Page 6 - Revista da Armada

Navio-Escola “Sagres”
Volta ao Mundo 2010
6ª PARTE
No dia 7 de Junho
chegámos ao porto
de San Diego nos
Estados Unidos da Améri-
ca. Nesta manhã soalheira,
o vento que se fazia sentir
era favorável às nossas in-
tenções. Assim, percorremos
a distância até ao cais com
todo o pano, mostrando or-
gulhosamente as Cruzes de
Cristo. No cais a multidão
era constituída por algumas
dezenas de pessoas, com
intenções bem distintas:
transeuntes que passavam
espontaneamente naquela
avenida marginal e que pa-
raram curiosos a contemplar
o espectáculo vélico; a comunicação social Mark Twain. Um pouco mais afastado, estava riormente, deparámo-nos com uma Comuni-
com a sua parafernália electrónica, captando o USS “Midway, um imponente porta-aviões dade Portuguesa de grande dimensão e bas-
o momento que iria reportar; os familiares que que esteve na Guerra do Golfo, agora transfor- tante organizada. A comunidade é constituída
viajaram de Portugal, com o intuito de apazi- mado em museu. A proximidade a estas len- maioritariamente por Portugueses de segunda
guar as saudades que cinco meses de viagem das da história marítima fez com que muitos e terceira geração.Todavia, e apesar de muitos
já alimentaram e, por fim, a comunidade por- dos seus visitantes viessem também visitar a deles nunca terem tido contacto com o país
tuguesa local, que se juntou para ver chegar o Barca. Aos olhares menos atentos, parecia que que viu nascer os seus antepassados, são or-
navio, que ao longe elevava a bandeira nacio- a “Sagres” figurava entre estas obras acabadas gulhosos defensores das tradições e costumes
nal de dezanove panos. A estes dois últimos da história marítima. Porém, o nosso livro está que lhes terão sido ensinados pelos pais. O
grupos, dedicámos esta entrada memorável em aberto e ainda faltam muitas páginas para orgulho de ter origens Portuguesas é uma ban-
com todo o pano. Aos primeiros, porque sabe- o final desta já longa história. deira que todos ostentam e mostram a quem
mos da sobrecarga de trabalho e responsabili- Enquanto alguns membros passavam os queira ver. Nesta comunidade, derivada so-
dade que lhes deixámos em Portugal ao em- dias em que permanecemos atracados nesta bretudo de Madeirenses e Açorianos, predo-
barcar nesta aventura. Aos segundos, porque cidade fronteiriça com os seus entes queri- minam os costumes de um Portugal insular;
são a razão de ser de parte da missão deste dos, recuperando forças para o resto da via- a United Portuguese – Sociedade do Espírito
navio. Por isso, esta homenagem singela que gem, os restantes elementos trabalharam com Santo, uma associação que zela continua-
lhes fizemos foi mais que merecida. mais afinco na preparação do navio. Fazendo mente pela preservação da cultura portugue-
Atracámos numa zona
nobre da cidade, junto sa em terras americanas,
do Maritime Museum. organizou uma festa de
Como “vizinhos” tivemos boas-vindas em nossa
a honra de ter navios em- honra que muito nos sen-
blemáticos, tais como o sibilizou.
“Star of Índia”, que osten-
ta pomposamente o título A 9 de Junho, a guar-
de “mais antigo veleiro nição da “Sagres” ficou
operacional do mundo quase completa. Os Ca-
com casco em ferro”, o detes do Curso “Padre
“Stars and Stripes”, que Fernando Oliveira” che-
venceu por quatro vezes garam de Lisboa, depois
a competição de vela de uma viagem de vinte
mais famosa do mun- e quatro horas, repletos
do, a America’s Cup, e o de vontade e entusiasmo
HMS “Surprise”, estrela para começar mais uma
de cinema, com o papel Apresentação dos Cadetes da Escola Naval ao Comandante. etapa das suas carreiras.
Quase completa porque
principal no filme Master and Commander. No o trabalho de dois homens ou mais, dignifi- infelizmente dois cade-
entanto, o espólio do Maritime Museum não caram o espírito de camaradagem e entre- tes não puderam efectuar a viagem, devido
era apenas composto por veleiros. Diversos ti- ajuda existente nesta guarnição, que tem au- a problemas com o visto para entrar em ter-
pos de navios marcavam presença neste mu- mentado a cada dia que passa, tendo sempre ritório americano. Problemas que foram pos-
seu: o submarino americano USS “Dolphin” presente a velha máxima “estamos todos no teriormente resolvidos, mas que no entanto
e o soviético B-39 representantes da Guerra mesmo barco”. inviabilizaram a viagem destes dois instruen-
Fria, assim como alguns iates a vapor que po- Em San Diego, a par daquilo que já vem dos para San Diego, adiando-a para Hono-
voam os livros do escritor norte-americano sendo hábito nos países que visitámos ante- lulu. Para além dos nossos cadetes, também
recebemos hospitaleiramente alguns cadetes

6 AGOSTO 2010 • Revista da aRmada