Page 4 - Revista da Armada
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O cargo de Capitão do Porto

Mais de 4 séculos de Autoridade Marítima ao serviço de Portugal
                                   e das comunidades ribeirinhas
As origens do exercício da Autoridade
        Marítima em Portugal remontam ao            vedoria e pelo Meirinho dos Armazéns, por estes       dos entre officiais marinheiros do Arsenal.”, o que
        Séc. XVI, a alturas históricas em que       não poderem ser supridos da mesma forma que           representou, desde esse momento, há 208 anos,
foi exponencial o aumento dos navios de trans-      os das outras autoridades e “... porque tais visto-   uma ligação intrínseca entre os oficiais de Ma-
porte de cargas e, consequentemente, do trá-        rias são demoradas, principalmente nas ocasiões de    rinha e o exercício de funções de Autoridade
fego intercontinental de mercadorias. Por da-       frotas.”, onde a oportunidade e a dimensão dos        Marítima, que não mais deixaria de existir.
dos conhecidos, a 23 de Fevereiro de 1604, foi      serviços a prestar era, de facto, diferente.
declarada e confirmada, no Regimento do Paço                                                                Um dos primeiros elementos objectivos que,
da Madeira, a antiga criação do lugar de Patrão       Ainda através de outro Alvará Real de 1 de          em termos de pesquisa histórica, se pode en-
D´El Rei, ainda no Reinado de D. João III – que     Fevereiro de 1758, que instituiu o Despacho           contrar no sentido da institucionalização das
reinou até JUN1557 -, no Arsenal da Ribeira         de Largada de navios, se determinava que “...o        Capitanias dos Portos, já com terminologia e
das Naus, cargo que, mais tarde, por Decreto        Despacho devia ser precedido de prova de Certidão     estrutura próprias, é o Regulamento da Capitania
publicado no Regimento da Armada a 17 de Mar-       do Cirurgião-Mor da Armada, e também uma Cer-         do Porto de Lisboa de Junho de 1811, existindo
ço de 1674, viria a ser designado como de Pa-       tidão do Cosmógrafo Mor para permitir ao piloto       vários documentos de 1819 a 1826 que reve-
trão-Mor, tendo-lhes sido definidas obrigações      navegar.”, bem como nele se mandava que “...          lam como era encarado, proposto e provido o
e competências. O Serviço do Patrão-Mor viria       todos os procedimentos devem vigorar ao Passapor-     cargo de capitão do porto.
ser estruturado por Decreto de 12 de Agosto de      te Real emitido pela Secretaria de Estado...” desti-
1786 – e mais tarde por Decreto de 31 de Janei-     nando-se este a permitir a livre passagem dos           Tem-se notícia que a primeira nomeação de
ro de 1803 - existindo, em portos de menores        navios pelas Torres, ou seja, pelos limites de        um capitão do porto, ainda num formato em-
dimensões, o Guarda-Mor de Lastro.                  jurisdição da autoridade de Lisboa.                   brionário com um enquadramento de honra,
                                                                                                          terá ocorrido entre 1806 e 1808, para um dos
  O Patrão-Mor constitui, pois, desde o Séc. XVI,     Estabeleciam-se, ainda, “...obrigações para to-     portos do Sul, o que também pode ser retirado
a origem do exercício de uma função específica      dos os navios e embarcações que entrarem nos portos   indirectamente dos registos públicos existentes
construída para disciplinar a navegação e vis-      do Reino...” sendo que a distribuição das verbas      sobre entradas e saídas de navios dos portos – até
toriar as condições de navegabilidade dos na-       se operava, entre outros, “...para o Patrão-Mor,      de Lisboa -, de que existe documentação, em-
vios, estando-lhe cometidas, num núcleo fun-        Junta do Commercio, Escrivão da Provedoria, Mei-      bora dispersa, desde 1759. Defendem alguns
cional mais restrito, um conjunto de funções        rinho dos Armazéns, para o Guarda-Mor do Lastro,      autores que o aparecimento da figura se terá
no âmbito da segurança dos navios, tais como        Escrivão da Executoria do Conselho Ultramarino,       devido a uma revolta popular contra o general
promover e realizar visitas, exames e vistorias     Escrivão do Termo da Casa do Marco, e Escrivão        Junot, já então em Portugal, o que teria obri-
a navios e embarcações, e assegurar fundea-         do Guarda-Mor da Casa da Índia”. Mais tarde,          gado à existência de uma função do poder de
douros e querenas.                                  por Alvará e Decreto de 03 de Junho de 1793,          autoridade reforçada nalguns portos.
                                                    era concedido ao Patrão-Mor “...direito exclusi-
  O Alvará Real com força de Lei de 1 de Fevereiro  vo sobre as querenas dos navios.”.                      O certo é que a figura tem, marcadamente,
de 1758, quanto a serviços prestados nos portos,                                                          uma característica francesa.
excepcionava de serem inscritos num mesmo             Por Resolução do Conselho de 22 de Março de
Livro e Termo (como já ocorria desde 16 de Junho    1797, mandavam-se “...prover em Patrões-Mores           No sentido de se perceber um pouco me-
de 1751 com a publicação do Despacho do Taba-       os mais hábeis marinheiros da Armada, fazendo es-     lhor a influência francófona que terá existido na
co), e tal como era efectuado com os demais ser-    tes empregos vitalícios, e declarando que compete ao  criação do cargo, interessa apurar, no especial
viços, os exames pessoais a navios e embarcações    Conselho do Almirantado a nomeação dos serven-        enquadramento histórico-político que existia
efectuados pelo Patrão-Mor, pelo Escrivão da Pro-   tuários.”, tendo, ainda, sido determinado por         há pouco mais de dois séculos, que ambien-
                                                    Alvará Real de 15 de Novembro de 1802, que            te propiciou a institucionalização do cargo de
                                                    “...os Patrões-Mores devem ser propostos e escolhi-   capitão do porto, tornando-o numa figura mais
                                                                                                          abrangente e com uma estrutura funcional

4 AGOSTO 2010 • Revista da aRmada
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