Page 35 - Revista da Armada
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Navios da República
3. O CRUZADOR “ALMIRANTE REIS”
Construído em Inglaterra nos estaleiros da casa Armstrong, em submetido a grandes fabricos. Regressa a Lisboa em Setembro do
Newcastle on Tyne, é lançado à água a 5 de Maio de 1898. Passa à ano seguinte.
situação de armamento completo a 8 de Julho e com a designação
de cruzador “D. Carlos I” demanda, pela primeira vez, a barra do Durante a vigência da Monarquia integra, durante curtos períodos,
Tejo no dia 20 do mesmo mês. a Divisão Naval de Defesa e Instrução nas águas do Continente e Ilhas
Adjacentes, excepto de Janeiro a Abril de 1909, com aspirantes da
O casco era de aço e as suas características principais as seguintes: Escola Naval, em que visita portos do Mediterrâneo.
Deslocamento......................................................... 4.253 toneladas
Comprimento entre prependiculares..........................110,00 metros Destaque-se ser o segundo navio onde foi instalada, em Janeiro de
Boca.............................................................................14,40 “ 1910, uma aparelhagem de TSF. O primeiro tinha sido o cruzador
Calado máximo..............................................................5,33 “ “S. Gabriel”, em Dezembro de 1909.
Do aparelho propulsor constavam 12 caldeiras arquibulares, tipo Às primeiras horas do dia 4 de Outubro de 1910, vários navios
Yarrow, e máquinas a vapor de tríplice expansão, 4 cilindros com a da Esquadra revoltam-se tendo o cruzador “Adamastor” dado tiros
potência de 12.729 cavalos que correspondiam à velocidade de 20 de salva, sinal do começo do que seria a implantação da República.
nós. O armamento era constituído por: 4 peças Armstrong de 150 Porém, o “D. Carlos I” iça, como habitualmente às 8 horas da ma-
mm e 8 de 120; 16 peças Hotchkiss de 47 mm e 2 de 37, 4 metralha- nhã, a bandeira azul e branca da Monarquia. Apenas pelas 22 horas
doras Nordenfelt de 6,5 mm; 2 tubos lança torpedos amoviveis aci- desse dia e após a entrada a bordo de alguns revolucionários che-
ma da linha de flutuação e 2 submersos. A guarnição era composta fiados pelo 2º tenente José Carlos da Maia, que toma o comando, o
de 442 elementos (20 oficiais, 46 cruzador adere à revolta.
sargentos e 376 praças).
Em 1 de Dezembro o navio
O navio esteve operacional até passa a chamar-se cruzador “Al-
1916 e o seu historial pode-se di- mirante Reis”, iniciando o se-
vidir em dois períodos distintos: gundo e último período da sua
o primeiro até à queda do regime história.
monárquico e o segundo durante
a República. À semelhança do sucedido no
período anterior continua a inte-
Na vigência da Monarquia fo- grar a Divisão Naval quando esta
ram atribuídos ao cruzador es- é periodicamente activada.
pecialmente missões de repre-
sentação no estrangeiro. Assim, Entretanto a Grande Guerra
em Abril de 1900 larga rumo à tem o seu início sendo então for-
América do Sul para participar madas expedições militares para
no IV Centenário da Descoberta reforçar as fronteiras sul de An-
do Brasil. Em Agosto desloca-se ao Ferrol a fim de prestar homena- gola e norte de Moçambique. O
gem à Família Real Espanhola. Escala o porto inglês de Portsmouth, cruzador larga em Setembro es-
em Fevereiro de 1901, para participar nas solenidades fúnebres da coltando navios com os expedicionários embarcados, tendo escala-
Rainha Victória. do Luanda, Cidade do Cabo, Lourenço Marques e Porto Amélia. Re-
gressa em Fevereiro de 1915.
Em Junho e Julho faz parte da Divisão Naval que acompanha a visi- A situação política era então muito instável, sucedendo-se por isso
ta de D. Carlos e de D. Amélia à Madeira e aos Açores. Está presente, os governos e os movimentos revolucionários. Na madrugada de 14
em Agosto de 1902, na Revista Naval realizada na baía de Spithead, para 15 de Maio de 1915 dá-se a revolta contra o Governo do Ge-
quando da coroação do rei Eduardo VII. Em Outubro participa, no neral Pimenta de Castro. O comandante do “D. Carlos I”, Capitão-
Rio de Janeiro, nas cerimónias de investidura do presidente eleito da -de-mar-e-guerra Joaquim Neves da Silva é ferido e vem nesse dia a
República do Brasil, filho de um cidadão português. falecer no Hospital da Marinha.
A última saída para o mar foi um cruzeiro às Berlengas. Larga de
No ano seguinte, ano de 1903, em Abril escala Alger e em Junho Lisboa em 29 de Janeiro de 1916 e demanda, pela última vez, a bar-
Cartagena, prestando respectivamente homenagem a Émile Loubet, Pre- ra do Tejo no dia seguinte.
sidente da República Francesa e a D. Afonso XIII, Rei de Espanha. A 9 de Março a Alemanha declara guerra a Portugal e em 18 de
Maio o cruzador “Almirante Reis”, à testa da Divisão Naval de Defesa
Ainda no âmbito das missões de representação o cruzador está em e Instrução, toma parte na Revista Naval que então se efectua peran-
Lagos, nos meses de Agosto de 1903 e de 1905 e em Junho de 1909, te o cruzador “Vasco da Gama”, a bordo do qual se encontravam o
para receber as esquadras inglesas do Atlântico e do Mediterrâneo. Presidente da República, o Governo e o Corpo Diplomático.
Os fabricos, significativamente onerosos que o cruzador necessi-
A sua última viagem de representação foi de Abril a Julho de 1910, tava, foram-se protelando, principalmente por dificuldades financei-
para tomar parte nas festas do 1º Centenário da Independência da ras. A Grande Guerra aproxima-se do fim assim como o cruzador
Argentina, tendo na ocasião praticado os portos do Rio de Janeiro, “Almirante Reis”.
Montevideu e Buenos Aires. Passa ao estado de desarmamento completo em Fevereiro de 1918
e em 22 de Janeiro de 1925 é abatido ao “Efectivo dos Navios da
Durante uma década o cruzador tinha-se tornado uma presença Armada” aquela unidade naval que, dotada de um moderno e com-
indispensável nos eventos em que era necessário, no mar, represen- pleto armamento para a época, excelente velocidade, apreciáveis di-
tar condignamente Portugal. mensões e desenho de verdadeira unidade de combate, é considerada
o único “autentico cruzador” que a Marinha teve ao seu serviço.
Neste período, além das missões de representação já citadas, ou-
tros factos ocorreram. J. L. Leiria Pinto
A pretexto da disciplina ser considerada a bordo demasiadamente CALM
rigorosa, dá-se, em 8 de Abril de 1906, uma insubordinação. A ordem
é restabelecida passados três dias, após o desembarque da guarnição
e do comandante ter reassumido o seu comando.
Larga de Lisboa em Agosto de 1906 rumo a Newcastle para ser

