Page 17 - Revista da Armada
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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL

             Vice-Almirante
José Mendes Cabeçadas Júnior
José Mendes Cabeçadas Júnior nasceu a 19 de Agosto de 1883
    em Loulé. Ingressou na Escola Naval em Outubro de 1903,          essas as razões que o levaram a envolver-se nas revoltas militares
    como aspirante de Marinha, concluindo o curso em 1908, sen-      de 18 de Abril e 19 de Julho de 1925, sem sucesso, e na revolução
do promovido a guarda-marinha em Abril desse ano. De imediato        de 28 de Maio de 1926, que derrubou o regime. O pronunciamento
embarcou na canhoneira “Diu”, que integrou a Divisão Naval do        militar começou em Braga, comandado por Gomes da Costa, mas
Índico em Maio, e aí prestou serviço até Dezembro de 1909. Re-       assumiu vertentes múltiplas e por todo o país, que consubstanciam
gressado a Lisboa, em Janeiro de 1910, foi colocado no cruzador      diversos desagrados sobre a situação da República. Mendes Cabe-
“D. Carlos”, a que se seguiram a fragata “D. Fernando II e Glória,   çadas representava um grupo republicano liberal reformador que
e os cruzadores “Adamastor” e S. Rafael”. Foi neste último que       tinha a vantagem de estar em Lisboa e prestígio suficiente para as-
fez o necessário exame de 2º tenente, ascendendo a esse posto em     sumir a liderança da revolução. Era, acima de tudo, uma esperança
Setembro do mesmo ano.                                               para a manutenção do sistema republicano vigente, e isso levou a

  Cerca de um mês depois teriam                                                                         que o deposto Bernardino Machado
lugar os acontecimentos revolucio-                                                                      lhe legasse as funções constitucionais
nários que culminaram com a pro-                                                                        de Presidente da República. Porém,
clamação da República a 5 de Ou-                                                                        a evolução da situação político-mi-
tubro, e a acção do então tenente                                                                       litar não lhe seria favorável e, a 17
Mendes Cabeçadas seria decisiva.                                                                        de Junho, foi afastado pelos sectores
                                                                                                        mais conservadores representados
  Os fumos da revolução sentiam-                                                                        no movimento.
-se há vários dias, com toda a guar-
nição de Lisboa de prevenção e os                                                                         Não voltaria a desempenhar car-
três mais poderosos cruzadores                                                                          gos de natureza política, mas a Ma-
da Marinha fundeados no Tejo. O                                                                         rinha iria ainda beneficiar das suas
desencadear das operações devia                                                                         capacidades e competências no pro-
ocorrer na noite de 3 para 4 de Ou-                                                                     cesso de renovação, começado no
tubro, e o sinal da revolta seria dado                                                                  final da década de 20, que culmina
por uma salva da artilharia de um                                                                       com o estabelecimento do Arsenal
dos navios. Assim aconteceu a bor-                                                                      e da Base Naval na margem sul do
do do “Adamastor”, sublevado por                                                                        Tejo. Desempenhou as funções de
Mendes Cabeçadas na madrugada                                                                           Superintendente dos Serviços da
do dia 4. Foi sob o seu comando que                                                                     Marinha em 1928, a que se seguiram
o navio desceu o Tejo até Alcântara,                                                                    os cargos de Intendente do Arsenal
de onde bombardeou o Palácio das                                                                        de Marinha e de Presidente da Junta
Necessidades e embarcou pessoal                                                                         Autónoma das Obras do NovoArse-
do Quartel de Marinheiros, que foi                                                                      nal do Alfeite. Promovido a contra-
conduzido ao Terreiro do Paço, com                                                                      -almirante em 1930, foi o primeiro
o objectivo de atacar as instalações                                                                    Intendente do Arsenal do Alfeite,
do Arsenal e abrir uma nova frente                                                                      nomeado em 1933. E, com o posto de
contra as forças monárquicas, insta-                                                                    vice-almirante a que ascendera em
ladas no Rossio. A atitude decidida                                                                     Abril de 1937, viria a ser Intendente
e a forma como conduziu as operações mereceram-lhe a promo-                                             da Marinha do Alfeite e Presidente
ção por distinção ao posto de capitão-tenente.                       da Comissão Administrativa da Base Naval de Lisboa.
                                                                       Mantendo um pensamento livre e irreverente, facilmente se in-
  Foi eleito deputado em 1911, voltando a exercer esse cargo         compatibilizou com o regime emergente do 28 de Maio e, sobre-
político de 1915 a 17 e em 1921. Continuou, contudo, a sua car-      tudo, com a consolidação do Estado Novo. Logo em 1930 esteve
reira militar, como oficial, primeiro, do “S. Rafael” e, depois, do  ligado à criação da frente oposicionista, denominada por Aliança
“S. Gabriel” até concluir o “serviço de mar”, em Dezembro de         Republicana Socialista, cujo objectivo era apresentar-se em plebis-
1913. Seguiu-se uma longa comissão de serviço no Departamen-         cito frente à recém-criada União Nacional. Em 1955 integrou as
to Marítimo do Sul, exercendo o cargo de Capitão do Porto de         listas da Oposição Democrática, nas eleições para a Assembleia
Vila Real de Santo António durante cerca de cinco anos, com uma      Nacional e, em 1958, fez parte da Comissão de Honra da candida-
breve interrupção de funções entre Dezembro de 1917 e Fevereiro      tura de Humberto Delgado à Presidência da República. Lutador
de 1918, enquanto assumiu a responsabilidade de Governador           inconformado, foi o único oficial da Armada atingido pela vaga
Civil de Faro. Foi promovido a capitão-de-fragata em Agosto de       de saneamentos políticos que se seguiram à II Guerra Mundial,
1917 e a capitão-de-mar-e-guerra em Agosto de 1925, época em         obrigado a uma reforma compulsiva em 1947.
que desempenhou o cargo de comandante da Escola de Alunos              O Vice-almirante Mendes Cabeçadas foi agraciado, em 1926,
Marinheiros do Sul e prestou serviço na Direcção de Hidrogra-        com o grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, ocu-
fia, Navegação e Meteorologia Náutica.                               pando o cargo de vogal do conselho da referida Ordem entre 1946
                                                                     e 1953, data em que foi exonerado a seu pedido. Faleceu em Lis-
  A degradação da situação política nacional, sobretudo no rescal-   boa a 11 de Junho de 1965.
do da participação na Primeira Grande Guerra, motiva-o para um
crescente empenho na reforma do regime republicano, que culmina                                                                                      
numa pertinaz oposição ao radicalismo do Partido Democrático. São
                                                                                                                             (Colaboração da ESCOLA NAVAL)

                                                                                                      Revista da aRmada • NOVEMBRO 2010 17
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