémio de adestramento. Um dos seus filhos, o com cerca de 30 cães, num perío- habilitação em detecção e busca, de droga e
«Taiko» foi também outro campeão, que seria oferecido ao General do em que a EF era um parceiro explosivos. Diariamente os cães fazem o seu
Melo Egídio. Para a história fica ainda uma entrevista dada ao tempo
pelo então CTEN SEF Salgado Soares, Segundo Comandante da EF, importante para o apuramento passeio e três vezes por semana executam trei-
ao diário «A Capital» onde se lê em determinada altura: «…Aquele das raças nacionais, constituindo no específico na sua especialidade.
oficial considera que o emprego de cães bem treinados desempe- ainda um mostruário canino per- Como é da praxe assistiu-se a várias demons-
nha com vantagem, nas missões de defesa e segurança, sobretudo manente, se tivermos em conta trações, com realce para a «Quinas» uma ca-
em termos de custo, as funções de seis homens…».
os milhares de visitantes que esta dela Labrador, que não teve dificuldade em en-
unidade recebia regularmente. Foi contrar o «isco» com cheiro a droga, premiada
também a altura em que se come- no final com o seu brinquedo favorito. Curiosa
çaram a sentir dificuldades finan- foi a maneira como a «Mali», reagiu ao detec-
ceiras na manutenção dos caníde- tar um explosivo: sentou-se tranquilamente!
os, bem como na área de recursos Segundo o CMG João Pires Carmona −
humanos. comandante da EF − os cães pelo trabalho e
A Marinha inicia então um pla- resultados já conseguidos justificam plena-
no concertado destinado ao com- mente toda a despesa e cuidados que acarre-
bate e prevenção da droga, que tam. No futuro, sublinha aquele oficial, deve
consistia na utilização de cães, à prosseguir -se com a aposta na utilização dos
semelhança daquilo que já se fa- cães no patrulhamento das Unidades Navais,
zia na Guarda Nacional Republi- recriando -se de novo o conceito do binómio
cana (GNR), o que lhe iria permitir homem/cão para defesa imediata.
ganhar autonomia nesta área. As- Z
sim em meados dos anos 90, dois Abel Melo e Sousa
exemplares da raça Cães de Água CFR REF
24 MAIO 2007 U REVISTA DA ARMADA