Page 31 - Revista da Armada
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VIGIA DA HISTÓRIA 19
Piratas
Com excepção do capitão Gancho, personagem da história do Peter Quanto aos navios ingleses não será de estranhar que integrassem
Pan, sempre que se fala em piratas a imagem que logo ocorre é a de as hostes do corsário já que, tendo sido bem recebidos, voltaram dias
um indivíduo de má catadura, venda num olho e perna de pau. depois a entrar no Funchal cometendo assaltos e roubos, vindo a fugir
Esta personagem, que integra o imaginário colectivo, tem resistido ao quando atacados por navios portugueses.
passar do tempo desde, pelo menos, há mais de 50 anos, numa canção
popular brasileira até aos nossos dias em que um tipo de gelado e a res- Também com o mesmo nome de Pé de Pau, mas este de nacionali-
pectiva campanha publicitária, fazem uso da figura de um pirata. dade inglesa, existia um outro corsário, no início do século XVII. Este
corsário tornara-se um renegado, vivendo na Berberia, onde tinha a sua
Estou em crer que, mais do que ao cinema, a existência de tal ima- base de operações e onde vendia, como escravos, todos os cristãos que
gem se encontra alicerçada na tradição decorrente de factos ocorridos capturava no assalto a navios ou nas incursões em terra, em especial
há muito, como é o caso da campanha de terror que, no século XVII, no Algarve e no Sul de Espanha.
o corsário holandês Cornelis Jol semeou nas costas brasileiras e que se
julga ser a origem da canção atrás citada já que o corsário era conheci- No princípio do Verão de 1606 uma armada de 7 galeões portugue-
do pela alcunha de “Pé de Pau”. ses, sob o comando do conde de Alba, saiu de Lisboa com destino a
Sevilha.
Também os factos que seguidamente se relatam terão contribuído
para manter a imagem que hoje ainda temos dos piratas Desconhece-se quando, mas possivelmente no regresso, a armada
dos galeões deparou-se, na costa do Algarve, com o famigerado cor-
Em Setembro de 1552, Sebastião Gonçalves informava, do Funchal, sário dando-lhe logo combate, combate esse que terá sido renhido,
que algum tempo atrás haviam entrado naquele porto navios ingle- tendo os portugueses, apesar de alguns mortos e feridos, entrado no
ses. À chegada informaram que andavam em busca de uns desertores galeão inimigo.
que se haviam passado para o serviço de um corsário francês de nome
“O Pé de Pau”. Todos os sobreviventes, incluindo o corsário Pé de Pau, foram enfor-
cados nas vergas do galeão.
É muito provável que tivessem sido os navios deste corsário os que
haviam atacado navios de Lagos e de Portimão e que haviam tentado Z
assaltar navios fundeados no Funchal e pilhado Porto Santo, tudo isto
num período 3/4 meses. Com. E. Gomes
Não consta que este corsário, que espalhou o terror na zona, fosse Fontes:
algum dos vários corsários franceses apresados e condenados à mor- Códice 8570 Biblioteca Nacional de Lisboa
te naquele período. Corpo Cronológico da Torre do Tombo 1ª Parte, maço 88 doc. 6, 12, 70 e 122
“Salvador Correia de Sá e Benevides e a reconquista de Angola em 1648” por
Charles R. Boxer
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