Page 20 - Revista da Armada
P. 20
Evocação do Vice-Almirante Machado Santos
Nopassadodia
5 de Outu- como por membros da Comissão Nacio- fuzileiros e fanfar-
bro, no Alto nal para as Comemorações do Centenário ra. Após as honras
do Parque Eduardo da República. militares, seguiu-se
VII, junto à Bandeira uma alocução do
Nacional, realizou- A cerimónia foi presidida Chefe do Es- 2TEN Gonçalves
-se, pelas 12:30 ho- tado-Maior da Armada, Alm. Melo Go- Neves, que a seguir
ras, uma cerimónia mes, o qual foi recebido por uma guarda se transcreve, onde
de homenagem ao de honra composta por uma secção de foi evocada a acção
Almirante Machado do Comissário Na-
Santos, o “Herói da val Machado San-
Rotunda”, por oca- tos na implantação
sião das celebrações da República, com
do Centenário da destaque para o epi-
República. sódio dos combates
na Rotunda.
Presentes no local estiveram cerca de A fanfarra executou de seguida os to-
vinte familiares e descendentes do Almi- ques de silêncio, homenagem aos mortos
rante Machado Santos, acompanhados e alvorada, encerrando a cerimónia que,
por uma significativa representação das embora simples na execução, foi plena de
chefias da Marinha, composta por diver- significado ao homenagear uma das prin-
sos oficiais generais e superiores, assim cipais figuras da República.
“MACHADO SANTOS – O HERÓI DA ROTUNDA”
Às primeiras horas da madrugada de 4 de Comissário Naval Machado Santos. nistração naval. Desempenhando funções es-
Outubro de 1910, à frente de um grupo de re- Marinha aos 16 anos. Passados quatro anos é sencialmente administrativas, o seu espírito,
voltosos armados e após ter tomado o quartel promovido a comissário naval de 3ª classe, o contudo, não era por isso menos combativo.
de Infantaria 16, o Comissário Naval Machado primeiro posto da carreira de oficial de admi-
Santos dirige-se para a zona da Rotunda onde Cedo demonstra o seu descontentamen-
instala as peças de artilharia que haviam sido to perante o sistema governativo monárqui-
trazidas do quartel de Artilharia 1, entretanto co e a rotatividade política entre os Partidos
dominado pelas forças revolucionárias. Regenerador e Progressista, que pouca re-
novação e progresso traziam a um país cada
A partir da Rotunda, Machado Santos não vez mais distante dos seus pares europeus.
só controlava o acesso norte a Lisboa mas so- Situação agravada com a ditadura de João
bretudo dominava a Baixa da cidade, princi- Franco, imposta em 1907. Nesse mesmo ano,
pal reduto das forças fiéis à Monarquia, agora a publicação de um artigo no jornal O Radi-
sob a mira dos seus canhões. cal, em oposição frontal à ditadura franquis-
ta, fá-lo ser julgado em Conselho de Guerra,
Mesmo com a notícia da morte do Almi- sendo-lhe imposta uma comissão de serviço
rante Cândido dos Reis, o militar de mais em Angola.
elevada patente entre os revoltosos e o res-
ponsável pelo planeamento das operações, Finda a comissão, passados 6 meses, Ma-
e com o consequente abandono de boa parte chado Santos regressa de novo a Lisboa. As
daqueles que o haviam seguido até à Rotun- suas posições políticas eram agora bem co-
da, Machado Santos mantém-se indefectível nhecidas, assim como a sua vontade de lutar
na sua posição. pelos ideais republicanos, o que faz com que
seja abordado por figuras ligadas aos sec-
Esta era, aliás, uma das suas principais ca- tores mais radicais do Partido Republicano
racterísticas: a firmeza - nas suas convicções Português.
e nas suas atitudes. Mas também o eram o es-
pírito crítico e a vontade de agir. No ano seguinte, em 28 de Janeiro de 1908,
toma parte activa numa revolta organizada
Nascido em Lisboa no dia 10 de Janeiro de pelo Directório do Partido Republicano Por-
1875, num meio social modesto,António Ma- tuguês. O plano visava a libertação de vários
ria de Azevedo Machado Santos ingressa na
20 NOVEMBRO 2010 • Revista da aRmada
