Page 22 - Revista da Armada
P. 22

ACADEMIA DE MARINHA

XII Simpósio de História Marítima

Subordinado ao tema «A Formação da          nos espectadores, arrastando-os afinal à labo-  a pretensão de forçosamente encontrar res-
      Marinha Portuguesa. Dos Primórdios    riosa empresa das navegações…”.                 postas, era importante aprofundar o estudo
      ao Infante», decorreu nos dias 8 e 9                                                  deste período para melhor compreender os
                                              Referindo o potencial da nossa platafor-
de Novembro o XII Simpósio de História ma continental, o Almirante Vieira Matias antecedentes da época dos descobrimentos.
Marítima.                                   alertou para a necessidade de continuar a Na conferência de abertura, intitulada
A sessão de abertura foi presidida pelo “desenvolver a Marinha de Portugal, já que, “Raízes medievais da estratégia subjacen-
Chefe do Estado-Maior da Armada, Al- como dizia o sábio Padre Fernando de Oli- te à primeira expansão marítima portugue-
mirante José Carlos Saldanha Lopes. veira, “é necessário haver armadas no mar sa (século XIV)”, o presidente da Comissão
Nas palavras que proferiu, e após agrade- que guardem as nossas costas e paragens e Científica, Prof. Doutor Luís Adão da Fonse-
cer e saudar a presença do                                                                                              ca, começou por colocar o
Almirante CEMA, o Pre-                                                                                Fotos Júlio Tito  que considerou ser a gran-
sidente da Academia de                                                                                                  de questão – “porquê a ge-
Marinha disse que, para                                                                                                 ração do Infante D. Henri-
além do aprofundamen-                                                                                                   que?” Centrou a resposta
to da história da Marinha                                                                                               possível nas circunstâncias
Portuguesa de uma época                                                                                                 que ditaram as decisões
menos divulgada, era in-                                                                                                em três períodos bem de-
tento do Simpósio retirar                                                                                               terminados: - o reinado de
“da história desse período                                                                                              D. Dinis, que considerou
lições úteis para a Marinha                                                                                             ser o obreiro da decisão
de hoje. (…) A análise his-                                                                                             sobre o futuro de Portugal,
tórica de políticas e estra-                                                                                            numa perspectiva de espa-
tégias marítimas constitui                                                                                              ço, definindo em Alcani-
um verdadeiro laboratório                                                                                               ses as fronteiras terrestres
e até mesmo o único simu-     O Presidente da Academia de Marinha no uso da palavra.                                    e alargando ao mar o que

lador de estratégia”, disse oAlmirante Nuno nos assegurem dos sobressaltos que podem se pode considerar uma fronteira estratégica
Vieira Matias. De comum entre Marinhas tão vir pelo mar que são mais súbitos que os da de segurança – a meridional no Estreito de
afastadas no tempo, identificou “dois impor- terra”.                                        Gi­braltar, a setentrional no Canal da Mancha;
tantes factores que não mudaram (…): a geo- A terminar o seu discurso de abertura, o - o reinado de D. Fernando, em que a toma-
grafia do território continental e as pessoas, Presidente daAcademia de Marinha exortou da de consciência da vertente do mar leva
os homens. E se ambos, nessa altura, foram a assistência a aproveitar o Simpósio “para à celebração do Tratado de Westminster;
determinantes para que Portugal usufruísse ajudar a apoiar Portugal e a Marinha do seu - por fim, o reinado de D. João I, no período
do mar como factor genético da sua grande- futuro, tirando partido das ilações que reti- entre as primaveras de 1384 e 1386, em que
za, hoje, no século XXI, os factores de situa- rardes do passado”.                          se celebra o Tratado de Windsor, conclusão
ção podem, se nós quisermos, conduzir tam- Na introdução ao tema do Simpósio, o lógica de um processo diplomático cujo prin-
bém ao sucesso”. Citando Oliveira Marques, presidente da Classe de História Marítima, cipal objectivo era garantir a viabilidade da
lembrou como a posição geográfica e as ca- Prof. Doutor Francisco Contente Domin- independência nacional.
racterísticas culturais favoreceram “o encon- gues, disse que o tema escolhido reflectia A terminar, o orador realçou a importân-
tro de processos novos” de                                                                            cia da convenção marítima
diversa proveniência, per-                                                                            anexa àquele tratado, ga-
mitindo ao Português da-                                                                              rante da construção de uma
queles “séculos passados,                                                                             centralidade desenhada de
homem curioso das coisas                                                                              forma a consubstanciar na
do mar e de espírito aberto                                                                           retaguarda a salvaguarda
(…) aprender com outros o                                                                             daquela independência.
que era novidade, retirar as                                                                                            Subordinadas a subte-
sua ilações, construir o seu                                                                          mas, e seguidas de deba-
próprio acervo de conheci-                                                                            te, as comunicações apre-
mento e pô-lo em prática por                                                                          sentadas ao longo dos dois
esses mares fora”.                                                                                    dias de trabalhos seguiram
Relembrou ainda Olivei-                                                                               o programa do Simpósio.
ra Martins, na sua História                                                                                             Assim, o subtema “Na-
de Portugal, chamando a                                                                               vios e Arte de Navegar”
atenção para a actualidade    Prof. Doutor Contente Domingues.      Prof. Doutor L. Adão da Fonseca.  constou da apresentação

do texto citado: “Quando à Europa humi- a necessidade de um reajustamento face à das comunicações “A Marinha no reinado
lhada o castelhano impõe a lei com a espada temática dos anteriores simpósios, um de- de D. Fernando” e “A Actividade Marítima
e o mosquete, nós, amarrados ao banco dos dicado à estratégia, outro ao mar no futu- Portuguesa nos séculos XII a XIV”, pelos Co-
remeiros, segurando o leme, ferrando as ve- ro de Portugal, e nove situados em aconte- mandantes António Costa Canas e José Ro-
las, alargamos mar em fora a nau” e, mais cimentos dos séculos XV e XVI, justificado drigues Pereira, respectivamente.
adiante, “Portugal é um anfiteatro levantado pela propensão legítima de se privilegiar o No subtema “Marinha de Guerra” foram
em frente do Atlântico, que é uma arena. A estudo da nossa época de ouro. A terminar apresentadas as comunicações “O Atlânti-
vastidão do circo desafia e provoca tentações disse que, embora não tenham os simpósios co. A última fronteira do Homem Medieval

22 JANEIRO 2012 • REVISTA DA ARMADA
   17   18   19   20   21   22   23   24   25   26   27