Page 4 - Revista da Armada
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AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL                                                           11

   Espírito de Corpo

O cimento do serviço à Pátria

Caros cadetes, hoje falo-vos do            Requer respeito e consideração entre       definitivamente conquistado! Precisa
        espírito de corpo, que é o senti-  os membros da Marinha, para que per-       de ser continuamente alimentado pela
        mento de pertença à Marinha e      maneçam unidos, como se de uma só          vida a bordo dos navios, como atrás foi
de comunhão dos mesmos ideais, que         família se tratasse, de forma a ultrapas-  dito. Para além disso, também necessita
cimenta cada um de nós em torno de         sarem os obstáculos ligados ao cumpri-     de ser vivificado pelo exemplo dos com-
um propósito comum: servir a nossa         mento das suas obrigações. Também re-      portamentos de cada um de nós e pelos
amada Pátria com empenho, dedica-          quer inteligência e ponderação na sua      actos litúrgicos do cerimonial marítimo.
ção e esforço.                             utilização, para que ligado a desvios à    O exemplo consagra os gestos de soli-
                                           disciplina e aos deveres militares, não    dariedade e consideração entre camara-
  O espírito de corpo revela-se de duas    galvanize eventuais comportamentos         das, através: da expressão de sentimen-
formas principais. Em primeiro lugar,      anárquicos e fracturantes, mais ou me-     tos de simpatia e ternura relativamente
na partilha de aspirações e desejos co-    nos graves, mas todos eles capazes de      a quem tem dificuldades ou sofre; dos
muns, e na adopção de ideais, de tradi-    desvirtuarem a natureza e a função so-     actos de cooperação ou assistência que
ções e de atitudes colectivas. Em con-
junto, dão corpo à                         cial da Marinha, e cause prejuízos à sua                            se manifestam nas
personalidade pró-                         imagem e reputação.                                                 circunstâncias boas
pria dos militares,                                                                                            ou más; da forma
militarizados e ci-                          O espírito de corpo, sendo um sen-                                atenta como se ana-
vis da Marinha, tão                        timento de pertença e de comunhão,                                  lisam os problemas
distintiva no rela-                        também requer de cada um de nós de-                                 de pares e subordi-
cionamento com os                          terminação e contenção: determinação,                               nados, ou como se
outros, quaisquer                          para suportar as contrariedades com                                 expõem os argu-
que sejam as activi-                       resignação; contenção, para desfrutar                               mentos aos supe-
dades. Em segundo                          das facilidades com alegria. É esta du-                             riores. As práticas
lugar, na natureza e                       pla exigência que confere intensidade                               rituais proclamam
solidez dos laços de                       ao sentimento de pertença e de comu-                                a honestidade de
camaradagem, e no                          nhão que existe entre os membros da                                 propósito da Mari-
respeito da diversi-                       Marinha. A tonificação deste sentimen-                               nha e os princípios
dade de convicções                         to é uma responsabilidade particular-                               sadios da conduta
e opiniões. Em con-                        mente relevante para os oficiais, porque                             dos seus membros,
junto, dão corpo à                         no exercício do comando dos homens e                                através: de apelos
postura própria dos                        das mulheres que servem a Marinha,                                  ao amor, ao traba-
militares, militari-                       lidam permanentemente com factores                                  lho e à Pátria; da
zados e civis da Marinha, tão distintiva   que influenciam o estado psicológico        evocação de glórias passadas; da exal-
no cumprimento das suas tarefas, quais-    que leva os subordinados a ter a sensa-    tação de actos e figuras do presente; da
quer que sejam as circunstâncias.          ção de fazer parte, de ser merecido, de    congregação do pessoal no activo, na
                                           estar unido e de viver numa comunida-      reserva e na reforma em eventos signi-
  Na prática, o espírito de corpo traduz-  de como é a nossa.                         ficativos; da abertura das unidades, em
-se no apoio e na estima, que fundamen-                                               ocasiões especiais, a familiares e aos ci-
tam as características básicas dos laços     É inegável que servimos uma organi-      dadãos em geral.
de afecto que nos começam a unir quan-     zação dotada de um excelente espírito        Caros cadetes, o espírito de corpo é
do ingressamos na Marinha, e que são       de corpo. Todavia, este não é um bem       extremamente importante para o su-
nutridos, em primeira instância, pela                                                 cesso da Marinha, porque permite tirar
vida a bordo dos navios. Esta vivência                                                pleno partido das qualidades individu-
profundamente marinheira, também                                                      ais dos nossos efectivos, levando-os a
desenvolve a harmonia peculiar que,                                                   desempenhos excepcionais. Para além
colectivamente, patenteamos nas tri-                                                  disso, alimenta e solidifica as restantes
vialidades do dia-a-dia, ou nas ocasiões                                              virtudes militares, com ênfase especial
mais difíceis da nossa carreira profis-                                                para a disciplina e os deveres. Também
sional. A vida a bordo dos navios leva,                                               gera os estímulos adequados para que,
igualmente, a que o espírito de corpo se                                              cada um de nós, contribua para recriar
traduza na elevação e no denodo que                                                   todos os dias uma Marinha melhor e
colocamos na defesa dos ideais colecti-                                               cada vez mais forte, dinâmica e res-
vos. Para além disso, também desenvol-                                                peitada no seio da nossa amada Pátria,
ve a confiança que cada um de nós tem                                                  que servimos com empenho, dedicação
na competência dos seus superiores, na                                                e esforço.
coragem dos seus pares e na solidarie-
dade dos seus subordinados.                                                                                                              Z

  Caros cadetes, a prática desta virtu-                                                                       António Silva Ribeiro
de militar é extremamente exigente.
                                                                                                                                           CALM
4 MARÇO 2010 U REVISTA DA ARMADA
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