Page 188 - Revista da Armada
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plementaridade entre marinha militar e guarda-costeira, permitindo  corveta nas águas de Cabo-Verde no sentido de cooperar na mitigação
         economia de meios e potenciação do desempenho.       da permeabilidade da fronteira marítima da união Europeia; com a
           São estes os paradigmas de desenvolvimento da Marinha, que se  Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, nas inspecções sa-
         afirma ao serviço de Portugal como: firme na defesa, empenhada na  nitárias a navios e na repressão de actividades fraudulentas no Domí-
         segurança, e parceira no desenvolvimento.            nio Público Marítimo e muitas outras entidades, seja no domínio dos
           São estas as questões “fortes e estruturantes” em que nos empe-  transportes, do ambiente, ou dos recursos vivos ou inertes que, como
         nhamos.                                              nós, entendem a transversalidade das actuações no mar.
           E qual é então a medida das nossas concretizações, o produto ope-  Esta cooperação, característica da normal ordem democrática, é fun-
         racional da Marinha?                                 damental para que a autoridade no mar se exerça de forma mais inte-
           Na defesa e apoio à política externa, numa expressão inequívoca da  grada e eficiente, em benefício do País. É assim que entendemos a acção
         dimensão expedicionária da esquadra, mantemos, permanentemente,  do Estado; por isso, defendemos uma Marinha que conceptualizamos
         em prontidão de 48 horas, a componente naval da Força de Reacção  como “de duplo uso” nas vertentes militar e civil, assente em dois pilares
         Imediata, apta a executar - dentro                                             fundamentais: a versatilidade dos
         das suas capacidades - qualquer                                                navios e as competências e proxi-
         acção de carácter militar como,                                                midade às comunidades ribeiri-
         por exemplo, a evacuação de ci-                                                nhas do Capitão de Porto.
         dadãos nacionais no estrangeiro,                                                 No domínio científico, o Institu-
         como aconteceu em 1998, na Gui-                                                to Hidrográfico é reconhecido na-
         né-Bissau, ou de apoio em caso de                                              cional e internacionalmente, como
         calamidade ou acidente. Simul-                                                 uma instituição de referência.
         taneamente, asseguramos um                                                     Para além de muitas outras mis-
         vasto leque de participações de                                                sões, está empenhado no projecto
         carácter multinacional, honran-                                                nacional e estratégico, de estudo e
         do os compromissos do País, de                                                 levantamento da plataforma con-
         que são exemplo a atribuição de                                                tinental, no sentido de habilitar
         uma fragata à força naval perma-                                               Portugal a reclamar direitos de ju-
         nente da NATO, agora focalizada                                                risdição sobre áreas para além das
         em África; a recente intervenção                                               acuais duzentas milhas da actual
         de uma força de acções especiais dos fuzileiros, na República Demo-  Zona Económica Exclusiva. Para tal, o navio oceanográfico “D. Carlos
         crática do Congo, sob a égide da União Europeia; as visitas de unida-  I” já estudou mais de 540.000 km2 de fundos marinhos (o equivalente a
         des navais e os projectos de cooperação técnico-militar que mantemos  6 vezes a área do território nacional) sendo expectável que em algumas
         com os Países Lusófonos.                             áreas, possamos vir a alargar – como será o caso dos Açores – até ás 350
           No âmbito da segurança e da afirmação da autoridade do Estado no  milhas, as já extensíssimas áreas sob jurisdição nacional.
         mar, mantemos, ininterruptamente, 365 dias por ano, 24 horas por dia,   No domínio económico, realço o contributo que o processo de rege-
         um Dispositivo Naval que assegura a vigilância e controlo dos espaços  neração da Esquadra representa como oportunidade para a indústria
         sob soberania ou jurisdição nacional, o serviço de busca e salvamento  nacional. Paralelamente, decorre o processo de empresarialização do
         marítimo e o apoio aos navegantes e populações ribeirinhas, como bem  Arsenal do Alfeite com vista a viabilizar economicamente uma infra-
         conhecem os Açoreanos.                               estrutura fundamental para a Marinha e para o País, e cujo futuro, no
           Para tal, empenhamos articulada e complementarmente, os meios  actual enquadramento, não existe.
         do Comando Naval e da Direcção-Geral da Autoridade Marítima que   No domínio cultural, disponibilizamos aos Portugueses um valioso
         efectuam, em cada ano, milhares de vistorias a embarcações de todos os  parque museológico e pedagógico, tendo como expoentes o Museu de
         tipos; centenas de acções de combate à poluição, como a do “CP Valour”  Marinha, o Planetário Calouste Gulbenkian, o Aquário Vasco da Gama e
         na Ilha do Faial; e muitas cente-                                               a Biblioteca e Arquivo Central da
         nas de acções de salvamento,                                                    Marinha. Paralelamente, marca-
         num esforço muito gratificante                                                   mos presença junto da diáspora
         e que nos honra particularmen-                                                  através de visitas de unidades
         te: o de salvar vidas.                                                          navais e, muito especialmente,
           É esta recompensa moral, que                                                  do Navio Escola “Sagres”.
         está na origem da dedicação es-                                                   Ilustres Autoridades
         pontânea de tantos marinheiros                                                    Distintos convidados
         que, numa dádiva pessoal, man-                                                    Permitam-me que me dirija
         têm em funcionamento ininter-                                                   agora aos militares, militariza-
         rupto um conjunto assinalável                                                   dos e civis da Marinha para,
         de estruturas de serviço público,                                               em primeiro lugar, saudar
         sem daí retirarem outro bene-                                                   aqueles que, hoje mesmo, em
         fício. Os mesmos que, quantas                                                   serviço na primeira linha de
         vezes, são julgados pela opinião                                                exigência operacional, cum-
         pública por quem, tendo a com-                                                  prem Portugal no mar.
         petência, não se subtrai aos interesses e, por outros que, embora agindo   O futuro – o nosso futuro - está sempre além horizonte e a incer-
         de boa fé, dela não dispõem.                         teza que encerra nunca nos demoveu de o demandarmos, cientes
           Hoje, a segurança e o bem-estar dos portugueses, exige uma pers-  das condicionantes, mas confiantes no saber, na motivação, na tena-
         pectiva sem fronteiras entre os contribuintes para a segurança interna  cidade e na imaginação criativa, que são marcas de carácter que nos
         e externa. Por isso, na área do exercício da autoridade do Estado no  unem e identificam!
         mar, continuámos a promover e aprofundar colaborações institucionais   É assim que começo por eleger a regeneração da Esquadra como
         com os demais departamentos com atribuições em ambiente marítimo:  elemento determinante, porque num quadro de reconhecidas difi-
         com a GNR, no controlo de ilícitos aduaneiros e fiscais e na repressão  culdades orçamentais, o País e o Governo, com inquestionável visão
         da pesca ilícita nos estuários; com a Polícia Judiciária, no combate ao  político-estratégica, reconheceram que apesar do esforço financeiro
         narcotráfico; com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, na vigilância  que tal processo encerra, é imprescindível defender adequadamente
         e prevenção da imigração ilegal, incluindo o empenhamento de uma  os interesses de Portugal no mar.

         6  JUNHO 2007 U REVISTA DA ARMADA
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