Page 213 - Revista da Armada
P. 213

Narração da Tormentosa Viagem
                  Narração da Tormentosa Viagem

            dos Desterrados nos Mares das Índias
            dos Desterrados nos Mares das Índias

                     Segundo os Arquivos do Hospital de Todos os Santos

            reneu Cruz é médico especializado em gastrenterologia. Exer-  Para se debruçar sobre este apaixonante tema, Ireneu Cruz arqui-
            ceu clínica em Pretória e em Pietermaritzburg, na África do  tectou uma história muito bem conseguida que nos fala da Santa
         ISul, depois em Luanda e por fim veio estabelecer-se em Setú-  Catarina do Mar, uma caravela tão desgastada pelo tempo que era
         bal, onde foi chefe de serviço no Hospital de S. Bernardo.   conhecida pela Velhinha. Pois foi este navio, que tendo navegado
           Conheci Ireneu Cruz há alguns anos, quando tive conheci-  por  muitos mares, mas agora vindo de Melinde de regresso a Lis-
         mento que se dedicava a coleccionar instrumentos náuticos.  boa, viu-se nas proximidades dos baixos da Judia, que se situam
         Visitei-o várias ve-                                                                    entre Madagascar
         zes para trocarmos                                                                      e a costa africana.
         impressões sobre                                                                        O capitão da Santa
         os belos espéci-                                                                        Catarina aproveitou
         mens que possuía                                                                        para ali largar ferro
         e constatei como as                                                                     e fazer consertos e
         casas são pequenas                                                                      dar merecido des-
         quando nelas habi-                                                                      canso à guarnição.
         tam coleccionado-                                                                        E foi nesta escala-
         res. Um dia disse-                                                                      da fortuita, quando
         -me que ia doar os                                                                      um batel foi a terra
         seus objectos de                                                                        para fazer aguada,
         navegação à cidade                                                                      que se ouviu um
         de Setúbal, o que                                                                       grito de voz huma-
         veio a acontecer. A                                                                     na: era alguém que
         Câmara Municipal                                                                        gesticulava na orla
         não podia ter fei-                                                                      da praia. Na reali-
         to melhor escolha                                                                       dade eram ao todo
         para receber tão                                                                        três homens esfar-
         belo conjunto de                                                                        rapados que, sete
         instrumentos náuticos. Para o efeito disponibilizou a magnífi-  anos antes, ali tinham sido deixados por um navio holandês.
         ca Casa do Corpo Santo, do primeiro terço do século XVIII que  Nessa altura, tendo-se sentido muito doentes e infelizes, roga-
         tem belos azulejos e tetos pintados e uma esplendorosa capela  ram ao capitão para os desembarcar  e assim poderem, em terra,
         repleta de talha dourada. 1                          morrer em descanso.
           Além do seu reconhecido mérito na área profissional, do seu   Foi este cenário que permitiu a Ireneu Cruz falar-nos do escorbu-
         gosto por coleccionar esses instrumentos que levaram os Portu-  to, a peste que dizimou guarnições nesse período glorioso das Des-
         gueses às quatro partidas do Mundo, Ireneu Cruz tem um talen-  cobertas. E foi também motivo para recordar essa obra pioneira de
         to invulgar para a escrita. Publicou  patobiografias de Fernando  Garcia de Horta sobre as propriedades terapêuticas das plantas.
         Pessoa, Eça de Queiroz e Hemingway, o que consistiu em pes-  Enfim, a Narração da Tormentosa Viagem dos Desterrados nos Ma-
         quisar e investigar, à distância no tempo, quais as doenças que  res das Índias, é uma obra a não perder.
         aqueles famosos escritores sofreram no fim das suas vidas. Obras,                                      Z
         sem dúvida, de grande mérito. Todavia, o que nos leva a escrever                         A. Estácio dos Reis
         estas linhas é a sua última produção literária dado que nela dá                                     CMG
         grande relevo a uma moléstia que ficou escrita em letras negras   Nota
         na nossa História Tragico-Marítima.                   1  Ver “Uma Bela Colecção num Belo Edifício”, in Revista da Armada nº 385, Abril 2005.

                                                  CONVÍVIOS



             14º ENCONTRO DE MARINHEIROS                                CLUBE MILITAR NAVAL
                         DE BARCELOS                          ARRAIAL DE SANTO ANTÓNIO 2007

         ¬ Realiza-se no dia 16 de Maio o convívio anual dos Mari-  ¬ Associando-se às tradicionais festas de Lisboa, o Clube Militar
         nheiros de Barcelos , que é extensível à família e tem o seguin-  Naval vai realizar um convívio nas suas instalações, no dia 12 de
         te programa:                                         Junho, pelas 20h, com música ao vivo e arraial tradicional.
           16h00 – Concentração junto ao Mosteiro Senhor da Cruz.   Convidam-se todos os sócios, familiares e amigos a aderirem
           16h30 – Missa em sufrágio dos Marinheiros falecidos e em   a mais esta iniciativa, o que requer inscrição prévia.
         acção de graças, no Mosteiro.                         Os interessados poderão fazer as suas inscrições directamente
           17h30 – Restaurante “Furnazinha” do Filho da Escola Pinto.  no Clube, até ao dia 11 de Junho, ou através dos seguintes con-
           Os interessados devem confirmar até 11 de Junho para:  tactos: Tel. 21 354 21 22 Email: cmnaval@cmnaval.com
           José Durães – TM 93 476 27 43 / 253 83 14 21, António Lou-
         reiro – TM 96 464 87 73, Manuel Garrido TM – 93 846 65 94 /   NOTA: O restaurante nesse dia não servirá jantares e as instalações encerrarão no
         253 81 36 40.                                        dia 13 de Junho. Reabrindo no dia seguinte dentro do horário normal.
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2007  31
   208   209   210   211   212   213   214   215   216   217   218