Page 28 - Revista da Armada
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Por Este Nome se Conhecem
(As Alcunhas dos Navios)
Com o título acima, ocorreu na Sala de Leitura da
Biblioteca Central da Marinha no passado dia 22 no I.H., passando à Reserva em Janeiro de 94.
de Abril, a apresentação ao público da primeira Passa então a colaborar oficiosamente na Biblioteca
obra das Edições Culturais da Marinha de 2010. Central da Marinha. Devendo-se-lhe a compilação dos
documentos constantes no Corpo Cronológico da Tor-
Da autoria de Carlos Alberto da Encarnação Gomes, re do Tombo relacionados com a Marinha, navegações
CMG Ref. e colaborador habitual da Revista daArmada, e descobertas, com a leitura paleográfica dos mesmos,
o livro apresenta as alcunhas de 431 navios das nossas que pessoalmente dactilografou e doou à Biblioteca:
marinhas de guerra, mercante e de pesca, com uma in- 37 volumes!
vestigação que vai desde o Sec. XV até aos nossos dias, “Homem determinado, frontal e crítico, qualidades
envolvendo uma exaustiva pesquisa de manuscritos que sempre o acompanharam ao longo da sua carreira
dispersos pelos principais Arquivos Nacionais e pelo de e vida, a ele se aplicam os versos do nosso poeta qui-
Simancas, em Valladolid, além de elevado número de nhentista – homem de uma só palavra, de antes quebrar
obras impressas e entrevistas pessoais. que torcer - hoje muito em desuso neste nosso mundo
de flexibilidade e outras habilidades sociais”, como o
O autor entrou para a Escola Naval em 1960 e ain- apresentou o CALM Rui de Abreu.
da Guarda Marinha é imediato do DFE nº 10 na Guiné, O “Por Este Nome se Conhecem” é uma recolha mi-
onde regressa em 1971 para comandar a LFG LIRA. Co- nuciosa e comentada dos nomes, satíricos, irónicos, por
meça a dedicar-se ao estudo das “coisas do mar” durante vezes carinhosos com que passaram à história navios que em alguns casos
a sua Comissão como Capitão do Porto de Viana do Castelo, com a publi- são mais conhecidos pela alcunha …que pelo seu nome oficial.
cação a partir de 1983 de 12 artigos sobre “Naufrágios” no centenário “Au- Na capa uma fotografia da “Gina” ainda presente na memória de muitos,
rora do Lima”, e ainda um riquíssimo artigo sobre “Ex-Votos Marítimos”nos mas poderia ter sido uma representação do “Bérrio” da frota gâmica, que de
“CadernosVianenses” e um “Subsídios para a História da Construção Naval facto se chamava “S. Miguel”…
emViana do Castelo”. Após a apresentação da obra seguiu-se um pequeno beberete.
O livro está disponível na loja do Museu de Marinha.
Em 1989 ganha um prémio dos Anais do Clube Militar Naval em os “No- Recomenda-se a leitura!
vos Elementos para o Estudo da Viagem de 1500”.
Director Escolar do G1EA de 1985 a 1987, é promovido a CMG em (Colaboração da COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA)
1 de Junho de 1990. 2ª Com. da BNL, termina a sua carreira no activo
Comandante Oliveira Monteiro
aRevista da Armada, habitualmente,
não faz desenvolvidas notícias ne- A sua carreira prosseguiu na Marinha,
crológicas pela óbvia razão de que comandando vários navios e voltando a
são muitos os camaradas mais velhos que África para uma comissão em Angola, nos
anos de 1971 a 1973. Contudo, o destino
vão falecendo, deixando todos eles uma reservar-lhe-ia outro tipo de funções, quan-
marca indelével no coração dos camaradas do o final da guerra de África determinou
mais próximos e na Marinha onde serviram uma reorganização dos Fuzileiros e a sua
por muitos anos. Algumas têm sido as ex- preparação para as missões inerentes ao
cepções que se justificam pela notoriedade novo contexto político-militar. Os que vi-
dos desaparecidos, pelas circunstâncias e pelo papel especial que desem- veram esses conturbados tempos lembram-se da fase de transição que
penharam na transformação de instituições da Armada. O Capitão-de- ocorreu a partir de 1975, com a dissolução dos Destacamentos de Fuzi-
-Mar-e-Guerra Oliveira Monteiro foi Comandante do Corpo de Fuzileiros leiros Especiais e a preparação de uma nova organização do Corpo de
durante mais de dez anos, e tão prolongada comissão justificaria, só por Fuzileiros, virado para a execução de OperaçõesAnfíbias, no contexto das
si, uma referência especial, pela marca que inevitavelmente teria deixado alianças a que Portugal e a Marinha estavam vinculados. Foi nesta altura
num sector tão importante da Marinha. Mas a sua notoriedade não se fez que o Comandante Oliveira Monteiro assumiu o protagonismo próprio
apenas de uma longa comissão que cumpriu de forma dedicada. No ter- da vontade que teve em conduzir esta transformação. Seria injusto dizer
mo da cerimónia fúnebre do lançamento das suas cinzas ao mar, ocorrida que foi o único a compreender e abraçar as novas missões que espera-
a bordo do NRP “João Coutinho”, no passado dia 5 de Fevereiro, dizia o vam os fuzileiros, mas foi, sem dúvida, a figura mais determinante desse
Comandante Metelo Nápoles que a grandeza da homenagem, como a processo de mudança, nomeadamente como Comandante do Corpo de
que espontânea e voluntariamente foi dedicada ao Oliveira Monteiro, ex- Fuzileiros durante a década de 1982 a 1992.
primia bem a dimensão que ele assumira para a Marinha e especialmente Os que o conheceram sabem bem como viveu o seu amor aos fuzi-
para os Fuzileiros. Era verdade, e testemunhavam-no os muitos camaradas leiros, que comandou com um zelo e empenho emotivos muito fortes,
do curso D. João I, que o acompanharam até ao derradeiro momento em deixando uma marca profunda naquilo que eles são hoje. Os camaradas
que a filha, Mafalda, lançava as cinzas ao Oceano. do curso D. João I, que o conheceram desde cadete, estiveram com ele
O Comandante Oliveira Monteiro (o Chico Monteiro, como familiar- ao longo da vida e o acompanharam até ao último momento, expressa-
mente o designavam os camaradas do curso e outros amigos que o esti- ram muito bem o que era esta emotividade própria do “Chico”, que vivia
mavam) entrou para a Escola Naval em 1958, terminando o curso de Ma- com o “coração ao pé da boca”, transpirando a enorme paixão por tudo
rinha em 1962. Em 1964 concluiu o curso de Fuzileiro Especial, com o o que fez. Desde as matas da Guiné, onde ganhou uma Cruz de Guerra
posto de 2ºTenente, e, de imediato embarcou para a Guiné, como imedia- de 1º Classe, ao Corpo de Fuzileiros.
to do 9º Destacamento.A sua acção como combatente foi notável e reco- Uma doença prolongada que o obrigou a uma terapêutica violenta, a
nhecida pela condecoração com a Medalha Militar de Cruz de Guerra de par com os rigores do inverno deste ano, acabaram por lhe ceifar a vida no
1ª Classe, no termo de uma comissão em que o Destacamento mereceu o passado dia 20 de Janeiro. Momento doloroso em que a Marinha perdeu
louvor colectivo do Comandante da Defesa Marítima da Guiné. um filho prestigiado, a quem prestamos uma justa homenagem.
28 JUNHo 2010 • Revista da aRmada